Instituto Butantan fecha acordo com empresa dos EUA para avançar em vacina de mRNA contra a raiva; tecnologia poderá permitir aplicação em dose única.

Butantan aposta em RNA mensageiro para modernizar vacinação contra a raiva

Instituto Butantan fecha acordo com empresa dos EUA para avançar em vacina de mRNA contra a raiva; tecnologia poderá permitir aplicação em dose única.

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O Instituto Butantan, em São Paulo, firmou um acordo de licenciamento de tecnologia e colaboração com a Replicate Bioscience, empresa sediada em San Diego, na Califórnia, para o desenvolvimento e a comercialização de uma vacina de RNA mensageiro chamada RBI-4000, destinada à profilaxia pré e pós-exposição contra a raiva, doença infecciosa transmissível entre humanos e animais. Diferentemente dos imunizantes convencionais, vacinas baseadas em RNA mensageiro utilizam material sintético que orienta o sistema imunológico a identificar e combater o agente infeccioso.

A raiva, quando não tratada, apresenta taxa de mortalidade superior a 99%, podendo ser evitada com vacinação adequada antes que o vírus alcance o sistema nervoso central. Os imunizantes utilizados atualmente exigem de três a cinco doses, e no Brasil a recomendação é de quatro aplicações. Segundo o diretor do Butantan, Esper Kallás, a expectativa é de que a nova vacina possa ser aplicada em dose única.

Ele afirma que, mesmo com duas doses, o avanço já seria significativo, uma vez que parte das dificuldades da profilaxia pós-exposição está relacionada ao retorno do paciente para completar o esquema vacinal. A RBI-4000 já passou por um estudo clínico de fase 1 conduzido pela Replicate nos Estados Unidos, no qual demonstrou alta imunogenicidade, bioatividade prolongada mesmo em baixas doses e segurança em 89 voluntários avaliados. A próxima etapa será a realização de um estudo clínico no Brasil, previsto para 2026, com cerca de 600 voluntários, abrangendo cenários de pré e pós-exposição ao vírus da raiva.

De acordo com Esper Kallás, o objetivo é avaliar a eficácia de doses ainda mais baixas, estudar esquemas vacinais alternativos e reduzir o número total de aplicações necessárias. O acordo amplia a capacidade do Instituto Butantan de incorporar tecnologias avançadas à sua linha de desenvolvimento e abre novas oportunidades para criação de imunizantes com essa plataforma. Pelos termos estabelecidos, o instituto será responsável pelos ensaios clínicos de registro da nova vacina antirrábica e, havendo sucesso, pela comercialização no Brasil e na América Latina. A Replicate transferirá o processo de fabricação para a unidade de produção de vacinas de mRNA do Butantan e responderá pela comercialização nos demais mercados.

O diretor do Butantan destacou que a parceria reforça o papel do instituto como polo de inovação e pesquisa. Segundo ele, a fábrica de RNA mensageiro, atualmente em fase final de construção, permitirá maior autonomia na produção de vacinas tanto para o país quanto, eventualmente, para outros mercados internacionais. Ele afirmou ainda que a adoção dessa tecnologia pode servir de base para o futuro desenvolvimento de vacinas contra diferentes agentes infecciosos utilizando a mesma plataforma.

A raiva é endêmica em mais de 150 países e provoca cerca de 59 mil mortes por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde. A doença integra o roteiro da OMS para o controle global de enfermidades tropicais negligenciadas no período de 2021 a 2030. Nos Estados Unidos, a agência federal Food and Drug Administration inclui a raiva na lista de doenças tropicais negligenciadas, no âmbito da Lei de Curas do Século 21, que busca acelerar pesquisas e aprovações de novas terapias.

Instituto Butantan fecha acordo com empresa dos EUA para avançar em vacina de mRNA contra a raiva; tecnologia poderá permitir aplicação em dose única.
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