Arqueólogos revelam antigo sistema de irrigação na Amazônia que sustentava plantações de milho

A história da Amazônia muitas vezes é contada como uma região intocada por grandes civilizações urbanas, mas novas descobertas arqueológicas desafiam essa narrativa. O povo Casarabe, uma sociedade complexa que floresceu entre os anos 500 e 1400 no norte da Bolívia, implementou técnicas avançadas de engenharia hidráulica para transformar savanas sazonalmente inundadas em viveiros de cultivo de milho durante todo o ano. A inovação dos Casarabe permitiu não apenas a produção de alimentos em larga escala, mas também sustentou o crescimento urbano em uma das regiões mais desafiadoras do planeta.

Estudos conduzidos pelo geoarqueólogo Umberto Lombardo, da Universidade Autônoma de Barcelona, revelaram uma rede engenhosa de canais de drenagem e lagoas artificiais, capazes de armazenar e distribuir água ao longo do ano. Utilizando imagens de satélite e a tecnologia LiDAR (Light Detection and Ranging), pesquisadores mapearam essas estruturas em detalhe, demonstrando que os Casarabe haviam desenvolvido um sistema agrícola altamente eficiente.

As lagoas artificiais eram interligadas por canais escavados no solo, formando complexas redes de drenagem. Esses canais foram projetados para capturar a água das chuvas e redistribuí-la ao longo da estação seca, permitindo duas colheitas anuais de milho. Acredita-se que as margens dessas lagoas e dos canais tenham sido utilizadas para o cultivo, conforme evidenciado por análises microscópicas de fitólitos, resíduos minerais característicos do milho encontrados nas amostras de solo.

A capacidade de produzir alimentos de forma contínua permitiu um crescimento populacional expressivo e a expansão das cidades Casarabe, que cobriam cerca de 4.500 quilômetros quadrados. O milho, combinado com tubérculos ricos em amido, abóbora, amendoim e inhame, era a base da alimentação desse povo.

A estratégia agrícola dos Casarabe também pode ter sido uma resposta às pressões ambientais e ao crescimento demográfico. Lombardo sugere que a dependência crescente do milho poderia ter sido motivada pela busca de uma fonte de alimento mais confiável e estável, garantindo segurança alimentar em um ambiente dinâmico e desafiador.

O uso do LiDAR e de outras técnicas avançadas de sensoriamento remoto tem revolucionado a arqueologia amazônica. Antes dessas inovações, acreditava-se que a Amazônia não possuía sociedades altamente estruturadas devido às condições ambientais adversas. No entanto, as evidências mostram que os Casarabe desenvolveram soluções sofisticadas para lidar com os desafios da região, construindo um sistema que maximizava a eficiência agrícola sem comprometer o equilíbrio ecológico.

As escavações também indicam que um dos lagos artificiais foi utilizado ativamente entre 1250 e 1550. Entretanto, a idade precisa do restante do sistema de drenagem ainda é incerta, abrindo espaço para futuras pesquisas que possam aprofundar nosso entendimento sobre essa civilização.

A descoberta da infraestrutura hidráulica Casarabe redefine a história da Amazônia e das civilizações indígenas da América do Sul. Longe de serem apenas habitantes dispersos em meio à floresta, os Casarabe demonstraram um domínio sofisticado sobre a gestão da água e a produção agrícola. Essas revelações destacam a importância de continuar explorando o passado amazônico com novas tecnologias, trazendo à tona conhecimentos que podem inspirar soluções sustentáveis para os desafios contemporâneos.