Estudo aponta presença de agrotóxicos proibidos na chuva

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Estudo aponta presença de resíduos de agrotóxicos em amostras de chuva no estado de São Paulo; especialistas alertam para impactos da exposição contínua.

A água da chuva pode não ser tão pura quanto aparenta. Uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificou traços de 14 agrotóxicos em amostras de chuva coletadas em três cidades paulistas: São Paulo, Campinas e Brotas. O estudo detectou, inclusive, substâncias que estão banidas no Brasil por representarem riscos à saúde.

O trabalho científico reuniu dados obtidos entre agosto de 2019 e setembro de 2021, com um total de 49 coletas realizadas em diferentes regiões.

O objetivo era avaliar a presença de contaminantes atmosféricos em áreas com diferentes usos do solo. Todas as amostras analisadas apresentaram ao menos um composto químico relacionado ao uso agrícola.

Entre os resíduos mais recorrentes estão o herbicida atrazina, identificado em todas as amostras, e o fungicida carbendazim, presente em 88% delas — mesmo sendo uma substância proibida no país. Outra descoberta relevante foi a presença do tebuthiuron, também herbicida, detectado pela primeira vez na água da chuva, em 75% das coletas.

A equipe também destacou a presença de compostos como o 2,4-D, amplamente utilizado em lavouras de cana-de-açúcar. Este último preocupa especialistas pela sua alta capacidade de dispersão pelo ar e pelos efeitos comprovados sobre a fertilidade humana. Sua aplicação aérea já foi proibida pela Anvisa, mas o uso em solo ainda é permitido.

A explicação para a presença desses contaminantes na chuva está no comportamento dos agrotóxicos após a aplicação nas lavouras. Parte das substâncias evapora ou se transforma em partículas suspensas que acabam sendo incorporadas às gotas durante o processo de condensação na atmosfera. Com isso, a chuva se torna um vetor de redistribuição química, alcançando tanto áreas rurais quanto urbanas.

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Segundo a professora Cassiana Montagner, pesquisadora da Unicamp e orientadora do trabalho, os resultados reforçam a ideia de que a contaminação por agrotóxicos não se limita ao local de aplicação. Os ventos transportam resíduos para outras regiões, afetando ecossistemas e populações que estão longe dos centros agrícolas.

Embora os níveis encontrados nas amostras estejam abaixo dos limites considerados críticos para consumo humano, muitas das substâncias identificadas ainda não possuem parâmetros de segurança definidos pela legislação brasileira. Isso significa que, mesmo em pequenas quantidades, a exposição prolongada pode trazer prejuízos à saúde e ao meio ambiente.

A pesquisa aponta que, além da água da chuva, essas mesmas substâncias já foram detectadas em rios e em sistemas de abastecimento público, o que amplia as preocupações quanto à qualidade da água distribuída nas cidades. Ou seja, mesmo quem não consome diretamente a água da chuva pode estar em contato com os resíduos por meio da água da torneira.

Em áreas urbanas, o risco é duplo: além da ingestão de água potencialmente contaminada, há o impacto atmosférico direto da chuva com resíduos químicos. Isso reforça a necessidade de ampliar o monitoramento da qualidade da água e dos efeitos cumulativos desses compostos no organismo humano.

O estudo também aponta a presença do fipronil, um inseticida altamente tóxico para organismos aquáticos e abelhas. Detectado em dois terços das amostras, o produto tem uma alta persistência no ambiente, podendo permanecer ativo por até 220 dias em corpos d’água.

As análises foram realizadas em regiões com diferentes características de ocupação do solo. Em Brotas, por exemplo, os pesquisadores observaram maior concentração de 2,4-D, o que reflete a presença intensa de monoculturas como a cana-de-açúcar.

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Já em São Paulo e Campinas, a ocorrência de agrotóxicos reflete o transporte aéreo dessas substâncias a partir de áreas rurais vizinhas.

Para os autores, a pesquisa serve como um alerta sobre os impactos indiretos do uso intensivo de agrotóxicos no país. Embora o Brasil tenha normas que regulamentam a aplicação e comercialização desses produtos, a dispersão atmosférica ainda é pouco monitorada.

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo informou que realiza fiscalizações periódicas por meio do Programa Estadual do Uso de Agrotóxicos e Afins, com aplicação de multas para infrações ambientais. Desde março de 2024, 57 autuações foram registradas, e outros 40 processos administrativos estão em análise.

Por fim, os pesquisadores destacam que o estudo não busca causar pânico, mas incentivar a adoção de políticas públicas mais rigorosas, incentivar o uso de práticas agrícolas sustentáveis e ampliar o acompanhamento dos impactos dos agrotóxicos na água e no ar.

Estudo aponta presença de resíduos de agrotóxicos em amostras de chuva no estado de São Paulo; especialistas alertam para impactos da exposição contínua

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