Agricultura familiar reivindica políticas públicas em Brasília durante o 24º Grito da Terra Brasil

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil

Agricultura familiar é uma atividade que sustenta milhares de famílias no Brasil, mas enfrenta inúmeros desafios. No dia 21 de maio, cerca de 10 mil agricultores familiares se reuniram em Brasília para participar do 24º Grito da Terra Brasil, um evento organizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) e pela Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Com mãos calejadas e rostos marcados pelo sol, esses trabalhadores fizeram ouvir suas demandas por melhores políticas públicas que possam assegurar a sustentabilidade e a viabilidade da agricultura familiar no país.

Demandas dos agricultores familiares

Do alto de um caminhão de som, líderes da Contag e da CTB apresentaram uma lista de reivindicações aos diversos ministérios responsáveis por políticas voltadas ao meio rural. As demandas incluíam estímulos governamentais para a produção sustentável e resiliente às mudanças climáticas, além da inclusão produtiva de 1,7 milhão de famílias que atualmente produzem apenas para consumo próprio.

Vânia Marques, secretária de Políticas Agrícolas da Contag e coordenadora do evento, destacou a importância de políticas sociais e alimentares que promovam a sustentabilidade. “Nossa pauta é centrada em várias questões relacionadas à produção e à reprodução da vida. Com relação à produção, apresentamos em abril ao governo propostas voltadas a políticas sociais e alimentares, sempre tendo como referência a sustentabilidade e uma produção alimentar que seja saudável para a população”, afirmou.

Agricultura familiar vs. agronegócio

Agricultores familiares do 24º Grito da Terra Brasil fazem passeata na Esplanada dos Ministérios – Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

O presidente da CTB, Adílson Araújo, destacou a discrepância entre o apoio governamental destinado ao agronegócio e à agricultura familiar. “Enquanto o governo destina R$ 364 bilhões para o agronegócio, destina apenas R$ 77,7 bilhões para a agricultura familiar, que é responsável por 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros”, argumentou. Araújo ressaltou ainda que o pequeno agricultor trabalha diretamente na terra, contribuindo para a sustentabilidade e a solidariedade comunitária, enquanto o agronegócio foca apenas em maximizar lucros, muitas vezes às custas do meio ambiente e da geração de empregos.

A regularização de terras foi uma das principais bandeiras levantadas pelos agricultores durante o evento. Valdinei Grigório de Lima, de 62 anos, relatou as dificuldades enfrentadas pelos pequenos agricultores em Vila Bela, Mato Grosso. “Nós queremos regularizar nossas posses. Trabalhamos todos juntos, comercializando produtos em um clima de muita solidariedade. Mas temos muitos problemas com alguns fazendeiros do agronegócio na região. Como são muito ricos, eles compram muitas terras, de forma a cercar as áreas dos pequenos proprietários”, disse Lima, destacando a necessidade de apoio jurídico e governamental para proteger os direitos dos agricultores familiares.

Merenda escolar

Glória Carneiro, agricultora familiar de 69 anos, ilustrou a importância da agricultura familiar para a alimentação escolar em Várzea da Roça, Bahia. “Cheguei a produzir e vender, em apenas 6 meses, 1 tonelada de cocada para distribuir entre escolas, eventos e cooperativas de alimentos. Minha casa foi construída com o dinheiro obtido a partir dessa cocada de licuri, um coco pequeno e oleoso, excelente para fazer doce. E o melhor de tudo é que ele vira um alimento bom e de qualidade para os meninos das escolas da região”, contou Glória, destacando o papel da agricultura familiar na segurança alimentar e nutricional das comunidades locais.

Integrantes do 24º Grito da Terra Brasil fazem passeata na Esplanada dos Ministérios – Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Aposentadoria e Pronaf

A agricultora familiar Gilda Lima, de 58 anos, viajou por três dias de Bom Jardim, Pernambuco, até Brasília, com o objetivo de facilitar o processo de aposentadoria dos agricultores familiares e melhorar o acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). “Queremos também políticas públicas mais voltadas às mulheres, em especial para as mães. Há muita burocracia para conseguirmos o salário maternidade. No caso do INSS, eles pedem muitas provas materiais disso e daquilo. São muitas dificuldades para o agricultor idoso, que acaba tendo de se deslocar demais para conseguir aquilo que lhes é de direito”, relatou Gilda, que produz milho, feijão, fava, mandioca, batata, galinha e ovo em sua propriedade.

Conclusão

Agricultora familiar Gilda Lima, de Bom Jardim, (PE), participa da passeata do 24º Grito da Terra Brasil – Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

O 24º Grito da Terra Brasil destacou a importância da agricultura familiar para a sustentabilidade e a segurança alimentar do país. As demandas apresentadas pelos agricultores familiares em Brasília refletem a necessidade urgente de políticas públicas que apoiem essa forma de agricultura, que é responsável por grande parte dos alimentos consumidos no Brasil. O evento foi um lembrete poderoso de que, apesar dos desafios, a agricultura familiar continua a ser um pilar essencial da sociedade brasileira, necessitando de reconhecimento e apoio adequado para prosperar.

A luta desses agricultores é um exemplo de resistência e dedicação à terra, e suas demandas ecoam a importância de uma produção agrícola sustentável e solidária, que beneficia não apenas as famílias que trabalham no campo, mas toda a população.

Fonte: Agência Brasil

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