Nos últimos anos, a liderança do Brasil no setor agrícola transcendeu as fronteiras nacionais, consolidando o país como um agente transformador no cenário latino-americano. Um dos principais exemplos desse protagonismo é o programa de cooperação internacional +ALgodão, que visa promover o cultivo sustentável do algodão em diversos países da América Latina.
Com a participação de nações como Colômbia, Peru, Equador, Bolívia e Argentina, a iniciativa não apenas reforça a posição do Brasil como maior exportador mundial da fibra, mas também busca associar a produção ao desenvolvimento social e à preservação ambiental.
O programa, que surgiu em resposta a uma longa disputa comercial entre Brasil e Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC), representa um marco na história agrícola da região. A cooperação incentiva práticas agrícolas que respeitam o meio ambiente, promove a inclusão social de pequenos produtores e resgata o valor cultural do algodão, que já foi considerado o “ouro branco” em muitas partes do continente.
O programa +ALgodão é fruto de uma parceria que envolve a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), o Itamaraty, a Embrapa e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Desde a sua criação, a iniciativa tem ajudado a fortalecer o cultivo do algodão em países que enfrentaram crises no setor, como Colômbia e Haiti. Além de promover técnicas agrícolas sustentáveis, o programa também incentiva a produção artesanal de peças a partir da fibra, agregando valor ao produto e gerando mais oportunidades econômicas para comunidades rurais.
Um dos principais objetivos do +ALgodão é criar uma identidade regional para o algodão latino-americano, pautada em valores como rastreabilidade, ancestralidade e respeito ao meio ambiente. Para isso, o programa busca integrar a cadeia produtiva de modo que todos os processos — desde o cultivo até a transformação artesanal — estejam alinhados com os princípios da sustentabilidade e da valorização cultural.
O programa +ALgodão tem suas raízes em uma disputa iniciada em 2002, quando o Brasil contestou, na OMC, os subsídios concedidos pelo governo dos Estados Unidos aos seus produtores de algodão. Após doze anos de intensas negociações, o Brasil conseguiu um acordo que resultou no pagamento de 300 milhões de dólares por parte dos EUA. Uma parte desse montante foi destinada ao desenvolvimento de programas de cooperação internacional, sendo o +ALgodão um dos principais beneficiados.
Essa conquista não apenas fortaleceu o setor algodoeiro brasileiro, mas também abriu portas para o compartilhamento de conhecimentos e tecnologias com países da América Latina e África. Na América Latina, o +ALgodão priorizou uma estratégia de cooperação trilateral com organismos internacionais, como a FAO, para ampliar o alcance e o impacto do programa.
O Brasil é referência mundial em práticas sustentáveis de cultivo do algodão. A produção nacional utiliza sistemas de irrigação eficientes e substitui defensivos químicos por biofertilizantes, o que reduz o impacto ambiental e melhora a qualidade do produto final. Essas técnicas são disseminadas para os países parceiros do +ALgodão, adaptando-se às necessidades e características de cada região.
Na Colômbia, por exemplo, pequenos agricultores que antes dependiam de agrotóxicos para controlar pragas agora utilizam biofertilizantes desenvolvidos a partir de pesquisas brasileiras. Essa mudança não só reduziu os custos de produção, mas também melhorou a saúde dos trabalhadores e a qualidade do solo.
Outra técnica sustentável aplicada no contexto da cooperação é a rotação de culturas. No lugar do monocultivo, que torna a plantação mais suscetível a pragas e doenças, os agricultores passaram a alternar o plantio de algodão com outras culturas, como milho e sorgo. O resultado é um aumento da produtividade e uma maior diversidade de produtos alimentares disponíveis para as comunidades locais.
Além do apoio técnico aos produtores, o programa +ALgodão também trabalha para resgatar as tradições culturais associadas ao cultivo e ao uso do algodão. Em diversas regiões da Colômbia, do Equador e do Paraguai, o algodão era um símbolo de prosperidade e riqueza cultural. Ao longo do tempo, com a redução da produção e a falta de incentivo governamental, muitas dessas tradições foram esquecidas.
Com o +ALgodão, o Brasil e seus parceiros buscam revitalizar o artesanato local, oferecendo capacitações para que mulheres e jovens possam aprender a cultivar a fibra e transformá-la em peças de valor cultural e comercial. O programa fornece sementes e insumos para o cultivo, e promove oficinas de tecelagem, costura e design, impulsionando o desenvolvimento de produtos autênticos que atraem consumidores interessados em moda sustentável e comércio justo.
Os benefícios econômicos do programa vão além do aumento na produção de algodão. A cooperação internacional promove o desenvolvimento de cadeias produtivas completas, desde o cultivo até a confecção de produtos têxteis, gerando empregos e renda para milhares de famílias rurais. Segundo a FAO, o setor algodoeiro pode contribuir significativamente para a segurança alimentar e para a redução da pobreza rural.
Na Colômbia, o programa +ALgodão tem atuado em áreas fortemente afetadas pelo conflito armado, como a região de Tolima. Com a estabilização social e a promoção de atividades produtivas sustentáveis, o programa oferece uma alternativa econômica para os agricultores que, anteriormente, tinham poucas opções de subsistência.
A assistência técnica gratuita fornecida pelo +ALgodão é outro fator que contribui para a transformação do setor. Agricultores que antes pagavam valores elevados por consultorias agora recebem apoio de profissionais capacitados e têm acesso a tecnologias avançadas, como drones agrícolas para monitoramento das lavouras e pulverização de biofertilizantes.
O +ALgodão continua expandindo suas atividades e busca novos parceiros para fortalecer a cadeia produtiva do algodão sustentável na América Latina. No entanto, o programa enfrenta desafios como a concorrência com fibras sintéticas, que são mais baratas e amplamente utilizadas pela indústria têxtil. Além disso, a falta de políticas de apoio ao pequeno produtor em alguns países parceiros pode comprometer a continuidade das atividades.
Para superar essas dificuldades, a coordenação do +ALgodão aposta na certificação e rastreamento da produção como diferenciais competitivos. A demanda por produtos rastreáveis e sustentáveis tem crescido no mercado internacional, e o algodão latino-americano, com seu valor cultural e ambiental agregado, pode se tornar um produto de destaque.