A cultura maia, uma das civilizações mais fascinantes da história, continua surpreendendo a humanidade com descobertas que revelam sua complexidade e organização. Entre os anos 2.000 a.C. e 1.697, os maias ocuparam territórios que hoje correspondem a Guatemala, México, Belize e partes de Honduras e El Salvador.
Apesar da queda de sua última cidade, Nojpetén, em 1697, os vestígios de sua civilização permanecem como um tesouro arqueológico inestimável. Recentemente, em Campeche, no México, uma descoberta acidental trouxe à tona uma cidade maia perdida, chamada Valeriana, revelando nada menos que 6.674 estruturas ocultas pela densa vegetação.
A descoberta só foi possível graças à tecnologia LIDAR (Laser Imaging Detection and Ranging), que permite escanear grandes áreas de terreno, detectando estruturas cobertas por florestas. Este artigo explora os detalhes dessa fascinante descoberta, a importância da tecnologia LIDAR e como ela está revolucionando a arqueologia.
Valeriana foi encontrada em um estudo que, inicialmente, não tinha como foco a arqueologia. Em 2013, um consórcio de cientistas realizou levantamentos LIDAR na região para monitorar o carbono das florestas mexicanas. Anos depois, arqueólogos decidiram analisar os dados e descobriram sinais de uma antiga civilização escondida. Entre as ruínas, foram identificadas pirâmides semelhantes às de Chichén Itzá e Tikal, além de milhares de outras estruturas, como residências e estradas.
Segundo Luke Auld-Thomas, principal autor do estudo e professor da Universidade do Norte do Arizona, a descoberta foi um marco. “Antes, nosso conhecimento da civilização maia era baseado em algumas centenas de quilômetros quadrados. Agora, temos uma amostra muito maior e mais rica”, afirmou. Valeriana era uma cidade próspera que, entre 750 e 850 d.C., abrigava entre 30 mil e 50 mil pessoas.
O LIDAR revolucionou a arqueologia, especialmente em regiões cobertas por florestas tropicais. Com sua capacidade de escanear grandes áreas e identificar anomalias no terreno, a tecnologia permite localizar estruturas que seriam invisíveis a olho nu. Antes do LIDAR, arqueólogos dependiam de trabalho manual exaustivo, cortando vegetação para explorar pequenos trechos de terra. Agora, áreas vastas podem ser mapeadas em poucos dias, economizando tempo e recursos.
No caso de Valeriana, o LIDAR revelou uma “paisagem maia antiga, povoada e urbana”. Os dados mostraram não apenas uma cidade densamente habitada, mas também áreas rurais e assentamentos menores, evidenciando a diversidade e a complexidade da civilização maia.
Valeriana se destacava por sua organização urbana e monumentalidade. No centro, grandes pirâmides indicam a presença de templos ou palácios, enquanto ao redor, havia residências e áreas agrícolas. Uma das principais características da cidade era sua proximidade com uma antiga estrada, que facilitava o transporte e a comunicação com outros assentamentos.
A descoberta também trouxe à tona a interação entre os habitantes modernos e as ruínas. “Encontramos uma grande cidade com pirâmides perto de uma aldeia onde as pessoas cultivam ativamente entre as ruínas há anos”, relatou Auld-Thomas. Isso demonstra como as marcas da civilização maia ainda fazem parte do cotidiano de comunidades locais.
A descoberta de Valeriana amplia significativamente o conhecimento sobre os maias e sua organização social. Ela evidencia que as cidades não eram apenas centros urbanos isolados, mas faziam parte de uma rede interconectada de assentamentos, com estradas e infraestrutura que facilitavam o comércio e a comunicação.
Além disso, a descoberta reforça a ideia de que a civilização maia era altamente adaptada ao ambiente. Apesar dos desafios impostos pelas florestas tropicais e planícies calcárias, os maias construíram cidades complexas, aproveitando os recursos naturais disponíveis.
Embora a descoberta de Valeriana seja impressionante, os arqueólogos acreditam que há muito mais a ser encontrado. Segundo Auld-Thomas, a área explorada é apenas uma fração do que pode estar escondido sob a vegetação de Campeche. “Não encontramos tudo, há muito mais para descobrir”, afirmou o pesquisador.
Esse potencial para novas descobertas reforça a importância de investir em tecnologias como o LIDAR, que têm o poder de transformar o campo da arqueologia. Com mais estudos e levantamentos, será possível desvendar outros segredos da civilização maia, ampliando nosso entendimento sobre seu legado.
Com 25 anos de experiência no jornalismo especializado, atua na produção de conteúdos de arqueologia, livros, natureza e mundo.