A vida do casal Marino e Noemia Finckler, moradores da área rural de Marechal Cândido Rondon, no Oeste do Paraná, mudou radicalmente há sete anos, quando decidiram deixar para trás o trabalho em granjas de porcos e embarcar em uma nova jornada: a piscicultura. Com a ajuda do programa RenovaPR, que incentiva o uso de energia solar no campo, eles conseguiram reduzir custos, aumentar a produção de tilápias e se manter na área rural, criando uma fonte de renda estável e sustentável.
Depois de quase três décadas dedicadas à suinocultura, o casal Finckler decidiu que era hora de uma mudança. Cansados do trabalho pesado e com Noemia sofrendo de uma lesão na coluna, eles resolveram buscar uma alternativa mais viável para continuar vivendo no campo. A resposta veio na forma de uma “chacrinha”, como chamam carinhosamente o pedaço de terra onde hoje criam tilápias.
Inicialmente, Marino planejava investir em bovinos, mas foi aconselhado pelos vizinhos a mudar de ideia e apostar em algo mais promissor. “O povo falava ‘não comece com vaca que isso não dá certo’ e nos incentivaram a começarmos com piscicultura”, relembra o produtor.
Um dos principais desafios enfrentados pelos pequenos produtores rurais é o custo elevado da energia elétrica, especialmente em atividades como a piscicultura, que demandam um consumo energético elevado para manter a água dos tanques em condições ideais para o crescimento dos peixes. A solução encontrada pelo casal foi o programa RenovaPR, iniciativa do Governo do Paraná que oferece financiamento com juros zero para a instalação de placas solares em propriedades rurais.
Com o financiamento aprovado, Marino e Noemia instalaram 96 placas solares, o que reduziu drasticamente a conta de energia elétrica e permitiu que eles aumentassem a produção de tilápias sem que os custos se tornassem proibitivos. “Se não tivesse as placas, acho que não ia ser viável ter peixe. O custo da luz é muito alto, não daria certo”, explica Marino. Com a energia solar, a economia foi tão grande que o casal viu a oportunidade de expandir a criação de tilápias, atingindo novos patamares de produção.
Antes de aderirem ao RenovaPR, Marino e Noemia gastavam em torno de R$ 2 mil por mês com a conta de luz, mas a produção de tilápias era muito menor do que a atual. Agora, com dois tanques que comportam até 65 mil peixes simultaneamente, o casal teria uma conta de energia que variaria entre R$ 7 mil e R$ 8 mil mensais, se não fosse pela instalação das placas solares. Graças ao financiamento de R$ 165 mil obtido com juros zero, a parcela anual do pagamento das placas é de apenas R$ 16,5 mil, uma economia de cerca de 80%.
A redução nos custos de energia permitiu que a produção fosse ampliada. “Naquela época, quando não tínhamos as placas, eram poucos peixes. Agora eu tenho bem mais. No calor, chego a gastar 10 mil quilowatts no mês”, explica Marino, que atualmente paga apenas a taxa da rede elétrica, em torno de R$ 19 mensais. Com a energia solar cobrindo quase todo o consumo da piscicultura, o casal pôde direcionar seus recursos para aumentar a produção e investir em novos equipamentos.
A redução de custos com energia também possibilitou que o casal investisse em tecnologias para automatizar a piscicultura. Além das placas solares, eles adquiriram um gerador de energia, que protege a produção contra eventuais quedas de luz, e sondas para monitorar os níveis de oxigênio nos tanques. Essas sondas acionam automaticamente os aeradores, que garantem que a água esteja sempre oxigenada, crucial para o bem-estar dos peixes.
A automação vai além: todo o sistema pode ser controlado pelo celular, o que facilita o manejo dos tanques e otimiza o trabalho diário. Com essas inovações, Marino e Noemia conseguiram aumentar a produtividade, sem aumentar proporcionalmente os custos operacionais.
“Se fosse pagar energia, não poderia usar muitos aeradores, porque o gasto seria muito alto. Com as placas, colocamos mais aeradores e aumentamos a produção de peixes. Enquanto estamos pagando as placas, temos que ajustar o orçamento, mas depois que terminar de pagar, será ainda melhor”, comenta Marino.
Apesar dos benefícios da piscicultura, o inverno é um período de atenção redobrada para o casal Finckler. Embora Marechal Cândido Rondon seja uma região de clima quente, as temperaturas caem significativamente durante o inverno, o que pode afetar o crescimento e a saúde dos peixes.
A produção de alevinos, que ocorre entre novembro e abril, depende de condições climáticas favoráveis. Nos dias mais frios, os peixes consomem menos ração e ficam menos ativos, o que exige um manejo cuidadoso para evitar perdas. “No inverno é complicado. A água fica muito fria e, se bobear, tratando os peixes com muita ração, pode acabar matando alguns deles”, explica Marino. Por isso, o casal prefere o calor, já que os peixes crescem mais rápido e os riscos são menores.
A piscicultura, especialmente a produção de tilápias, é uma atividade em expansão no Paraná, estado que já é o maior produtor de peixes do Brasil. A região Oeste, onde fica Marechal Cândido Rondon, concentra boa parte dessa produção. No primeiro semestre de 2024, o Paraná foi responsável por abastecer tanto o mercado interno quanto o externo, com destaque para as exportações de tilápias para os Estados Unidos.
Dados da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab) mostram que o estado gerou um Valor Bruto da Produção (VBP) de R$ 1,08 bilhão em piscicultura no ano de 2023, sendo que 52,7% desse valor veio da região Oeste. Marechal Cândido Rondon, onde Marino e Noemia vivem, é uma das principais cidades produtoras do estado.
A adoção de energias renováveis, como a energia solar, tem se mostrado um fator transformador para a piscicultura no Paraná. Com o apoio do RenovaPR, pequenos e médios produtores estão conseguindo reduzir significativamente seus custos operacionais e aumentar sua produção, o que fortalece a cadeia produtiva local e torna o estado um líder nacional no setor.
Além dos benefícios econômicos, a adoção de placas solares e outras tecnologias sustentáveis está alinhada com as metas de preservação ambiental, garantindo que a produção de peixes seja eficiente e sustentável a longo prazo. O casal Finckler é um exemplo de como o uso da tecnologia e o apoio de políticas públicas podem transformar a vida no campo, permitindo que os produtores rurais continuem gerando renda sem abrir mão de sua qualidade de vida.