Algumas histórias parecem ter sido feitas para serem contadas e, entre as tranquilas paisagens da Tri Fronteira, onde Brasil e Argentina se encontram, uma amizade especial desperta a atenção de quem passa pelo Lago Internacional.
Todos os dias, Pedro Vanini, um aposentado de 77 anos e ex-funcionário da empresa de transportes Reunidas, leva dois quilos de alimentos ao lago, onde vive uma capivara de aproximadamente 80 quilos, única e solitária habitante desse ambiente aquático. Ela se tornou um símbolo local, e Pedro a trata com tanto zelo e cuidado que a relação entre os dois já é conhecida entre os moradores e visitantes da região.
Há dois anos e sete meses, Pedro assumiu o papel de cuidador da capivara, que apareceu no lago aparentemente sem companhia. Contou ao Jornal da Fronteira que, desde então, sua presença diária se tornou uma rotina, e ele leva alimentos naturais como mandioca, batata-doce e milho-verde para nutrir o animal, respeitando sua dieta na natureza.
Sua dedicação faz com que a capivara o reconheça e, em uma demonstração tocante de carinho e confiança, ela se aproxima nadando sempre que o vê, pronta para receber o alimento que Pedro oferece. Esse encontro diário entre o homem e o animal selvagem atrai olhares curiosos e admirados de quem passa pela área, muitos dos quais registram o momento em fotos e vídeos.
O Lago da Tri Fronteira é um ponto de encontro simbólico entre as cidades de Barracão, no Paraná, Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina, e Bernardo de Irigoyen, Misiones, na Argentina. É uma área natural que, apesar de sua simplicidade, tornou-se um ponto turístico e cultural, especialmente devido à presença da capivara, que vive solitária nesse espaço. Com o tempo, o animal se tornou um símbolo das cidades gêmeas e, ao lado de Pedro Vanini, compõe uma imagem de harmonia entre o homem e a natureza.
Pedro conta que desde o início se encantou pela capivara, vendo nela uma forma de retribuir ao mundo animal. Antes de se aposentar, Pedro admitiu que costumava caçar; no entanto, ao longo dos anos, desenvolveu uma conexão profunda com os animais, hoje dedicando seu tempo para alimentar e proteger tanto a capivara quanto cerca de 50 passarinhos que visitam sua casa diariamente para serem alimentados. Esse cuidado constante mudou sua visão, e ele agora busca preservar e oferecer uma nova vida aos animais.
A relação de Pedro com a capivara do Lago da Tri Fronteira é envolvente. Ele relata que, nos dias em que esteve viajando, foi sua filha quem assumiu a responsabilidade de alimentar o animal, e até mesmo sua esposa o acompanhou em algumas visitas ao lago.
Em um gesto de carinho, ele e outras pessoas do local construíram um ninho para a capivara, garantindo que ela tenha um refúgio seguro. E a capivara parece reconhecer esse cuidado, vindo ao seu encontro assim que percebe sua presença.
A popularidade da capivara também se reflete nas redes sociais, onde vídeos e fotos do animal, especialmente em momentos ao lado de Pedro, viralizaram entre internautas. Com o tempo, o carinho da população pelas visitas de Pedro e pela rotina da capivara só cresceu, levando alguns moradores e visitantes a contribuírem eventualmente com alimentos. Mesmo assim, é Pedro quem assume o compromisso diário, comprando os vegetais por conta própria e dedicando parte de seu dia para estar com o animal.
A história da capivara e de seu cuidador se tornou parte da identidade local, atraindo não só a curiosidade, mas também gestos de carinho dos visitantes e moradores.
Pedro conta que, enquanto alimenta a capivara, as pessoas param para observar, fotografar e interagir com o animal. Muitos se encantam com a docilidade da capivara e a tranquilidade com que aceita o carinho de Pedro. Em uma ocasião marcante, ele lembra que duas visitantes de Santo Antônio do Sudoeste se emocionaram ao ver o animal de barriga para cima, se deixando acariciar com confiança.
Infelizmente, nem todas as interações foram positivas. Pedro recorda, com tristeza, um episódio em que encontrou a capivara ferida, com um profundo corte no focinho causado por um facão. Naquele momento, ele temeu pela vida do animal, mas a capivara demonstrou resiliência, superando o ferimento e continuando sua vida no lago. Esse acontecimento reforçou em Pedro a determinação de cuidar dela e de protegê-la, tornando o vínculo entre os dois ainda mais forte.
Para Pedro, alimentar a capivara é mais do que uma simples tarefa; tornou-se uma forma de encontrar propósito e paz em seu cotidiano. A aposentadoria trouxe tempo livre, mas também a oportunidade de estabelecer uma rotina em prol de outro ser vivo, criando uma relação que, para ele, traz um sentimento de dever cumprido e de amor.
Todos os dias, ao caminhar até o lago, ele vê a capivara esperando, e esse encontro diário o motiva, o conecta à natureza e o faz sentir que seu cuidado e presença são essenciais para o bem-estar daquele animal.
A capivara não é apenas um animal para Pedro, mas também um símbolo de transformação pessoal. Ela representa a mudança de alguém que um dia foi caçador para alguém que hoje preserva e cuida. Esse carinho é extensivo não só à capivara, mas também aos pássaros que frequentam o lago, aos quais ele oferece alimento com o mesmo cuidado. Para ele, cada grão e pedaço de mandioca entregues aos animais são uma forma de retribuição, um modo de respeitar a vida.
A relação entre Pedro Vanini e a capivara do Lago da Tri Fronteira é única e, ao mesmo tempo, universal. Ela reflete o poder da empatia e da compaixão em transformar o cotidiano, criando uma conexão que ultrapassa as barreiras entre humanos e animais.
Muitos que visitam o lago veem no aposentado uma figura de inspiração, alguém que, em sua simplicidade, demonstra valores de cuidado e respeito pela vida, valores que são fundamentais para qualquer sociedade.
Os visitantes que presenciam essa amizade deixam o lago tocados e inspirados, e a própria cidade abraçou essa história como parte de sua identidade. A imagem de Pedro alimentando a capivara se tornou emblemática, lembrando a todos que pequenas ações podem criar um grande impacto, especialmente quando realizadas com dedicação e carinho. Para muitos, a história de Pedro e da capivara é um lembrete da importância de cuidar da natureza e dos seres que dela fazem parte.