Anvisa aprova lemborexante, novo remédio contra insônia no Brasil. Entenda como funciona, o que é a insônia e os sintomas do distúrbio.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o lemborexante, novo medicamento para o tratamento da insônia no país. Comercializado com o nome Dayvigo, da farmacêutica japonesa Eisai, o remédio se diferencia dos já disponíveis no mercado por apresentar menor risco de dependência.
Enquanto os medicamentos mais usados hoje, como zolpidem, zopiclona e eszopiclona, atuam como indutores do sono, o lemborexante age bloqueando a ação da orexina, hormônio que mantém o estado de alerta no organismo. Essa diferença o coloca em outra categoria: a dos antagonistas dos receptores de orexina, fármacos que interrompem o mecanismo que impede o corpo de relaxar.
Segundo o neurologista Lucio Huebra, membro da Academia Brasileira do Sono, a vantagem é que, por não atuar no neurotransmissor GABA, o medicamento tende a oferecer menor risco de dependência, tolerância e abstinência. Nos Estados Unidos e na Europa, outros remédios dessa mesma classe já são comercializados, como suvorexant e daridorexant.
Um estudo realizado pela Universidade de Oxford e publicado em 2022 na revista científica The Lancet apontou o lemborexante, junto com a eszopiclona, como os melhores entre 36 analisados em critérios de eficácia, aceitabilidade e tolerabilidade. Apesar do bom desempenho, os dados de segurança sobre o novo medicamento ainda são considerados inconclusivos.
A aprovação do fármaco foi publicada pela Anvisa no Diário Oficial da União em 3 de abril. O preço no Brasil será definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Nos Estados Unidos, onde é vendido desde 2019, o custo mensal é de aproximadamente US$ 300, o equivalente a R$ 1.600.
O que é a insônia

A insônia é um distúrbio do sono caracterizado por dificuldade em iniciar ou manter o sono, despertares noturnos frequentes, acordar muito cedo ou sensação de sono não reparador. É um dos problemas de saúde mais comuns no mundo e pode afetar tanto a vida profissional quanto a pessoal.
O transtorno pode ser classificado em:
- Insônia aguda: geralmente associada a situações de estresse ou mudanças repentinas na rotina, costuma durar dias ou semanas.
- Insônia crônica: ocorre ao menos três vezes por semana, durante três meses consecutivos, e exige acompanhamento médico.
Estudos globais mostram que 16,2% dos adultos sofrem de insônia clinicamente relevante, sendo 7,9% em casos graves. No Brasil, uma pesquisa da Fiocruz em 2023 revelou que 72% dos brasileiros apresentam algum distúrbio do sono, 45% sofrem de insônia e 15% enfrentam a forma crônica.
Como a insônia acontece
De acordo com a neurologista Dalva Poyares, da Unifesp, a insônia pode ter origem genética, mas também pode surgir após fatores desencadeantes, como:
- estresse constante;
- ansiedade e depressão;
- dor crônica;
- consumo excessivo de cafeína, álcool ou nicotina;
- uso de alguns medicamentos;
- ambiente inadequado para dormir, como excesso de luz ou barulho.
A condição está ligada a uma hiperatividade cerebral: mesmo quando a pessoa tenta dormir, o organismo permanece em estado de alerta. Essa dificuldade em “desligar” está associada a alterações em substâncias químicas como cortisol, adrenalina e orexina.
Nos casos crônicos, a insônia pode durar em média três anos e comprometer até 74% dos pacientes ao longo de um ano. Os sintomas vão além da dificuldade em dormir e incluem:
- fadiga constante;
- sonolência durante o dia;
- irritabilidade e mudanças de humor;
- lapsos de memória;
- dificuldade de concentração;
- sensação contínua de falta de energia.
Esses impactos reduzem a qualidade de vida e podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e até depressão.

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