As sete estrelas que inspiraram os primeiros contos da humanidade

Desde os primórdios da existência humana, o céu noturno tem sido uma fonte inesgotável de inspiração, mistério e narrativa. Entre as muitas maravilhas celestes, um aglomerado estelar em particular – as Plêiades, ou Sete Irmãs – ocupa um lugar especial na imaginação de culturas antigas ao redor do mundo.

Pesquisadores acreditam que a história das Sete Irmãs pode ser a mais antiga já contada, remontando a um tempo em que nossos ancestrais compartilhavam histórias à luz das fogueiras, sob o mesmo céu estrelado.

As Plêiades são um aglomerado estelar composto por centenas de estrelas, mas apenas seis são visíveis a olho nu na maioria das condições. Localizadas na constelação de Touro, essas estrelas brilhantes têm fascinado a humanidade por gerações. Formadas há cerca de 100 milhões de anos, as Plêiades estão entre os aglomerados mais jovens e mais reconhecíveis no céu noturno. Suas posições e brilho são visíveis em quase todos os continentes, tornando-as um ponto comum de observação para civilizações antigas.

Na mitologia grega, as Plêiades eram as filhas de Atlas, o titã condenado a sustentar os céus, e Pleione, uma ninfa do mar. Perseguidas por Órion, o caçador, elas foram transformadas em estrelas por Zeus, garantindo-lhes um refúgio eterno no céu. Curiosamente, lendas semelhantes existem entre os povos aborígenes da Austrália. Em seus mitos, um caçador também tenta perseguir as irmãs, ecoando a narrativa grega.

O fato de essas histórias compartilharem detalhes tão semelhantes – apesar das culturas terem se separado há cerca de 100 mil anos, quando os ancestrais humanos deixaram África – sugere uma origem comum incrivelmente antiga. Estudos indicam que essa narrativa pode ter sido contada pela primeira vez em fogueiras primitivas, um testemunho da capacidade humana de criar e compartilhar histórias.

Embora o nome “Sete Irmãs” seja amplamente usado, apenas seis estrelas são visíveis a olho nu nos dias atuais. Pesquisadores acreditam que, há cerca de 100 mil anos, uma sétima estrela – Pleione – era mais claramente visível. Com o passar do tempo, Pleione se aproximou de Atlas, fazendo com que pareçam uma única estrela em observações não assistidas por telescópios modernos. Essa mudança é atribuída ao movimento natural das estrelas e à distância relativa entre elas e a Terra.

A possibilidade de que nossos ancestrais tivessem percebido e contado histórias sobre essa diferença na visibilidade das estrelas reforça a ideia de uma narrativa primordial compartilhada.

As Plêiades inspiraram mitos e lendas em diversas culturas, muitas vezes com surpreendentes similaridades. Entre os povos nativos norte-americanos, por exemplo, as Sete Irmãs são frequentemente descritas como jovens fugindo de um urso. No Japão, as Plêiades são conhecidas como “Subaru”, simbolizando união e cooperação. Na Índia, elas são chamadas de “Krittikas” e estão associadas ao fogo e à coragem.

Essa universalidade das Plêiades destaca a importância do céu como um espaço compartilhado, uma fonte de conexão cultural e espiritual. Apesar das vastas distâncias geográficas e das barreiras linguísticas, as estrelas uniram a humanidade em narrativas que transcendem o tempo.

Ray Norris, professor da Western Sydney University, sugere que as histórias sobre as Sete Irmãs podem ser as mais antigas da humanidade. Ele argumenta que, há cerca de 100 mil anos, essas narrativas eram compartilhadas à luz das fogueiras entre grupos que posteriormente se espalharam pelo mundo. Essas reuniões noturnas desempenharam um papel crucial na preservação e transmissão de conhecimento, valores culturais e crenças espirituais.

Hoje, as Plêiades continuam a fascinar cientistas, astrônomos e amantes da mitologia. Elas nos lembram de um tempo em que nossos ancestrais olhavam para o céu em busca de respostas e conexão. Seja como um símbolo de criatividade humana ou como um marco astronômico, as Sete Irmãs permanecem como um elo entre o passado e o presente.