Entre as incontáveis peculiaridades do reino animal, há uma que costuma surpreender até os mais atentos observadores da natureza: os cangurus não conseguem andar para trás. Essa limitação, que parece simples à primeira vista, revela uma fascinante combinação de fatores anatômicos, evolutivos e funcionais que moldaram o modo como esses marsupiais vivem, se locomovem e sobrevivem no desafiador ambiente australiano.
Anatomia que dita o movimento
A principal razão para essa curiosa limitação está na estrutura corporal do canguru. Eles possuem pernas traseiras extremamente musculosas, longas e potentes — perfeitas para o impulso para frente. Contudo, essa potência vem acompanhada de rigidez nas articulações do quadril e do joelho, o que restringe o movimento reverso.
Além disso, suas caudas grossas e fortes funcionam como uma espécie de “terceira perna” de apoio. Elas servem de contrapeso durante os saltos e ajudam na estabilidade quando o animal está parado ou se movendo lentamente. Essa estrutura, porém, dificulta qualquer tentativa de se deslocar para trás, pois o movimento exigiria uma flexibilidade que simplesmente não existe em seus músculos e articulações.
Evolução e eficiência energética
Do ponto de vista evolutivo, o canguru nunca precisou andar para trás. Nos amplos campos australianos, a necessidade era percorrer longas distâncias em busca de alimento e água, sempre à frente. A natureza, eficiente como é, aprimorou apenas o que era necessário: o salto.
O deslocamento em saltos longos é energeticamente vantajoso. Estudos científicos mostram que, quanto mais rápido o canguru salta, menos energia ele gasta proporcionalmente — uma vantagem evolutiva notável. Isso se deve ao armazenamento de energia elástica nos tendões das pernas, que funcionam como molas naturais. Em vez de andar, o canguru literalmente quica pela vida.

Não por acaso, o canguru foi escolhido como símbolo nacional da Austrália. Sua incapacidade de andar para trás representa uma metáfora poderosa: um país que sempre segue em frente, olhando para o futuro. A imagem do canguru está presente no brasão nacional, nas moedas e em diversas campanhas governamentais, reforçando a ideia de progresso constante.
Curiosamente, o emblema australiano também traz outro animal que compartilha a mesma característica: o emu, uma grande ave nativa que também não consegue andar para trás. Juntos, esses dois símbolos são a tradução perfeita da filosofia australiana de avanço e superação.
Cangurus, saltos e curiosidades
Os cangurus pertencem à família Macropodidae, que significa literalmente “pés grandes”. Existem mais de 60 espécies, variando em tamanho e habitat. O canguru-vermelho, por exemplo, é o maior deles, podendo atingir até 2 metros de altura e saltar mais de 9 metros em um único impulso.
Outro fato curioso é que eles são excelentes nadadores — e, surpreendentemente, conseguem se mover para trás dentro da água. O ambiente aquático oferece resistência suficiente para permitir que suas pernas se movam de forma diferente, algo impossível em terra firme.
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