Pela primeira vez, o Cepon, em Florianópolis, realizou uma cirurgia de reconstrução de membro inferior para tratar osteossarcoma, permitindo a preservação da perna do paciente. Avanço é marco no tratamento oncológico pelo SUS em Santa Catarina.
Em um marco histórico para a saúde pública de Santa Catarina, o Centro de Pesquisas Oncológicas (Cepon), em Florianópolis, realizou com sucesso a sua primeira cirurgia de reconstrução de membro inferior em um paciente diagnosticado com osteossarcoma, um dos tumores ósseos mais agressivos e comuns entre crianças e adolescentes.
O procedimento, considerado de alta complexidade, foi conduzido com recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) e evitou a amputação do membro afetado.
A realização da cirurgia, além de representar um avanço técnico, também reforça o compromisso do Cepon com a oferta de tratamentos oncológicos de ponta, humanizados e acessíveis. A preservação da perna do paciente traz não apenas benefícios clínicos, mas um impacto direto na autoestima, na qualidade de vida e no processo de reabilitação.
Osteossarcoma, tumor ósseo agressivo que exige atenção precoce
O osteossarcoma é o câncer ósseo mais prevalente entre jovens de 10 a 20 anos, idade em que os ossos apresentam crescimento acelerado. O tumor atinge principalmente os ossos longos, com destaque para o fêmur e a tíbia, sobretudo na área próxima ao joelho, responsável por cerca de 80% dos casos.
O diagnóstico precoce é essencial, pois o osteossarcoma evolui rapidamente e pode comprometer a função motora do paciente em curto prazo. Sintomas como dores persistentes nos ossos, inchaço e limitação de movimentos devem ser avaliados por especialistas o quanto antes.
Cirurgia com endoprótese, alternativa à amputação e ganho em qualidade de vida
A técnica empregada na cirurgia realizada pelo Cepon envolveu a substituição total do fêmur, além da articulação do joelho e do quadril, utilizando uma endoprótese biarticulada, uma estrutura metálica feita sob medida para o paciente.
Segundo o coordenador do setor de ortopedia do Cepon, Dr. Elcio Madruga, o maior benefício da técnica é justamente a preservação do membro acometido.
“A possibilidade de manter a perna permite que o paciente caminhe com mais autonomia e dignidade. A amputação em um nível tão elevado demandaria adaptações muito mais severas e uso de próteses de difícil manuseio”, afirmou.
A cirurgia durou cerca de quatro horas e meia. O paciente foi submetido a sessões de quimioterapia e recebeu alta médica apenas dez dias após o procedimento, com boa evolução no quadro clínico.
Tratamento humanizado e inovação no SUS catarinense
Para além do feito técnico, a cirurgia marca um importante passo do Cepon no oferecimento de um atendimento oncológico integral.
A instituição mantém uma ala dedicada a adolescentes e jovens adultos, conhecida como AJAS (Ala de Jovens e Adolescentes), onde o acolhimento, o cuidado contínuo e o suporte emocional são pilares do tratamento.
De acordo com o diretor-geral do Cepon, Marcelo Zanchet, esse modelo de atendimento visa não apenas curar, mas também cuidar. “Trabalhamos para oferecer o melhor em abordagem terapêutica, mas também para garantir que cada paciente se sinta respeitado, acolhido e compreendido. Isso faz toda a diferença, especialmente para os mais jovens”, destacou.
Embora cirurgias desse tipo já sejam realizadas em outros centros do Brasil, esta foi a primeira vez que o Cepon realizou o procedimento em solo catarinense. Isso significa, na prática, que pacientes da região agora têm acesso local a esse tipo de tratamento, evitando longos deslocamentos para outros estados.
O Cepon já se destaca como referência estadual em oncologia, e a realização dessa cirurgia posiciona a instituição como uma nova alternativa no campo da ortopedia oncológica. A expectativa é que, com a consolidação da técnica, mais pacientes possam ser beneficiados nos próximos anos.
A importância do SUS na democratização do acesso à saúde especializada
Esse tipo de intervenção, que em clínicas particulares pode ultrapassar centenas de milhares de reais, foi realizado integralmente pelo Sistema Único de Saúde. Isso reforça o papel fundamental do SUS como garantidor do direito à saúde, mesmo em casos de alta complexidade.
O avanço simboliza um importante passo rumo à equidade no acesso a tratamentos de ponta. “Essa conquista é de toda a sociedade catarinense. Estamos mostrando que é possível oferecer medicina de excelência, gratuita e humanizada”, finalizou o Dr. Madruga.
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