Argentina “invade” o Brasil? Entenda o recorde de turistas e suas razões

A movimentação internacional rumo ao Brasil bateu recordes no primeiro semestre de 2025, marcando um feito inédito em mais de cinco décadas de registro. De janeiro a junho, mais de 5,3 milhões de turistas estrangeiros desembarcaram em solo brasileiro, número 48,2% superior ao mesmo período de 2024, segundo dados divulgados pela Embratur.

O crescimento não foi apenas expressivo — foi o maior já registrado desde o início da série histórica em 1972. Uma confluência de fatores estratégicos e contextuais fez do Brasil, mais do que nunca, um destino desejado: shows internacionais gratuitos e massivos, valorização cambial favorável a visitantes da América do Sul e a profissionalização da promoção turística são os principais motores desse avanço.

Segundo o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, o cenário internacional tem influenciado diretamente esse resultado. Com tensões geopolíticas e uma certa resistência de países europeus em relação à recepção de imigrantes, muitos estrangeiros buscaram opções mais acolhedoras.

“O Brasil aparece como uma alternativa segura e vibrante para quem procura lazer. Nossa receptividade cultural e paisagens naturais, somadas à diplomacia turística, têm ampliado o alcance da nossa imagem”, explica Freixo. Essa percepção positiva ganhou força principalmente com os investimentos em grandes eventos, posicionando o país também como palco de experiências globais.

Um dos fenômenos mais marcantes de 2025 foi a presença maciça de turistas argentinos. Foram 2,3 milhões de visitantes oriundos do país vizinho apenas nos seis primeiros meses do ano — um crescimento de 94% em relação ao mesmo período de 2024.

Especialistas apontam como fator decisivo a valorização do peso argentino, que se destacou como a moeda que mais ganhou força no mundo em 2024, com alta de 44,2% frente ao real.

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“Isso tornou o Brasil extremamente acessível para os argentinos. A diferença cambial favorece desde passagens até hospedagem e alimentação, estimulando longas estadias”, avalia a turismóloga Jaqueline Gil, da Universidade de Brasília (UnB).

Os números apontam ainda que o lazer foi a principal motivação dessas viagens, representando 55,3% do total, seguido por visitas a parentes e amigos (19,9%), negócios (15%) e outros motivos (9,8%). A média de permanência no país foi de sete dias, suficiente para que o impacto econômico do turismo fosse sentido de forma concreta nas regiões mais visitadas.

Os principais destinos procurados por esses turistas foram São Paulo (1,37 milhão), Rio Grande do Sul (1,2 milhão), Rio de Janeiro (1,15 milhão), Paraná (627 mil) e Santa Catarina (526 mil), além de outros polos como Bahia e Distrito Federal.

Mas se há um símbolo que representou esse “boom” turístico, ele atende por nomes como Lady Gaga, Madonna, Coldplay e outros gigantes da música mundial. Em maio, o show de Lady Gaga em Copacabana, gratuito e com transmissão internacional, reuniu 2,1 milhões de pessoas, superando o recorde anterior da própria Madonna, em 2024.

Com palcos montados em praias, centros urbanos e parques, os megaeventos somaram ao apelo natural do Brasil a força das experiências memoráveis, que atravessam fronteiras. A variedade de gêneros — de pop a K-pop, de rock alternativo à música eletrônica — também garantiu que diferentes públicos internacionais se sentissem representados e motivados a viajar.

Esse tipo de espetáculo contribuiu para a construção de um novo posicionamento de imagem internacional do Brasil, mais moderno, conectado às tendências globais e capaz de realizar eventos de grande porte com segurança e infraestrutura adequada.

Segundo a UnB, o calendário de eventos de 2025 foi o mais internacionalizado dos últimos anos, com destaque para a descentralização dos espetáculos, que não ficaram restritos apenas a capitais como São Paulo ou Rio. Cidades médias do Sul e do Centro-Oeste também receberam atrações que mobilizaram turistas de diferentes países.

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Além disso, a modernização do setor turístico nacional é apontada como um elemento-chave para os bons resultados. Políticas públicas voltadas à captação de voos internacionais, digitalização de serviços turísticos, campanhas de marketing segmentadas e parcerias com influenciadores estrangeiros fizeram parte da estratégia da Embratur para atrair visitantes de forma mais assertiva.

“Não basta apenas esperar que venham. É preciso mostrar que estamos prontos para recebê-los bem, com qualidade e diversidade de experiências”, reforça Marcelo Freixo.

Os dados mais recentes da Embratur também revelam os cinco países que mais enviaram turistas ao Brasil em 2025: Argentina (2,3 milhões), Chile (442 mil), Estados Unidos (410 mil), Uruguai (308 mil) e Paraguai (306 mil).

Esse ranking evidencia a força do Mercosul como origem do turismo receptivo brasileiro, mas também sinaliza o avanço da presença norte-americana, impulsionada por voos diretos e parcerias com agências de intercâmbio e universidades.

Ao que tudo indica, o desempenho recorde do primeiro semestre poderá ser superado ainda este ano. Com novos festivais programados, como o Festival Brasil+Mundo, que receberá nomes como Taylor Swift, BTS e Andrea Bocelli, além da previsão de valorização contínua do real frente a moedas estrangeiras, a expectativa do Ministério do Turismo é ultrapassar os 10 milhões de visitantes até dezembro.

Um número que, se confirmado, colocará o Brasil no patamar dos 20 destinos mais visitados do planeta, segundo os critérios da Organização Mundial do Turismo.

O que se observa, portanto, é a consolidação de um novo momento para o turismo brasileiro. Um país que atrai não só por suas belezas naturais, mas pela capacidade de se posicionar como palco de grandes experiências, com preços acessíveis e uma imagem receptiva no cenário internacional.

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Com políticas bem articuladas, estratégia digital e cooperação entre os setores público e privado, o Brasil transforma visitantes em divulgadores espontâneos, multiplicando o impacto de cada chegada em seus aeroportos. O recorde de 2025 não é ponto de chegada, mas sinal de que, quando se valoriza o setor com inteligência, o turismo se torna uma das principais engrenagens do desenvolvimento nacional.

Com informações do G1.