O avanço econômico dos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) tem impulsionado discussões sobre alternativas financeiras que reduzam a dependência do dólar nas transações comerciais globais.
Uma das ideias mais debatidas recentemente é a criação da chamada BRICS Moeda, um mecanismo de pagamento que visa facilitar as negociações entre os países-membros sem a necessidade de conversão para o dólar.
Por que criar uma nova moeda?
Atualmente, o dólar é a principal moeda utilizada no comércio internacional e domina os fundos de reserva globais. No entanto, essa dependência traz desafios significativos, como as oscilações cambiais e a forte influência dos Estados Unidos nas decisões econômicas mundiais.
Para construir um cenário financeiro mais multipolar, o BRICS tem defendido a ampliação do uso de moedas nacionais, além da possibilidade de um novo sistema de pagamentos próprio.
Diferente do modelo adotado na União Europeia com o euro, a proposta não envolve a criação de uma moeda única, mas sim um mecanismo de pagamento baseado nas moedas locais de cada país-membro. A conversão seria feita a partir de um cálculo médio ponderado, reduzindo a necessidade de conversões cambiais constantes.
Desafios para implementação
Apesar do entusiasmo de alguns setores econômicos, a criação da BRICS Moeda enfrenta obstáculos significativos. A integração financeira e política necessária para viabilizar a moeda ainda está longe de ser alcançada entre os países do bloco.
Além disso, há forte resistência externa, especialmente por parte dos Estados Unidos. O ex-presidente Donald Trump chegou a ameaçar impor tarifas de importação de 100% caso o BRICS avançasse com essa ideia.
O Brasil, que assumiu a presidência rotativa do bloco em 2015, se manifestou de maneira cautelosa sobre o tema. Segundo o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Mauricio Lyrio, a criação de uma moeda comum não está na pauta prioritária do grupo devido à complexidade do processo.
“Não há acordos sobre o tema, pois trata-se de uma questão altamente complexa. São economias muito grandes e diversas, o que torna a implementação bastante desafiadora. No momento, estamos focados em outras formas de reduzir os custos de operação entre os países-membros”, afirmou Lyrio.
Alternativas ao dólar dentro do BRICS
Ainda que a criação de uma moeda comum seja um desafio de longo prazo, os países do BRICS já avançam em estratégias para reduzir sua dependência do dólar.
Um dos principais focos é a ampliação do uso de moedas locais nas transações comerciais e financeiras entre os membros do bloco. Essa prática não só reduz os custos cambiais, mas também fortalece as moedas nacionais e facilita a atração de novos parceiros comerciais.
Os líderes do BRICS utilizam o modelo de “sherpas”, diplomatas e economistas que coordenam as discussões estratégicas do grupo. Esses representantes vêm analisando formas de aumentar a cooperação econômica e viabilizar um sistema de pagamentos mais independente.
O futuro da BRICS Moeda
Embora a criação de uma moeda comum ainda não seja uma realidade concreta, a tendência é que as negociações comerciais em moedas locais continuem ganhando espaço dentro do BRICS.
Especialistas acreditam que esse processo gradual pode, no futuro, culminar em um mecanismo mais robusto e integrado de pagamentos internacionais, tornando a BRICS Moeda uma possibilidade viável.
Em entrevista à Agência Brasil, Mauricio Lyrio destacou que, apesar de não haver consenso sobre a criação de uma nova moeda no curto prazo, o tema pode voltar à pauta em um futuro mais distante. “Nada impede que os presidentes dos países-membros discutam essa possibilidade, mas em um horizonte de tempo mais longo”, afirmou.
A evolução das relações comerciais dentro do BRICS e as mudanças no cenário econômico global serão determinantes para o sucesso dessa iniciativa. Enquanto isso, o bloco segue ampliando sua influência e buscando alternativas para consolidar sua posição como um dos principais atores econômicos do mundo.