No coração histórico de Roma, onde cada camada do solo revela fragmentos de civilizações que moldaram o Ocidente, uma nova descoberta arqueológica chamou a atenção de especialistas e apaixonados pela Antiguidade. Sob a Via Alessandrina, uma movimentada rua da capital italiana, foi encontrada uma imponente cabeça de mármore, aparentemente parte de uma estátua monumental que atravessou milênios sepultada entre tijolos e argamassa medievais.
O achado ocorreu durante trabalhos de escavação destinados a remover uma estrutura moderna que atravessa e separa os fóruns imperiais de Augusto, Trajano e Nerva. No processo, arqueólogos se depararam com a escultura encoberta por restos de construções da Idade Média, revelando não apenas sua beleza clássica, mas também o fato intrigante de que foi reutilizada como material de construção séculos depois de sua criação.
Símbolo de um império
A cabeça esculpida em mármore branco impressiona por suas proporções e traços realistas. Datada do período do imperador Trajano, que governou o Império Romano entre os anos 98 e 117 d.C., a peça teria feito parte de uma estátua instalada nas imediações do Porticus Trisigmentata, uma colunata grandiosa do Fórum de Trajano, adornada por colunas monolíticas com 12 metros de altura. O próprio cenário da descoberta sugere que, com a decadência do Império, a escultura foi reaproveitada — provavelmente de forma pragmática — em uma construção medieval, possivelmente sem a menor noção do valor histórico que carregava.
A prática de reutilizar elementos arquitetônicos e escultóricos da Roma antiga foi comum durante a Idade Média. Muitos artefatos foram incorporados a igrejas, muros e casas, servindo mais como pedra disponível do que como obra de arte. No caso desta cabeça colossal, a camada de argamassa e tijolos que a envolvia é um testemunho direto desse processo de adaptação e sobrevivência da matéria, mesmo em tempos de ignorância sobre seu valor original.
Quem era a figura representada?
Ainda não se sabe quem era o personagem representado pela escultura. As feições severas, a barba esculpida com precisão e o semblante nobre levantam hipóteses entre os estudiosos. Poderia se tratar de um deus romano, como Júpiter ou Netuno, de um magistrado de alto escalão ou até mesmo do próprio imperador Trajano. Até o momento, as evidências são insuficientes para uma identificação definitiva, o que apenas reforça o mistério e o fascínio em torno da obra.
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Apaixonada pela literatura brasileira e internacional, Heloísa Montagner Veroneze é especialista na produção de conteúdo local e regional, com ênfase em artigos sobre livros, arqueologia e curiosidades.