A identificação da origem de um afresco saqueado de Pompeia reacendeu o interesse internacional sobre a proteção do patrimônio histórico e os caminhos percorridos por obras roubadas ao longo das últimas décadas. Após uma investigação detalhada, especialistas do Parque Arqueológico de Pompeia confirmaram que um fragmento de mural representando Hércules ainda bebê, em luta contra uma serpente, teve como local original uma luxuosa vila romana situada nos arredores da antiga cidade soterrada pela erupção do Vesúvio.
O fragmento havia sido repatriado dos Estados Unidos para a Itália em 2023, mas sua procedência exata permanecia indefinida. Agora, com base em estudos técnicos e comparações arqueológicas, os pesquisadores conseguiram reconstruir parte da história dessa obra, lançando nova luz sobre o alcance dos saques ilegais ocorridos na região ao longo do século XX.
Investigação aponta ligação com Civita Giuliana
Segundo informações divulgadas pela ArtNet News, a análise conduzida por arqueólogos italianos indica que o afresco pertenceu à área conhecida como Civita Giuliana, onde foi identificada uma vila romana de alto padrão, já famosa por outras descobertas relevantes nos últimos anos. A propriedade ficava fora do perímetro urbano de Pompeia e contava com estruturas refinadas, típicas da elite romana da época.
O fragmento de Hércules bebê teria integrado uma luneta localizada na parte superior da parede posterior de um sacrário, espécie de capela privada presente na residência. Esse espaço religioso doméstico era um dos ambientes mais decorados da vila, reforçando a importância simbólica e cultural da pintura.
As investigações apontam que as paredes da capela eram originalmente revestidas por 12 painéis pintados, todos eles saqueados antes de escavações oficiais no local. Acredita-se que essas pinturas formavam um conjunto iconográfico dedicado aos 12 trabalhos de Hércules, uma das narrativas mitológicas mais populares da Roma Antiga.

O fragmento recuperado, que mostra Hércules ainda bebê enfrentando uma serpente, representa um episódio inicial da mitologia do herói e funcionaria como uma introdução simbólica ao ciclo completo de seus feitos. Para os pesquisadores, a escolha do tema revela tanto a devoção religiosa dos antigos moradores quanto o desejo de associar a residência a valores como força, proteção e heroísmo.
O retorno do afresco à Itália, ocorrido em 2023, foi resultado de um processo de cooperação internacional envolvendo autoridades culturais e jurídicas. Casos como esse têm se tornado mais frequentes, à medida que museus, colecionadores e governos intensificam a revisão da procedência de obras adquiridas no passado.
A identificação precisa do local de origem reforça a importância dessas iniciativas, pois permite reintegrar o objeto ao seu contexto histórico e arqueológico, ampliando seu valor científico e cultural. Para os responsáveis pelo Parque Arqueológico de Pompeia, a descoberta representa um avanço significativo no combate ao tráfico de antiguidades.
Buscas continuam por outros afrescos desaparecidos
Apesar do progresso, o trabalho está longe de concluído. As autoridades italianas seguem empenhadas em localizar os demais painéis que decoravam a capela da vila de Civita Giuliana. A expectativa é de que novas pistas surjam a partir de arquivos, coleções privadas e investigações em andamento no mercado internacional de arte.
Cada obra recuperada ajuda a recompor um capítulo perdido da história de Pompeia e evidencia os danos causados por décadas de saques ilegais. Ao mesmo tempo, esses esforços reforçam a mensagem de que o patrimônio cultural não deve ser tratado como mercadoria, mas como herança coletiva da humanidade.
A confirmação da origem do afresco de Hércules bebê representa mais do que uma vitória acadêmica. Trata-se de um passo importante na preservação da memória histórica e na valorização de Pompeia como um dos mais relevantes sítios arqueológicos do mundo. Ao devolver contexto a uma obra fragmentada pela ação humana, a arqueologia reafirma seu papel essencial na defesa do passado e na construção de um futuro mais consciente sobre a importância da cultura.
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