Uma descoberta recente no sul do Peru está intrigando arqueólogos e historiadores ao redor do mundo: um túmulo coletivo milenar com restos mortais de 24 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, foi encontrado no sítio arqueológico de El Curaca, no vale do rio Atico. A análise inicial das ossadas sugere que as vítimas morreram em circunstâncias violentas, possivelmente em um confronto armado ocorrido há mais de 500 anos.
O achado é atribuído à cultura Chuquibamba — também chamada de Aruni — que ocupava aquela região entre os anos 1000 e 1450 d.C., muito antes da expansão inca dominar o território andino. O local onde as escavações ocorreram traz novos elementos sobre esses povos ainda pouco conhecidos da costa sul peruana.
De acordo com os pesquisadores do Instituto de Arqueologia da Universidade de Wrocław, na Polônia, que lideram o projeto em parceria com cientistas do Peru, Colômbia, México e do Museu Arqueológico de Gdańsk, os esqueletos estavam dispostos cuidadosamente em uma tumba circular feita de pedras, rodeados por objetos que indicam um ritual funerário elaborado. Entre os itens encontrados estavam cerâmicas, ferramentas feitas de osso e pedra, espigas de milho e tecidos envoltos nos corpos — sinais claros de respeito e cerimônia.
Embora os restos tenham sido escavados em outubro de 2024, a revelação só veio a público recentemente, com a publicação de um comunicado oficial da equipe nas redes sociais. Segundo os arqueólogos, a presença dos artefatos e o cuidado com o sepultamento sugerem que os mortos faziam parte de uma comunidade que venceu o conflito em que se envolveram, sendo homenageados com enterros ritualísticos ao invés de serem deixados ao acaso.
“O que mais nos impressionou foi a estrutura da necrópole, especialmente bem preservada em um dos setores de El Curaca”, destacou a equipe em publicação no Facebook. A sepultura tem formato circular e é feita com paredes de pedra cuidadosamente empilhadas, um testemunho da sofisticação arquitetônica da época.
A escavação continua em andamento até o final de abril, com esforços voltados para o registro em 3D dos crânios, preservação dos tecidos encontrados e análises detalhadas dos artefatos. Os pesquisadores também planejam realizar exames de DNA antigo para traçar a origem dos indivíduos e compreender melhor as relações genéticas e sociais entre os povos que viveram naquela área.
Um dos focos do projeto é justamente preencher as lacunas deixadas na história por culturas pouco registradas, como os Aruni, conhecidos principalmente pelos petróglifos que deixaram nas cavernas próximas ao sítio arqueológico. Esses registros rupestres, até então uma das poucas heranças visíveis da cultura, agora ganham novos contornos com a descoberta da tumba.
Além de revelar um episódio trágico de violência no passado, a descoberta contribui significativamente para o entendimento das práticas funerárias, do cotidiano e da organização social das comunidades que floresceram no território peruano antes da chegada dos colonizadores europeus. A escavação também reforça a importância de explorar áreas ainda pouco estudadas da América do Sul, onde muito da história humana ainda está literalmente enterrada.
Com a continuação das análises, espera-se que mais informações venham à tona nos próximos meses — quem eram essas pessoas, por que foram mortas, quem as matou e como os sobreviventes escolheram honrá-las. Até lá, a tumba coletiva de El Curaca permanece como uma poderosa lembrança de um passado remoto, onde a vida e a morte se entrelaçavam em rituais, conflitos e memórias que agora, enfim, começam a ser reveladas.
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