Cientistas descobrem bactéria que pode ser o elo perdido da origem da vida

A origem da vida na Terra é um dos maiores mistérios da ciência. Desde que a teoria da evolução de Charles Darwin foi introduzida, pesquisadores têm se debruçado sobre a questão de como as primeiras formas de vida evoluíram para se tornar a biodiversidade complexa que conhecemos hoje. Recentemente, uma descoberta surpreendente feita por cientistas da Universidade de Jena, na Alemanha, lançou uma nova luz sobre esse enigma. A bactéria, batizada de Candidatus Uabimicrobium helgolandensis, pode ser o elo perdido que explica a transição de organismos simples, conhecidos como procariontes, para organismos mais complexos, chamados eucariontes. Esta descoberta pode desafiar conceitos estabelecidos na biologia e oferecer novas pistas sobre a evolução da vida no planeta.

A teoria dominante sobre a origem da vida

A teoria mais amplamente aceita sobre a origem da vida sugere que os primeiros habitantes da Terra eram procariontes — organismos unicelulares simples, sem núcleo ou organelas. Esses organismos dominavam o planeta há bilhões de anos. Em algum ponto da evolução, acredita-se que um procarionte engoliu outro organismo menor, que ao invés de ser digerido, passou a viver dentro do hospedeiro em uma relação simbiótica.

Esse evento crucial teria dado origem aos eucariontes, células com núcleo e organelas, incluindo as mitocôndrias, que são responsáveis pela produção de energia na célula. Segundo essa teoria, a mitocôndria é descendente de um organismo procarionte que foi englobado por outro, permitindo que a célula hospedeira adquirisse uma fonte interna de energia e, assim, evoluísse para formas de vida mais complexas.

O enigma da fagocitose e da energia

No entanto, essa teoria enfrenta um problema: a capacidade de fagocitose, ou seja, o processo de “engolir” outros organismos ou partículas grandes. Para que uma célula realize a fagocitose, ela precisa de uma quantidade significativa de energia, que normalmente é fornecida pelas mitocôndrias. Mas como poderia o primeiro organismo ter realizado a fagocitose sem já ter uma mitocôndria para fornecer energia?

Esse paradoxo tem sido uma grande questão para os cientistas, que tentam entender como os primeiros procariontes foram capazes de engolir outros organismos e evoluir para eucariontes sem a presença prévia de uma fonte interna de energia.

A descoberta do Candidatus Uabimicrobium helgolandensis

A descoberta da bactéria Candidatus Uabimicrobium helgolandensis pode finalmente fornecer uma resposta para esse enigma. Identificada em amostras coletadas no Mar Báltico e em águas próximas ao Japão, esta bactéria possui características que a tornam uma candidata única para o papel de “elo perdido” na evolução celular.

O que torna a Candidatus Uabimicrobium helgolandensis tão especial é sua semelhança com amebas eucariontes, mas com algumas particularidades surpreendentes. Assim como as amebas, essa bactéria é capaz de incorporar outras células em seu interior através de um processo semelhante à fagocitose. Mais intrigante ainda, ela consegue realizar esse processo sem a presença de mitocôndrias, algo que vai contra o entendimento tradicional da biologia celular.

bactéria
Imagem: Wurzbacher et al., 2024/mBio

O que a Candidatus Uabimicrobium helgolandensis revela sobre a evolução celular

A capacidade da Candidatus Uabimicrobium helgolandensis de realizar uma forma primitiva de fagocitose sem mitocôndrias sugere que os primeiros procariontes poderiam ter englobado outros organismos antes do surgimento das mitocôndrias. Isso desafia a suposição de que a energia fornecida por essas organelas era necessária para a fagocitose e abre a possibilidade de que outras fontes de energia ou mecanismos alternativos estavam presentes nas primeiras formas de vida.

Os cientistas responsáveis pela descoberta acreditam que essa bactéria representa um modelo de transição, uma forma intermediária entre procariontes simples e eucariontes complexos. Ela pode ter desempenhado um papel crucial na evolução das células, permitindo que os organismos adquirissem complexidade antes mesmo de desenvolverem as mitocôndrias. Essa nova perspectiva sugere que a evolução dos eucariontes pode ter sido um processo mais gradual e complexo do que se pensava anteriormente.

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A importância de estudar o Candidatus Uabimicrobium helgolandensis

Estudar a Candidatus Uabimicrobium helgolandensis pode proporcionar insights valiosos sobre os mecanismos evolutivos que levaram ao surgimento das primeiras formas de vida complexas na Terra. A bactéria pode oferecer uma janela única para os eventos que ocorreram há bilhões de anos, ajudando a reconstruir o cenário da evolução celular e a compreender melhor os processos que permitiram a diversificação da vida.

Implicações para a biologia e a teoria da evolução

A descoberta dessa bactéria e suas capacidades únicas também têm implicações mais amplas para a biologia e a teoria da evolução. Se a Candidatus Uabimicrobium helgolandensis realmente representa um elo perdido, isso sugere que as transições evolutivas entre diferentes formas de vida podem ter ocorrido através de uma série de passos intermediários que ainda não foram totalmente compreendidos ou descobertos.

Essa perspectiva pode levar os cientistas a reavaliar outras áreas da biologia evolutiva e buscar novas evidências que possam preencher as lacunas no registro evolutivo. A descoberta também destaca a importância de explorar e estudar a diversidade microbiana em ambientes naturais, que podem conter pistas cruciais para entender a história da vida na Terra.

O próximo passo para os pesquisadores

Os pesquisadores da Universidade de Jena estão agora focados em aprofundar o estudo da Candidatus Uabimicrobium helgolandensis para entender melhor suas capacidades e como elas podem ter influenciado a evolução das células eucarióticas. Estudos futuros buscarão identificar os mecanismos específicos que permitem a essa bactéria realizar processos semelhantes à fagocitose sem a presença de mitocôndrias e investigar como esses processos podem ter funcionado nos primeiros organismos.

Além disso, os cientistas planejam comparar a Candidatus Uabimicrobium helgolandensis com outros microrganismos do mesmo filo para identificar características compartilhadas e determinar se essas habilidades únicas são mais comuns do que se pensava. Isso pode ajudar a estabelecer uma árvore evolutiva mais precisa para os eucariontes e esclarecer os caminhos evolutivos que levaram ao surgimento da vida complexa.

Desafios e oportunidades

A descoberta da Candidatus Uabimicrobium helgolandensis também apresenta desafios significativos para os pesquisadores. Estudar microrganismos que vivem em ambientes extremos, como as águas profundas do Mar Báltico e áreas remotas do Japão, requer técnicas avançadas e cuidadosas de coleta e análise. Além disso, a interpretação dos dados deve ser feita com cautela para evitar conclusões precipitadas sobre o papel dessa bactéria na evolução da vida.

No entanto, essas dificuldades são equilibradas pelas oportunidades emocionantes que essa descoberta oferece. Com o avanço da tecnologia de sequenciamento genético e métodos analíticos avançados, os cientistas estão mais equipados do que nunca para explorar os mistérios da biologia evolutiva. A Candidatus Uabimicrobium helgolandensis é apenas um exemplo de como a natureza continua a surpreender e desafiar nosso entendimento do mundo natural.

Conclusão

A descoberta da bactéria Candidatus Uabimicrobium helgolandensis pode marcar um ponto de virada na compreensão da origem da vida na Terra. Como um potencial elo perdido entre procariontes e eucariontes, esta bactéria oferece uma nova perspectiva sobre como a vida pode ter evoluído de formas simples para complexas. Enquanto mais pesquisas são necessárias para confirmar seu papel exato na história evolutiva, a descoberta já está desafiando as convenções e abrindo novas linhas de investigação.

Fonte: Olhar Digital