Anvisa aprova no Brasil novo medicamento para Alzheimer

Aprovado pela Anvisa, o Kisunla é o primeiro medicamento autorizado no Brasil com ação direta sobre as causas do Alzheimer. Desenvolvido pela Eli Lilly, o remédio mostrou capacidade de retardar a progressão da doença em pacientes com sintomas leves

O Brasil acaba de dar um passo histórico na luta contra o Alzheimer. Nesta terça-feira (22), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do medicamento donanemabe, comercializado sob o nome de Kisunla, desenvolvido pela farmacêutica norte-americana Eli Lilly.

Aprovado nos Estados Unidos em julho do ano passado, o remédio chega agora ao país como uma nova esperança para pacientes em estágios iniciais da doença.

O Kisunla é indicado para adultos com Alzheimer sintomático em fase inicial, ou seja, pessoas que apresentam comprometimento cognitivo leve ou demência leve, desde que com confirmação da presença de placas amiloides no cérebro, uma das marcas registradas da doença.

O mecanismo de ação do donanemabe é direcionado e inovador: ele atua diretamente na redução dessas placas beta-amiloides, proteínas tóxicas associadas ao avanço do Alzheimer. A novidade é que o medicamento não apenas alivia sintomas, mas age na origem do problema, tornando-se uma alternativa real no controle da progressão da doença.

Em ensaios clínicos realizados em diversos centros internacionais, o donanemabe apresentou um desempenho promissor. Após seis meses de tratamento, 30% dos pacientes apresentaram níveis de placas amiloides considerados negativos.

Esse número saltou para 66% em 12 meses e 76% após 18 meses. Os dados reforçam a capacidade do remédio de interferir de forma significativa na fisiopatologia da doença.

De aplicação mensal e administrado por injeção, o Kisunla tem potencial para mudar o curso do Alzheimer nos casos diagnosticados precocemente. Mas, como toda inovação de ponta, o próximo desafio será a acessibilidade do tratamento.

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Com a aprovação da Anvisa, o medicamento agora aguarda a definição de preço pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), órgão que determina o valor máximo de venda ao consumidor. Ainda não há data prevista para o início da comercialização no país, nem valor estimado. Contudo, especialistas alertam que o acesso ao Kisunla pode ser decisivo para muitos pacientes, principalmente aqueles que recebem o diagnóstico precoce e ainda têm boa autonomia cognitiva.

Alzheimer no Brasil, um desafio crescente e silencioso

Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 1,2 milhão de brasileiros vivem com Alzheimer atualmente, com cerca de 100 mil novos casos diagnosticados todos os anos. A maior parte deles ocorre em pessoas com mais de 65 anos, embora a fase de comprometimento cognitivo leve (CCL) possa se manifestar muito antes de forma quase imperceptível.

Para o geriatra Roni Chaim Mukamal, reconhecer os sinais precoces é essencial. “A diferença entre envelhecimento natural e Alzheimer está na frequência dos esquecimentos e na sua interferência na vida cotidiana”, afirma. Segundo ele, atrasos no diagnóstico ainda são comuns porque os sintomas iniciais são subestimados ou confundidos com o envelhecimento normal.

O impacto do diagnóstico tardio e a importância da atenção familiar

Mukamal destaca que muitos pacientes só chegam ao consultório quando apresentam quadros mais alarmantes, como agressividade, confusão severa ou episódios em que se perdem fora de casa. “A memória não falha de uma hora para outra. A doença se instala devagar. O problema é que, muitas vezes, quando se busca ajuda, parte das funções cognitivas já está comprometida”, pontua.

O que esperar daqui para frente?

Com a chegada do Kisunla ao Brasil, o cenário do tratamento do Alzheimer muda. Ainda não se trata de uma cura, mas de uma ferramenta poderosa para atrasar os danos causados por uma doença que impõe sofrimento ao paciente e à família. Para muitos especialistas, o donanemabe marca o início de uma nova era na medicina neurológica — uma era em que é possível interferir, com evidência científica, no curso natural do Alzheimer.

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Agora, resta acompanhar os próximos passos da regulação de preços e torcer para que a inovação não esbarre em barreiras financeiras. Afinal, o direito à memória, e à dignidade, deve ser garantido a todos.

Aprovado pela Anvisa, o Kisunla é o primeiro medicamento autorizado no Brasil com ação direta sobre as causas do Alzheimer. Desenvolvido pela Eli Lilly, o remédio mostrou capacidade de retardar a progressão da doença em pacientes com sintomas leves

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