Com a adaptação do livro Cem Anos de Solidão, pela Netflix, um turbilhão de artigos sobre a obra-prima do autor colombiano tem surgido.
Gabo, o apelido familiar de Gabriel García Márquez, raramente era pronunciado durante o período de criação da obra monumental. Isso para não distraí-lo em sua tarefa de escrever. Também, não quer dizer que não era lembrado, num misto de preocupação e curiosidade de seus familiares.
García Márquez, um dos maiores nomes da literatura mundial, viveu meses de intensas transformações durante o processo de criação de sua obra-prima, Cem Anos de Solidão.
Em uma rotina rigorosa e de isolamento absoluto, o autor colombiano enfrentou desafios pessoais e financeiros para dar vida à história da família Buendía e de Macondo, a aldeia fictícia que se tornou símbolo do realismo mágico.
Em 1965, García Márquez decidiu se dedicar integralmente ao romance que revolucionaria a literatura latino-americana. Ele optou por um isolamento quase total, transformando um pequeno quarto em sua casa do México, onde vivia com a esposa, Mercedes Barcha, e seus dois filhos, em um refúgio criativo. Esse período foi marcado por uma disciplina extrema e uma dedicação que quase o levou à exaustão.
Em um quarto simples com janela, contendo apenas uma mesa, uma cadeira, a máquina de escrever e folhas, García Márquez escrevia diariamente, em sessões que podiam durar mais de 10 horas ininterruptas. Tudo o que ele precisava estava ali. Sua mente criativa era seu maior ativo.
Começava logo pela manhã, após um café forte e um breve momento de introspecção. O autor mantinha o hábito de reler trechos do que havia escrito no dia anterior para retomar o ritmo narrativo, ajustando detalhes e mergulhando novamente no universo que criava.
A dieta de García Márquez durante esse período refletia sua condição financeira limitada. Mercedes Barcha assumiu a responsabilidade de manter a família enquanto o escritor se dedicava exclusivamente ao livro. Com isso, as refeições eram simples e frugais, geralmente consistindo em arroz, feijão, ovo e algum acompanhamento econômico. Ele também recorria ao café e cigarros para sustentar sua energia durante as longas jornadas de escrita.
O autor acreditava que a organização de sua rotina era essencial para manter a produtividade. Após horas ininterruptas de trabalho, fazia pausas curtas para caminhar pela casa ou fumar, refletindo sobre os rumos da história. Mesmo em momentos de descanso, sua mente permanecia conectada ao universo de Macondo.
García Márquez evitava distrações externas, raramente saindo de casa ou recebendo visitas. Mercedes foi seu pilar de apoio, lidando com as cobranças financeiras e incentivando o marido a não desistir, mesmo quando as dificuldades pareciam insuperáveis.
Os meses de isolamento e sacrifício culminaram na criação de uma obra monumental. Publicado em 1967, Cem Anos de Solidão não apenas consolidou a carreira de Gabriel García Márquez como um dos grandes escritores do século XX, mas também transformou a literatura mundial, trazendo o realismo mágico ao centro das atenções.
Apesar das dificuldades enfrentadas, García Márquez considerava esse período de enclausuramento como um dos mais intensos e gratificantes de sua vida. Sua dedicação inabalável à arte de contar histórias é uma lição de persistência e paixão, inspirando gerações de escritores e leitores ao redor do mundo.