Estudo revela canibalismo entre caçadores-coletores há 18.000 anos

Uma descoberta chocante na Caverna Maszycka, no sul da Polônia, revelou que o canibalismo era uma prática comum entre caçadores-coletores que viviam na região há aproximadamente 18.000 anos. Uma nova análise de 63 fragmentos ósseos, datados do período cultural Magdaleniano, mostrou que 70% dos ossos apresentavam marcas de corte consistentes com a extração de cérebro e medula óssea, partes altamente nutritivas do corpo humano. A pesquisa, conduzida por uma equipe de arqueólogos espanhóis e poloneses, sugere que o canibalismo era uma resposta a condições extremas de escassez de alimentos e competição por recursos durante o final da última Era Glacial.

Os ossos, escavados ao longo de décadas na caverna, foram submetidos a uma análise detalhada utilizando microscopia tridimensional. Os pesquisadores identificaram marcas de cortes deliberados e fraturas intencionais, indicando que a carne humana era consumida como fonte de nutrição. “A localização e a frequência das marcas de corte e a fratura intencional do esqueleto mostram claramente a exploração nutricional dos corpos, descartando a hipótese de tratamento funerário sem consumo”, explicou Francesc Marginedas, principal autor do estudo e pesquisador do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social (IPHES-CERCA).

A prática do canibalismo entre os Magdalenianos, que dominaram a Europa entre 17.000 e 12.000 anos atrás, não era isolada. Evidências semelhantes foram encontradas em outros sítios arqueológicos da Europa, sugerindo que o comportamento era parte integrante da cultura desses grupos. Os pesquisadores acreditam que o aumento populacional após o Último Máximo Glacial, combinado com a competição por recursos limitados, pode ter levado a conflitos violentos e, consequentemente, ao canibalismo como uma medida extrema de sobrevivência.

Apesar do tabu moderno contra o canibalismo, a prática parece ter sido uma resposta pragmática a tempos desesperados. A análise dos ossos revelou que a extração de medula óssea e cérebros ocorria logo após a morte, indicando uma prática rotineira e não ritualística. “Vários fatores apoiam a possibilidade de canibalismo de guerra entre grupos magdalenianos”, escreveram os pesquisadores. “O aumento nas populações de caçadores-coletores está diretamente ligado às restrições impostas pela capacidade de suporte do ambiente, o que leva a um estado de tensão de recursos e dá origem a tensões intergrupais.”

A Caverna Maszycka, explorada há mais de 120 anos, continua a fornecer insights valiosos sobre a vida pré-histórica. Além dos restos humanos, a caverna já revelou ferramentas de pedra e ossos de animais, destacando sua importância como um sítio arqueológico chave. A descoberta recente reforça a complexidade das sociedades pré-históricas e as duras realidades que enfrentavam em um mundo em transformação após a última Era Glacial.

Enquanto os pesquisadores continuam a estudar os vínculos entre os sítios canibais na Europa, a Caverna Maszycka permanece um testemunho fascinante das estratégias de sobrevivência adotadas por nossos ancestrais em um período de extrema adversidade.