Algas as guardiãs invisíveis da vida na terra

Quase invisíveis aos nossos olhos, as algas desempenham um papel silencioso e monumental na manutenção da vida na Terra. Apesar de muitas vezes serem vistas apenas como incômodos em praias ou como simples vegetais aquáticos, a verdade é que essas incríveis formas de vida representam um dos pilares mais antigos e eficientes da biodiversidade planetária. Desde a produção de oxigênio até a absorção de carbono atmosférico, as algas estão intimamente ligadas à estabilidade do clima global, ao funcionamento dos oceanos e ao sustento de cadeias alimentares inteiras, inclusive a nossa.

E não para por aí. Com seus pigmentos fotossintéticos e capacidade de reprodução acelerada, elas também vêm ganhando destaque na indústria, na alimentação, na medicina e até na busca por soluções sustentáveis para o futuro energético. É curioso pensar que seres tão antigos, presentes no planeta há bilhões de anos, estejam sendo redescobertos como aliados estratégicos na luta contra as mudanças climáticas e o esgotamento de recursos.

Neste artigo, mergulharemos nas profundezas dessa história fascinante. Vamos explorar por que as algas são fundamentais para o equilíbrio ecológico da Terra, como influenciam diretamente a vida humana e quais caminhos promissores estão sendo traçados para seu uso no século XXI.

As engenheiras do oxigênio e do carbono

Pouca gente sabe, mas as algas, especialmente as microalgas marinhas, são responsáveis por cerca de 50% a 60% de todo o oxigênio produzido no planeta. Em outras palavras, mais da metade do ar que respiramos é fruto do trabalho silencioso dessas diminutas plantas aquáticas. Isso ocorre graças à fotossíntese, processo pelo qual as algas convertem dióxido de carbono e luz solar em oxigênio e glicose, regulando naturalmente a composição da atmosfera.

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Além disso, elas também funcionam como grandes sequestradoras de carbono. Em um mundo pressionado pelo aquecimento global e pela emissão desenfreada de gases de efeito estufa, esse papel é vital. Algas absorvem toneladas de CO₂ por ano e, ao afundarem no fundo dos oceanos após sua morte, parte desse carbono é armazenado por séculos no leito marinho, impedindo seu retorno imediato à atmosfera.

É um sistema de compensação que a natureza criou muito antes da existência humana. E que, ironicamente, hoje pode ser nossa maior esperança contra o colapso climático.

Algas

Base da vida marinha e da segurança alimentar

As algas também são a base da pirâmide alimentar marinha. Fitoplânctons – microalgas flutuantes nos oceanos – alimentam zooplânctons, que, por sua vez, alimentam pequenos peixes, que alimentam peixes maiores, aves e mamíferos marinhos. Retirar as algas desse ecossistema é como remover os tijolos de base de uma casa: tudo desmorona.

Essa importância ecológica também se traduz em valor econômico. Em muitas regiões costeiras do planeta, o cultivo de algas é atividade de subsistência e comércio. Algas como a nori, wakame e kombu são amplamente consumidas na culinária asiática e começam a ganhar espaço em outros mercados, inclusive no Brasil. Ricas em proteínas, fibras, minerais e vitaminas, elas são consideradas superalimentos.

No cenário global de insegurança alimentar e escassez de recursos, as algas surgem como alternativas viáveis à produção de alimentos mais sustentáveis, menos poluentes e com altíssimo valor nutritivo.

Aliadas da ciência, da energia e da medicina

Nos últimos anos, cientistas têm direcionado cada vez mais esforços para o estudo e aplicação biotecnológica das algas. Um exemplo notável é sua utilização para a produção de biocombustíveis. Algumas espécies de microalgas possuem alto teor de lipídios, que podem ser convertidos em biodiesel – um combustível limpo e renovável, que não compete com culturas alimentares como o milho ou a cana-de-açúcar.

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No campo da medicina, compostos extraídos de algas estão sendo testados para tratar doenças como Alzheimer, câncer e hipertensão. Polissacarídeos encontrados em algas vermelhas e marrons apresentam atividade antiviral, antimicrobiana e anti-inflamatória. E há até mesmo pesquisas promissoras sobre o uso de algas para regeneração de tecidos e desenvolvimento de biomateriais.

Esses avanços reforçam que estamos apenas começando a explorar o vasto potencial dessas criaturas milenares.

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Guardando os oceanos e o clima do futuro

As algas também ajudam a equilibrar o pH dos oceanos e participam do ciclo do nitrogênio e fósforo, nutrientes essenciais para o crescimento de todas as formas de vida aquática. No entanto, o desequilíbrio ambiental causado pelo ser humano vem afetando até mesmo essas resistentes formas de vida. O aumento da temperatura dos oceanos, o excesso de poluentes e fertilizantes, e a acidificação marinha estão alterando o crescimento e a distribuição das algas, o que pode ter efeitos em cascata sobre toda a cadeia alimentar marinha.

Um fenômeno preocupante é a proliferação descontrolada de algas em algumas regiões costeiras, formando o que chamamos de “marés vermelhas” ou “blooms tóxicos”. Esses eventos podem causar a morte de peixes, intoxicar outros animais marinhos e até impactar a saúde humana. O paradoxo é claro: as algas são essenciais, mas seu desequilíbrio também pode gerar desastres.

Por isso, entender o papel ecológico das algas é fundamental para formular políticas ambientais mais inteligentes e eficazes, especialmente aquelas voltadas à preservação dos oceanos e da biodiversidade marinha.

Ignorar a importância das algas é ignorar parte da base que sustenta a vida na Terra. Elas são muito mais do que plantas aquáticas esverdeadas à deriva – são arquitetas invisíveis da atmosfera, protetoras do clima, criadoras de alimento e, agora, aliadas tecnológicas na busca por soluções sustentáveis. A ciência já reconheceu esse papel. Resta à sociedade acompanhar esse reconhecimento e transformar o conhecimento em ação concreta.

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Ao valorizarmos as algas, investimos não só em biotecnologia e inovação, mas também em saúde, segurança alimentar e estabilidade ambiental. O futuro verde e azul do planeta pode depender da capacidade que temos de enxergar o invisível – e isso começa por olhar para as algas com o respeito e a atenção que elas merecem.

Preservá-las não é apenas proteger um ecossistema. É proteger a própria continuidade da vida como conhecemos.

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