Arqueólogos russos anunciaram em dezembro de 2025 a descoberta de uma estrutura de pedra subaquática ao largo da costa sudoeste da Crimeia, em Sevastopol, que pode pertencer à antiga colônia grega de Quersoneso.
A formação, com cerca de 23 metros de comprimento e 10 metros de largura, emerge parcialmente em terra e se estende para o Mar Negro. Liderada por Vladimir Glazunov, da Universidade de Mineração de São Petersburgo, a expedição sugere que a estrutura fazia parte do sistema defensivo da cidade ou de uma instalação hidráulica para gerenciar a linha costeira. Essa revelação adiciona camadas à compreensão de uma das mais antigas colônias gregas no Mar Negro, fundada por volta de 422 a.C. por colonos de Heracleia Pôntica.
Quersoneso, cujo nome grego significa “península”, ocupava uma posição estratégica nas rotas comerciais do Mar Negro, servindo como posto de observação e local de exílio para figuras históricas como o papa Clemente I, o papa Martinho I e o imperador bizantino Justiniano II. A cidade prosperou sob influências gregas, romanas, hunas e bizantinas, o que resultou em uma arquitetura diversificada, incluindo muralhas extensas de herança bizantina.
Registros indicam que ela entrou em declínio após um saque mongol em 1299, com a última menção em fontes bizantinas datando de 1396, sugerindo um abandono gradual pouco depois. As ruínas foram identificadas em 1827 pelo governo russo e, desde 2013, o sítio é classificado como Patrimônio Mundial da UNESCO, atraindo visitantes interessados em sua preservação.
As escavações recentes complementam achados anteriores, como fragmentos de cerâmica medieval, um elemento de decoração arquitetônica em mármore e um recipiente de pedra calcária usado para beber. Esses itens, em bom estado de conservação, destacam a continuidade de ocupação do local do período helenístico ao medieval.
Em setembro de 2025, pesquisadores ucranianos e poloneses identificaram uma cabeça de estátua de mármore encontrada há duas décadas como representando Laodice, uma figura do século II a.C. que negociou a liberdade de sua cidade natal. Além disso, em dezembro de 2024, análises conectaram um sítio de cremação a sepulturas locais, revelando fibulas, remendos e pingentes de metal semelhantes aos usados em rituais funerários.
O território de Quersoneso abrange vários quilômetros quadrados de antigas terras agrícolas conhecidas como “choras”, hoje estéreis, mas que outrora sustentavam vinhedos cujos produtos eram exportados via o porto da cidade. Escavações nessas áreas desenterraram prensas de uvas, torres de defesa e sistemas de irrigação, evidenciando uma economia baseada na agricultura e no comércio.
O sítio inclui edifícios públicos, bairros residenciais, monumentos cristãos primitivos e vestígios de assentamentos da Idade da Pedra e do Bronze. Fortificações romanas e aquedutos preservados ilustram adaptações tecnológicas para o ambiente peninsular. As sepulturas, investigadas em detalhes, seguem práticas gregas padrão, com enterros individuais marcados por pedras simples, decoradas apenas com faixas e símbolos de armas, sem estátuas elaboradas.
Apesar de sua riqueza histórica, Quersoneso enfrenta ameaças crescentes. O crescimento urbano em Sevastopol, com expansão de residências e comércios, pressiona o perímetro do sítio. Relatórios de outubro de 2025 documentaram a remoção ilegal de mais de 140 artefatos por forças russas, elevando preocupações sobre a integridade do local em meio a disputas territoriais na Crimeia.
Especialistas também alertam para os impactos da erosão costeira, agravada pela elevação do nível do mar, que pode comprometer futuras escavações e estruturas subaquáticas como a recém-descoberta. Em junho de 2024, observadores relataram destruição de um cemitério romano por construções não autorizadas, destacando a urgência de medidas de proteção coordenadas.
A preservação de Quersoneso continua a depender de colaborações internacionais, apesar das tensões geopolíticas. Como um dos sítios mais bem conservados do mundo helenístico, ele oferece insights valiosos sobre a expansão grega e as interações culturais no Mar Negro. As descobertas recentes reforçam seu valor como recurso educacional e turístico, mas sublinham a necessidade de salvaguardas ambientais e legais para garantir que futuras gerações possam estudar e visitar esse testemunho da antiguidade.




