Os trabalhos de escavação e restauração no sítio arqueológico de Éfeso seguem em andamento no âmbito do projeto “Éfeso Eterna: Um Legado para o Futuro”, coordenado pelo Ministério da Cultura e Turismo.
A iniciativa prevê a ampliação das áreas de visitação, a criação de novas rotas turísticas e a recuperação de setores antes cobertos por vegetação, além da incorporação de novos achados ao acervo do Museu de Éfeso. As ações vêm sendo realizadas em cooperação com o Instituto Arqueológico Austríaco e equipes técnicas vinculadas ao ministério, sob coordenação acadêmica da Universidade Dokuz Eylül.
Durante escavações na chamada Rua do Estádio, os pesquisadores localizaram uma banheira de mármore considerada incomum para o contexto arqueológico local. O artefato foi encontrado em área associada às chamadas Casas da Encosta, conjunto residencial ocupado por famílias romanas de maior poder econômico. Produzida em Greco Scritto, um tipo de mármore regional, a peça mede 146 centímetros de comprimento, 73 centímetros de largura e 60 centímetros de altura. A análise preliminar indica que a banheira data do século I d.C. e foi concebida para uso doméstico, diferentemente das grandes estruturas públicas destinadas aos banhos coletivos, comuns no período romano.
Segundo o arqueólogo Serdar Aybek, coordenador do projeto “Legado para o Futuro: Éfeso”, a descoberta reforça a importância da cultura do banho na Antiguidade. Ele destaca que Éfeso abrigava grandes complexos termais, como as Termas do Porto, uma das maiores construções do mundo romano, com cerca de 70 mil metros quadrados. No entanto, além desses edifícios monumentais voltados ao uso público, também existiam banheiras menores, instaladas em residências privadas. A peça agora identificada se enquadra nesse segundo grupo, sendo considerada rara justamente por não aparecer com frequência em contextos arqueológicos.
O estado de conservação e o nível de acabamento da banheira chamaram a atenção dos especialistas. Elementos decorativos como pés esculpidos em forma de patas de leão, ornamentos ovais conhecidos como kimatyon, molduras bem definidas e o uso de pedra local com padrão específico indicam um trabalho artesanal sofisticado. Esses detalhes reforçam a hipótese de que o objeto pertencia a uma família privilegiada, possivelmente de alta renda, residente nas Casas da Encosta durante o período romano inicial.
As análises também revelaram que a banheira passou por reutilizações ao longo do tempo. De acordo com a equipe de escavação, em fases posteriores da história da cidade, o artefato foi adaptado para funcionar como bacia de fonte. Para isso, sua forma original foi alterada, com a abertura de furos para a entrada e a saída de água. Esse tipo de reaproveitamento de materiais antigos era comum em Éfeso, especialmente durante reparos urbanos realizados séculos após a construção original das estruturas romanas.
Além da banheira, as escavações na Rua do Estádio resultaram na identificação de outro achado relevante: uma estátua masculina esculpida em partes separadas, projetada para receber posteriormente braços, cabeça e pés. As características estilísticas permitem datar a peça entre o século I a.C. e o século I d.C. A escultura mede 123 centímetros de altura por 50 centímetros de largura e foi encontrada em posição invertida, utilizada como pedra de pavimentação em uma via antiga, o que surpreendeu a equipe responsável pelos trabalhos.
Segundo Aybek, a descoberta ocorreu de forma inesperada, quando os arqueólogos removiam o material para nivelamento da estrada. Ao levantar o bloco de pedra, identificaram a escultura preservada sob a superfície. O achado reforça a prática recorrente, em períodos posteriores, de reutilização de obras artísticas e arquitetônicas como material construtivo. Após os procedimentos de conservação e estudo, a estátua será incorporada à coleção do Museu de Éfeso, ampliando o conjunto de peças que documentam a longa e complexa história urbana da antiga cidade.
As descobertas recentes confirmam a relevância contínua das escavações em Éfeso para a compreensão da vida cotidiana, das práticas culturais e das transformações urbanas no mundo romano. O projeto “Éfeso Eterna: Um Legado para o Futuro” segue com novas frentes de trabalho, consolidando o sítio arqueológico como uma das principais referências internacionais em pesquisa, preservação e divulgação do patrimônio histórico da Antiguidade.




