Desde os primeiros contos orais até os grandes romances contemporâneos, as bruxas ocupam um lugar singular na literatura. Elas representam medo, sabedoria, rebeldia, poder e, muitas vezes, tudo isso ao mesmo tempo. Longe de serem apenas vilãs, essas personagens atravessaram séculos refletindo conflitos sociais, visões sobre o feminino e a eterna tensão entre conhecimento e autoridade. Ao longo da história literária, algumas bruxas se destacaram não apenas por suas habilidades mágicas, mas pela profundidade simbólica que carregam.
Circe
Imortalizada na Odisseia, de Homero, e reinterpretada em romances modernos, Circe é uma das bruxas mais antigas da literatura ocidental. Seu poder vai além da transformação física, como quando converte homens em animais. Circe domina o conhecimento das ervas, da magia e da natureza, simbolizando uma força feminina autônoma em um mundo dominado por heróis masculinos. Na literatura contemporânea, ela ganha novas camadas, sendo retratada como uma mulher que aprende a exercer seu poder em meio ao exílio e à rejeição.
Granny Weatherwax
Ela é uma das bruxas centrais da série Discworld (Mundo Disco), do escritor Terry Pratchett.
A personagem aparece principalmente em livros como Ritos Iguais, Bruxas de Verdade, Lords and Ladies e Maskerade.
Granny Weatherwax é considerada uma das bruxas mais poderosas da literatura não por feitiços espetaculares, mas pelo domínio absoluto da “headologia”, uma forma de controle psicológico, moral e social. Seu poder está na inteligência, na ética rígida e na capacidade de impor ordem sem recorrer à magia quando não é necessário — o que a torna uma das bruxas mais respeitadas e temidas da ficção.
A Bruxa Má do Oeste
Em O Mágico de Oz, de L. Frank Baum, a Bruxa Má do Oeste personifica o medo absoluto. Sua presença domina a narrativa mesmo quando não está em cena, um exemplo claro de como o poder pode ser psicológico. Embora seja derrotada de forma aparentemente simples, sua influência molda toda a jornada de Dorothy. Com o passar dos anos, releituras literárias deram à personagem novas motivações, questionando a natureza do bem e do mal.
Melisandre
Na série As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin, Melisandre é uma sacerdotisa que transita entre magia e religião. Seus poderes incluem visões proféticas, controle do fogo e rituais capazes de alterar o destino de reinos inteiros. O que a torna uma das bruxas mais poderosas da literatura é sua convicção absoluta de estar certa, mesmo quando suas ações levam à destruição. Melisandre encarna o perigo do fanatismo aliado ao poder sobrenatural.

Hermione Granger
Entre as bruxas mais influentes da literatura moderna, Hermione Granger, da série Harry Potter, representa um novo arquétipo. Seu poder não vem de dons inatos, mas do estudo, da disciplina e da inteligência. Hermione redefine o papel da bruxa ao mostrar que o verdadeiro poder está no domínio do conhecimento e na coragem de questionar estruturas injustas. Sua evolução ao longo da série a transforma em uma das personagens femininas mais marcantes da literatura juvenil.

Tituba
Livro: “Eu, Tituba: Bruxa Negra de Salem”, de Maryse Condé (1986). Tituba é uma personagem histórica e literária recriada em um romance adulto, denso e político. Condé reconstrói a vida da mulher negra acusada de bruxaria nos julgamentos de Salem, dando a ela voz, consciência e poder simbólico.
As bruxas de Macbeth
As três bruxas criadas por William Shakespeare em Macbeth são talvez algumas das figuras mais influentes da literatura mundial. Elas não lançam feitiços diretos, mas manipulam o destino por meio da palavra. Suas profecias desencadeiam uma cadeia de ambição, traição e morte. O verdadeiro poder dessas bruxas está na sugestão, na capacidade de plantar ideias que corroem a mente humana, tornando-as símbolos eternos da manipulação psicológica.
Conclusão
Essas personagens mostram que o poder das bruxas na literatura não se limita à magia. Ele se manifesta no conhecimento, na palavra, na fé, no medo e na capacidade de desafiar normas estabelecidas. Ao longo dos séculos, as bruxas evoluíram de figuras demonizadas para personagens complexas, que refletem dilemas humanos universais.
LEIA MAIS: George Orwell além de 1984: os livros que revelam a origem de sua obsessão pelo poder




