Arqueólogos fizeram uma descoberta impressionante durante escavações realizadas nas proximidades da fronteira entre a Alemanha e a Suíça: vestígios de uma antiga via romana foram encontrados, reacendendo o interesse pela cidade de Augusta Raurica — um dos mais notáveis exemplos de urbanismo romano ao norte dos Alpes. A intervenção ocorreu como parte de obras para a construção de três edifícios residenciais, e acabou se transformando em uma verdadeira viagem ao passado.
A análise das ruínas revelou elementos fundamentais da infraestrutura urbana romana, além de detalhes sensíveis e tocantes da vida cotidiana daquele período — incluindo sepulturas infantis e uma elegante escultura de bronze em forma de pantera.
Augusta Raurica
Localizada próxima à atual cidade de Basileia, na Suíça, Augusta Raurica foi criada por volta de 44 a.C. e se destaca como uma das cidades romanas mais bem conservadas ao norte da cadeia alpina. O sítio arqueológico é um dos mais extensos e significativos da região, atraindo historiadores, turistas e estudiosos que buscam compreender melhor a organização das cidades no auge do Império Romano.
Durante as recentes escavações, os arqueólogos encontraram uma estrada de quase quatro metros de largura, ladeada por sistemas de drenagem e passarelas com colunas. Esse tipo de estrutura demonstra não apenas o esmero técnico dos romanos, mas também um elevado grau de planejamento urbano voltado para o conforto e funcionalidade.
Construções variadas revelam contrastes sociais
Além da via principal, o terreno revelou vestígios de várias construções. Uma edificação robusta feita de pedra com um porão preservado chamou a atenção pela imponência. Próximo a ela, outras estruturas mais modestas, feitas de madeira, foram identificadas, sugerindo que a cidade abrigava diferentes classes sociais convivendo lado a lado — algo comum nos centros urbanos do império.
Esses elementos reforçam a ideia de Augusta Raurica como uma cidade plural, viva, onde o comércio, a vida doméstica e a religiosidade coexistiam num cenário vibrante e diversificado.
Poços, tumbas e rituais
As escavações também trouxeram à tona poços revestidos com pedras, localizados nos pátios de antigas residências. Ainda não há consenso se essas estruturas serviam como reservatórios, depósitos ou latrinas. No entanto, o que realmente chamou a atenção dos arqueólogos foi a presença de sepulturas infantis nos quintais dessas casas.
Segundo os especialistas, era prática comum na época enterrar crianças pequenas dentro do perímetro doméstico, especialmente quando faleciam muito jovens. Essa escolha refletia uma relação íntima entre a família e os pequenos mortos, além de revelar o alto índice de mortalidade infantil no mundo romano. Pequenas tumbas como essas são registros silenciosos, porém poderosos, de uma realidade social frequentemente ignorada.
Estatueta de bronze representa uma pantera e intriga os arqueólogos
Entre os diversos artefatos localizados, uma peça se destacou: uma pequena escultura de bronze representando uma pantera. A estatueta, de acabamento refinado, possivelmente fazia parte de um altar doméstico ou servia como item decorativo. Animais como a pantera tinham forte simbolismo na mitologia romana, muitas vezes associados a Dionísio (Baco), o deus do vinho e das celebrações, sugerindo a presença de crenças religiosas e rituais no cotidiano das famílias de Augusta Raurica.
O achado foi comunicado oficialmente pelo Departamento de Educação, Cultura e Esporte do Cantão de Argóvia, responsável pela supervisão do sítio arqueológico.
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