China corta frigoríficos americanos e brasileiros podem vender mais

China suspende compras de carne dos EUA em meio a tensões comerciais; Brasil monitora brechas para ampliar exportações ao mercado chinês

A China suspendeu temporariamente a compra de carne bovina de mais da metade dos fornecedores dos Estados Unidos, em meio ao aumento das tensões comerciais entre os dois países.

O Ministério da Agricultura do Brasil acompanha a movimentação com atenção, diante da possibilidade de ampliar a presença da carne brasileira no mercado chinês. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem viagem marcada à China em maio, onde se reunirá com o presidente Xi Jinping.

Segundo dados obtidos pela Folha, atualmente 654 empresas norte-americanas estão autorizadas a exportar carne bovina para o mercado chinês. No entanto, 392 dessas companhias, cerca de 60%, tiveram suas exportações suspensas pela Administração-Geral de Aduanas da China. A medida ocorre em um contexto de reforço nos controles sanitários e é interpretada também como reflexo da atual guerra tarifária entre os dois países.

Além da carne bovina, os vetos chineses passaram a alcançar fornecedores de carne de aves e suínos. Nas últimas duas semanas, nove empresas norte-americanas tiveram suas autorizações expiradas sem renovação. Entre elas, estão nomes relevantes no setor, como American Proteins, Mountaire Farms of Delaware e Coastal Processing.

A Administração Geral das Alfândegas da China justificou a decisão como uma ação preventiva: “A fim de evitar riscos à segurança alimentar na origem, de acordo com as leis e regulamentos chineses relevantes e os padrões internacionais, decidiu-se suspender a exportação desses produtos”, declarou o Departamento de Segurança Alimentar de Importação e Exportação.

O governo chinês afirma que são medidas “científicas, razoáveis e em conformidade com normas internacionais”.

De acordo com dados atualizados até 18 de junho, há 68 fornecedores norte-americanos com habilitações prestes a vencer. Entre eles, estão 10 empresas de carne bovina, 11 de carne suína e 47 de carne de aves, que precisarão solicitar nova autorização caso desejem manter suas atividades com a China.

Por ora, o foco principal das suspensões chinesas recai sobre a carne bovina. No segmento de carne suína, apenas 10 das 590 empresas habilitadas estão com exportações suspensas. Já no setor avícola, das 594 empresas registradas, apenas três estão temporariamente impedidas de negociar com o país asiático.

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O cenário internacional tem se mostrado volátil. As bolsas de valores da Ásia e da Europa registraram forte alta nesta quinta-feira (10), após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma suspensão de 90 dias nas tarifas para dezenas de países.

A China, no entanto, ficou de fora da trégua. Pelo contrário, Washington aumentou as tarifas aplicadas ao país asiático, de 104% para 125%, como resposta às medidas retaliatórias adotadas por Pequim, que por sua vez impôs uma tarifa de 84% sobre produtos norte-americanos.

A Embaixada do Brasil em Pequim acompanha de perto os desdobramentos. Ainda que o governo chinês justifique as suspensões com base em critérios técnicos e sanitários, interlocutores brasileiros avaliam que as decisões não estão desvinculadas do atual conflito comercial entre Pequim e Washington.

Nos bastidores, representantes do agronegócio brasileiro têm buscado estreitar laços com autoridades e empresas chinesas. Um deles é Roberto Perosa, ex-secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, que participou de encontros recentes com membros do Ministério do Comércio da China, da aduana local e de empresas do setor de alimentos.

“As conversas foram muito positivas. As autoridades reiteraram que o Brasil é visto como parceiro estratégico, que as relações estão no melhor momento, e reforçaram a expectativa para a visita do presidente Lula a Pequim”, afirmou Perosa.

A China permanece como o principal destino da carne bovina brasileira. Em 2024, o país importou mais de 1 milhão de toneladas do produto vindo do Brasil, representando um crescimento de 12,7% em relação ao mesmo período de 2023. Os embarques geraram aproximadamente US$ 6 bilhões em receitas.

Entre os principais itens exportados pelo Brasil, a carne bovina ocupa o quarto lugar, atrás apenas da soja, do minério de ferro e do petróleo. Entre janeiro e março deste ano, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), o Brasil vendeu US$ 1,36 bilhão em carne bovina para a China, alta de 11,3% na comparação com o primeiro trimestre de 2023.

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Diante das mudanças no cenário internacional, o setor brasileiro de carnes observa com atenção o vácuo deixado pelos fornecedores norte-americanos, visualizando um possível aumento da participação no mercado chinês nos próximos meses.

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