No dia 6 de dezembro de 1912, arqueólogos alemães liderados por Ludwig Borchardt fizeram uma descoberta que marcaria a história da arqueologia: o busto de Nefertiti, a rainha do Egito e esposa do faraó Akhenaton.
Encontrado no estúdio do escultor Thutmose em Tell el-Amarna, o busto de calcário e estuque é considerado uma das obras mais icônicas do Egito Antigo. No entanto, desde sua descoberta, essa peça de 47 centímetros de altura tem sido motivo de disputas sobre propriedade e repatriação.
O busto foi encontrado em uma oficina modesta em Tell el-Amarna, antiga capital criada por Akhenaton, faraó que promoveu o atonismo, possivelmente a primeira religião monoteísta do mundo. A equipe de Borchardt estava explorando o local com apoio de James Simon, um colecionador de arte alemão que financiou a expedição.
O momento da descoberta foi descrito com entusiasmo por Borchardt: “As ferramentas foram colocadas de lado, e as mãos agora eram usadas. Demorou um tempo considerável até que toda a peça fosse completamente libertada de toda a sujeira e entulho.”
A escultura chamou atenção pela perfeição técnica e beleza, retratando Nefertiti com a famosa coroa azul e feições detalhadas. Borchardt escreveu em seu diário: “Trabalho absolutamente excepcional. A descrição é inútil, deve ser vista.”
Na época, era comum que achados arqueológicos fossem divididos entre o país de origem e os patrocinadores da escavação. No entanto, documentos obtidos pela revista Der Spiegel sugerem que Borchardt utilizou estratégias questionáveis para assegurar que o busto fosse enviado para a Alemanha. Relatos indicam que ele teria apresentado uma fotografia pouco lisonjeira do artefato e mantido a peça em uma sala mal iluminada durante as inspeções, minimizando sua importância.
Em 1913, o busto foi transportado para a Alemanha, onde James Simon o doou aos Museus Estatais de Berlim em 1920. Desde então, a escultura tem sido exibida no Neues Museum, com breves interrupções, como durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi protegida em uma mina de sal.
A questão de quem deveria ser o legítimo dono do busto de Nefertiti tem gerado debates por mais de um século. O Egito sustenta que a peça foi retirada ilegalmente, enquanto as autoridades alemãs afirmam que a transação seguiu os costumes da época. Zahi Hawass, renomado arqueólogo e ex-ministro do Egito, é um dos principais defensores da repatriação. Segundo ele, o busto “saiu do Egito ilegalmente” e deveria retornar ao seu país de origem.
Nos anos 1920, parecia que um acordo entre Alemanha e Egito estava próximo, mas Adolf Hitler teria recusado a devolução, fascinado pela escultura. Desde então, o Egito adotou diversas medidas para pressionar a Alemanha, incluindo a recusa em conceder licenças de escavação a arqueólogos alemães.
Nefertiti, cujo nome significa “a bela chegou”, foi uma das figuras mais influentes do Egito Antigo. Junto com Akhenaton, ela desempenhou um papel central na revolução religiosa que promoveu o culto exclusivo ao deus Aton. O busto é um dos poucos artefatos que retratam sua imagem com detalhes, tornando-o uma peça de inestimável valor histórico e cultural.
A disputa pelo busto de Nefertiti reflete um debate mais amplo sobre a repatriação de artefatos arqueológicos. Muitos países argumentam que suas riquezas culturais foram retiradas durante períodos de colonização e deveriam ser devolvidas. A Alemanha, por sua vez, destaca que as transações foram feitas de acordo com os regulamentos da época e que o busto é parte de seu patrimônio histórico.
O caso de Nefertiti é frequentemente comparado ao dos mármores do Partenon, mantidos no Museu Britânico, e à Pedra de Roseta, exibida no mesmo local. Esses artefatos geram questões éticas e legais sobre o papel dos museus como guardiões da história.
Por enquanto, o busto permanece no Neues Museum, exibido em uma sala austera que destaca sua imponência. Sua permanência em Berlim, no entanto, não extinguiu os debates. O caso continua a atrair atenção de especialistas, políticos e do público em geral, simbolizando as tensões entre o direito à preservação histórica e a soberania cultural.
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