Agronegócio e o impacto do acordo Mercosul-UE

O acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE), que visa promover a integração comercial entre os dois blocos, tem gerado expectativas e debates no setor agrícola brasileiro. De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a entrada em vigor desse tratado promete beneficiar uma ampla gama de produtos agrícolas, fortalecendo o papel do Brasil como um dos maiores exportadores mundiais de alimentos.

Contudo, desafios e ajustes necessários também são apontados para que o país aproveite plenamente as oportunidades que surgirão.

O acordo Mercosul-UE, cuja negociação foi concluída em 2019 após mais de 20 anos de diálogos, é considerado um dos mais ambiciosos tratados comerciais já negociados pelos dois blocos. Ele prevê a redução ou eliminação de tarifas para diversos produtos, além de estabelecer padrões regulatórios que favorecem o comércio.

Para o agronegócio brasileiro, o tratado representa uma oportunidade significativa de ampliar a participação no mercado europeu, que é reconhecido por sua alta exigência em qualidade e sustentabilidade. A CNA destaca que o Brasil, como principal potência agrícola do Mercosul, está bem posicionado para suprir a demanda por alimentos de qualidade, especialmente em produtos em que já possui liderança global.

Segundo análises da CNA, alguns produtos agrícolas brasileiros devem se destacar com a entrada em vigor do acordo. Entre eles estão a carne bovina, o açúcar, o etanol, a soja e seus derivados, além de frutas tropicais e produtos do setor lácteo.

Carne bovina: A Europa é um dos mercados mais exigentes do mundo quando se trata de carne bovina, mas também é um dos que oferecem maior valor agregado. Com o acordo, o Brasil pode se beneficiar de cotas tarifárias mais amplas e redução de barreiras, o que abrirá espaço para exportar cortes nobres com maior competitividade.

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Açúcar e etanol: Produtos como o açúcar bruto e refinado, assim como o etanol, estão entre os mais beneficiados, já que o acordo prevê uma abertura maior para esses itens. O Brasil é o maior exportador mundial de açúcar e etanol, e o aumento das exportações para a UE pode impulsionar a economia das regiões produtoras, especialmente no Centro-Sul do país.

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Soja e derivados: Embora o Brasil já seja o principal exportador de soja para o mundo, o acordo Mercosul-UE pode facilitar o acesso ao mercado europeu para produtos processados, como farelo e óleo de soja, aumentando o valor agregado das exportações.

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Frutas tropicais: Mangas, melões, abacates e outras frutas tropicais têm grande potencial de crescimento na Europa, onde a demanda por produtos exóticos e saudáveis tem crescido nos últimos anos. O Brasil, que já é um dos principais exportadores globais de frutas, pode ampliar ainda mais sua presença no mercado europeu.

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Produtos lácteos: Embora o setor enfrente desafios internos, a CNA acredita que o acordo pode estimular a competitividade do Brasil na produção de queijos e outros produtos lácteos, especialmente aqueles com potencial para atender nichos de mercado.

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Apesar do otimismo, a CNA também alerta para os desafios que o agronegócio brasileiro precisará enfrentar para aproveitar plenamente os benefícios do acordo. Um dos principais entraves é o cumprimento das exigências sanitárias e ambientais impostas pela UE, que são mais rigorosas do que as do mercado interno brasileiro.

Além disso, questões relacionadas à sustentabilidade e à rastreabilidade dos produtos ganham ainda mais relevância no contexto do acordo. A demanda por práticas agrícolas sustentáveis e a redução do desmatamento são condições impostas pela UE, o que exige maior esforço por parte do setor para alinhar-se às exigências internacionais.

Outro desafio está relacionado à competitividade. Embora o Brasil seja um dos maiores produtores agrícolas do mundo, ainda há dificuldades logísticas e tributárias que encarecem os produtos brasileiros no exterior. Investimentos em infraestrutura, modernização de processos e redução da burocracia são fundamentais para que o país possa competir de igual para igual com outros fornecedores globais.

Para que o Brasil possa maximizar os ganhos do acordo Mercosul-UE, o apoio governamental e a atuação das associações do setor, como a CNA, serão cruciais. A criação de políticas públicas que incentivem a modernização do agronegócio, o fortalecimento da diplomacia comercial e o investimento em pesquisa e desenvolvimento são algumas das ações que podem preparar o setor para as novas oportunidades.

Além disso, é necessário promover uma maior conscientização entre os produtores sobre a importância do cumprimento das normas internacionais. Programas de capacitação, certificações e incentivos para a adoção de práticas sustentáveis podem ser diferenciais importantes para garantir o acesso aos mercados europeus.

Os benefícios econômicos do acordo Mercosul-UE não se limitam ao setor agrícola. A expectativa é de que a ampliação das exportações agrícolas tenha um efeito multiplicador sobre a economia brasileira, gerando empregos e impulsionando a receita em diversas cadeias produtivas.

Regiões produtoras, especialmente aquelas mais dependentes do agronegócio, podem experimentar maior dinamismo econômico. Além disso, a maior integração com o mercado europeu pode atrair investimentos estrangeiros para o Brasil, especialmente em infraestrutura e inovação tecnológica no campo.