Muita gente já sentiu um espirro “travado” e ouviu a sugestão de olhar para o sol ou para uma luz forte para soltá-lo. O hábito, embora popular, não está ligado diretamente a uma irritação no nariz. Na verdade, o espirro provocado pela luz é resultado de um mecanismo biológico curioso que depende de um reflexo específico e, em alguns casos, de um traço genético herdado. Embora seja considerado inofensivo, o fenômeno intrigou médicos por décadas e ainda chama a atenção pela forma como o corpo reage a um estímulo que não tem relação com partículas ou microrganismos.
O espirro, de maneira geral, é uma resposta automática do organismo para proteger as vias respiratórias, expulsando poeira, germes e outros irritantes. De acordo com o médico David Lang, da Cleveland Clinic, a função do espirro para o nariz é equivalente à da tosse para os pulmões: uma forma rápida e eficaz de defesa. Porém, no caso do espirro desencadeado pela luz, o estímulo não vem de uma irritação nasal, e sim de uma reação neurológica incomum.
A “confusão” entre os nervos que provoca o espirro
A relação entre luz intensa e espirro está ligada ao nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade do rosto, incluindo olhos e nariz. Quando a luz forte atinge os olhos, as pupilas se contraem instantaneamente. Em uma parcela das pessoas, essa contração estimula, de forma involuntária, o nervo trigêmeo — e o cérebro interpreta esse estímulo como um sinal para espirrar.
Essa reação é conhecida cientificamente como espirro fótico, resultado de um cruzamento sensorial entre o nervo óptico e o trigêmeo. Ou seja, o efeito ocorre porque o cérebro recebe informação visual e, de forma equivocada, responde como se houvesse irritação nasal.
A Síndrome ACHOO: espirros causados pela luz
O nome científico desse fenômeno é Síndrome ACHOO, sigla em inglês para Autosomal Dominant Compelling Helio-Ophthalmic Outburst Syndrome. Trata-se de uma condição genética benigna que faz algumas pessoas espirrarem imediatamente quando expostas à luz intensa, seja natural ou artificial.
A síndrome é hereditária e relativamente rara. Por isso, quando alguém recomenda olhar para uma lâmpada, quando o espirro está prestes a sair, é possível que essa pessoa também tenha o mesmo reflexo sem saber. Ela apenas reproduz um mecanismo fisiológico que possui, achando que o efeito funciona para todos.
Por que nem todo mundo espirra com a luz?
Os espirros provocados pela luz não acontecem em toda a população. Estudos indicam que o reflexo é mais comum em mulheres e em pessoas com desvio no septo nasal, mas sua ocorrência depende principalmente da predisposição genética. Embora o fenômeno seja curioso, tentar induzi-lo em quem não possui a síndrome não funciona — simplesmente porque o cérebro dessas pessoas não faz a mesma associação involuntária entre os nervos responsáveis pela visão e pelo espirro.
Em resumo, olhar para a luz pode ajudar apenas quem possui essa característica genética específica. Para outros, a técnica não causa espirro algum, pois falta o mecanismo neurológico que ativa o reflexo.
Assim, o espirro desencadeado pela luz não é sinal de alergia, irritação nasal ou problema de saúde, mas sim de uma resposta neurológica rara. Uma simples confusão entre nervos transforma um estímulo visual em uma reação respiratória imediata. Ao entender esse comportamento peculiar do corpo humano, fica fácil perceber que, por trás de algo aparentemente simples, existe uma intricada comunicação entre visão, sensibilidade facial e defesa das vias aéreas.
Se alguém insistir em olhar para a luz para espirrar, provavelmente faz parte da pequena parcela da população que carrega a Síndrome ACHOO — e nem imagina que está deixando a genética revelar sua presença.
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