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Arqueólogos encontram vaso de 5.000 anos com rosto humano na Turquia – e o mistério intriga especialistas

No coração da Turquia, um pedaço de cerâmica de 5.000 anos acaba de devolver à humanidade um olhar perdido no tempo. Durante escavações em Gökhöyük, no distrito de Seydişehir, província de Konya, arqueólogos encontraram um fragmento de vaso com um rosto humano esculpido – sobrancelhas curvas, nariz e olhos em formato amendoado, cuidadosamente modelados quando a peça ainda estava em produção.

O achado não é apenas raro. É um testemunho do simbolismo cultivado por uma comunidade que viveu ali de forma ininterrupta entre 7.000 e 1.000 a.C.. Segundo o professor associado Ramazan Gündüz, responsável pelas escavações, os habitantes de Gökhöyük não viam os vasos como simples utensílios de cozinha: eles os transformavam em objetos rituais carregados de significado espiritual.

O fragmento encontrado provavelmente pertenceu a um pote usado em cerimônias. Embora os especialistas ainda não saibam exatamente em que tipo de rituais ele foi empregado, os traços marcantes sugerem que o rosto não era apenas decorativo, mas representava uma ligação simbólica com crenças sobre vida, morte e transcendência.

A descoberta surpreende ainda mais porque não existem registros de outra peça tão bem preservada na região central da Anatólia. Esse detalhe torna o vaso um marco para os estudos da Idade do Bronze Inicial, período em que a representação de rostos humanos em cerâmica era comum em grandes centros culturais, mas raríssima em sítios arqueológicos locais.

O trabalho em Gökhöyük começou ainda nos anos 1950, quando a área foi identificada pelo arqueólogo britânico James Mellaart. Escavações posteriores ocorreram entre 2002 e 2005, mas só em 2023 os trabalhos foram retomados em larga escala, dentro do projeto “Patrimônio para o Futuro”, com apoio do Ministério da Cultura e Turismo da Turquia e da Universidade Selçuk. Desde então, uma sequência impressionante de achados tem revelado muito sobre a vida cotidiana e os rituais da época.

Além do vaso com rosto humano, foram encontrados selos, figuras de animais, machados de pedra e pontas de flechas de obsidiana. Essas ferramentas mostram a engenhosidade dos habitantes, que usavam a obsidiana como lâminas afiadas para caça, enquanto os pequenos machados serviam para atividades variadas no cotidiano das comunidades neolíticas e calcolíticas.

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Segundo Gündüz, o simbolismo presente nas cerâmicas reforça a ideia de que a cultura material ia muito além da utilidade prática. “Esses vasos eram usados não só para cozinhar, mas também em rituais. Isso mostra como o povo de Gökhöyük atribuía significados profundos até aos objetos do dia a dia”, explicou o pesquisador.

Para os arqueólogos, o valor da descoberta é duplo. De um lado, permite compreender melhor a espiritualidade e a vida ritualística dessas sociedades antigas; de outro, posiciona Gökhöyük como um sítio de relevância única, já que preserva camadas arqueológicas que atravessam 7 mil anos de história contínua, do Neolítico até a Idade do Ferro.

O fragmento com rosto humano ainda passará por testes de datação por radiocarbono para confirmar sua idade exata. Mas, mesmo antes disso, já se tornou um dos achados mais simbólicos da arqueologia turca recente. Afinal, não é todo dia que um olhar moldado há cinco milênios ressurge da terra para nos lembrar que, desde os tempos mais remotos, o ser humano buscava deixar marcas de sua identidade e de suas crenças na matéria que o cercava.

No silêncio das camadas arqueológicas, aquele rosto de barro continua a nos encarar – como se atravessasse os milênios para contar histórias que ainda não conhecemos por completo.

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