No coração da península de Pelješac, na Croácia, uma caverna silenciosa guardava, há milênios, os vestígios de gerações inteiras. Agora, graças aos esforços da equipe dos Museus de Dubrovnik, esse silêncio começa a falar. A Caverna Crno Jezero — ou “Lago Negro” — acaba de revelar uma sequência impressionante de ocupações humanas que atravessam nada menos que quatro milênios, entre a Idade do Bronze e a Idade Média.
Com seus 236 metros de extensão e 90 metros de profundidade, esse corredor subterrâneo próximo à vila de Ponikve mostrou-se um verdadeiro cofre arqueológico. Entre as camadas de sedimentos e estalactites, os pesquisadores encontraram fragmentos de vida, morte, crença e conflito — tudo isso moldado pelas civilizações que, ao longo do tempo, fizeram da caverna um espaço de abrigo, rituais e memória.
A ocupação da Crno Jezero remonta ao segundo milênio antes de Cristo, período em que a caverna era usada de maneira esporádica. Arqueólogos sugerem que ela servia de refúgio em épocas de instabilidade ou de condições climáticas adversas. Esses primeiros sinais indicam um uso pontual, mas estratégico: abrigo contra inimigos e tempestades.
Com o passar do tempo, a função do local se transformou radicalmente. Entre os séculos IX e VI a.C., o espaço passou a ser usado como cemitério. Ossadas humanas enterradas nas cavidades revelam práticas funerárias recorrentes, com o interior da caverna funcionando como local sagrado de repouso final.
Um santuário ilírio no coração da rocha
O uso mais marcante do sítio arqueológico parece ter ocorrido nos séculos anteriores à Era Cristã, quando comunidades ilírias converteram a caverna em um verdadeiro santuário religioso. Os arqueólogos encontraram vasos cerâmicos em miniatura, possivelmente de origem grega ou produzidos localmente, depositados como ofertas votivas — objetos rituais deixados como símbolo de devoção.
Ao lado dessas oferendas, surgiram artefatos inesperados: ânforas e taças gregas usadas para vinho, objetos raros no cotidiano dos ilírios. Esses recipientes, importados e refinados, indicam que o local não apenas tinha valor espiritual, mas também funcionava como um símbolo de prestígio social. A presença desses itens sugere a prática de rituais desconhecidos envolvendo vinho, talvez com forte carga simbólica ou de iniciação.
Mistérios medievais
Já no período medieval, por volta do século XIII, os arqueólogos descobriram fragmentos de esqueletos humanos em profundezas ainda maiores da caverna. Essa fase final de uso da Crno Jezero ainda é envolta em dúvidas. Seriam esses restos fruto de sepultamentos deliberados? Ou estariam relacionados a acidentes, pessoas que entraram nas estreitas passagens e não conseguiram sair?
Sem uma resposta definitiva, os pesquisadores continuam investigando. Mas o que já se sabe é suficiente para firmar a importância histórica e arqueológica do local.
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