Achado no Túmulo de Haihun, na China, reúne mais de 5 mil tiras de bambu com a versão mais completa do “Livro das Canções”, obra clássica atribuída a Confúcio.
Arqueólogos anunciaram a descoberta da versão mais completa já identificada do “Livro das Canções”, ou Shijing, um dos textos fundamentais da tradição chinesa. O material foi encontrado no Túmulo de Haihun, localizado na província de Jiangxi, e consiste em mais de 5 mil tiras de bambu preservadas, identificadas por especialistas do Instituto Provincial de Relíquias Culturais e Arqueologia de Jiangxi. A obra, atribuída ao filósofo Confúcio e datada entre os séculos XI e VII a.C., integra a base da literatura clássica chinesa e é considerada um registro essencial para a compreensão da sociedade antiga.
O achado oferece um conjunto praticamente íntegro dos poemas tradicionais que compõem o Shijing, trazendo informações relevantes sobre a forma como o texto circulou e foi transmitido ao longo da dinastia Han. A preservação das tiras inclui anotações que, segundo pesquisadores, podem esclarecer práticas de estudo e interpretação utilizadas naquele período. A recuperação desse material é vista como uma contribuição significativa para a revisão e aprofundamento das leituras existentes sobre a obra.
O túmulo onde as tiras foram encontradas pertence a Liu He, Marquês de Haihun e brevemente imperador da Dinastia Han Ocidental. As escavações no local começaram em 2011 e já revelaram mais de 10 mil artefatos, entre carruagens, ouro e instrumentos musicais. A descoberta do conjunto literário, no entanto, é considerada a mais importante do sítio devido ao seu valor histórico e cultural.
O Livro das Canções reúne 305 poemas organizados em categorias que representam aspectos sociais, rituais e políticos da China antiga. Relatos publicados pelo Global Times e pelo China Daily indicam que as tiras apresentam danos mínimos e contêm anotações que podem auxiliar na compreensão da interpretação dos poemas pelos estudiosos da época Han. De acordo com especialistas envolvidos na escavação, o conteúdo reforça a relevância do sítio para a compreensão da transmissão textual do período.
Pesquisadores de universidades chinesas destacam que a integridade das tiras permite comparações diretas com versões posteriores do Shijing, oferecendo oportunidades para revisar divergências que há muito desafiam historiadores e estudiosos da literatura clássica. As anotações preservadas também indicam práticas educacionais utilizadas no ensino confucionista, tema de interesse para estudiosos da história intelectual chinesa.
A equipe responsável pelas escavações planeja digitalizar o acervo encontrado, assegurando acesso seguro ao material e possibilitando sua análise por pesquisadores internacionais. O processo de preservação envolve técnicas rigorosas de controle climático e métodos de digitalização não invasivos, que garantem a integridade física das tiras de bambu. O Instituto de Relíquias de Jiangxi anunciou a intenção de estabelecer colaborações com instituições estrangeiras para aprofundar os estudos e permitir futuras exposições públicas da descoberta.
Os arqueólogos afirmam que novas revelações ainda podem ocorrer no Túmulo de Haihun, que se consolidou como um dos sítios mais bem preservados da dinastia Han. A possibilidade de encontrar outros textos clássicos, como os Analectos, permanece em investigação, reforçando o potencial histórico e acadêmico da região.




