Adolescente tentava fugir da grave crise humanitária do Afeganistão e sobreviveu ao voo em condições quase impossíveis.
Um adolescente de 13 anos sobreviveu após se esconder no compartimento do trem de pouso de um avião que partiu de Cabul, no Afeganistão, e pousou em Nova Délhi, na Índia. O voo durou quase duas horas, em uma rota de aproximadamente mil quilômetros operada pela companhia local Kam Air. O caso, confirmado pelo jornal Clarín, chamou a atenção de especialistas em aviação, que destacaram ser praticamente impossível resistir a essa viagem devido ao frio intenso e à falta de oxigênio em grandes altitudes.
O jovem, natural da província de Kunduz, foi localizado pelas autoridades indianas logo após o pouso e devolvido ao Afeganistão, sendo entregue ao regime talibã, que se autodenomina Emirado Islâmico. A direção do aeroporto de Cabul confirmou o retorno “de maneira segura”. Ainda não se sabe como o menor conseguiu entrar no terminal aéreo e acessar a aeronave sem ser identificado.
As motivações da tentativa não foram oficialmente confirmadas, mas a suspeita é de que o adolescente buscava escapar da grave crise humanitária e das restrições impostas pelo regime talibã, que retomou o poder em agosto de 2021. Desde então, a economia entrou em colapso estrutural, e cerca de 23 milhões de pessoas dependem de ajuda humanitária, segundo a ONU. Atualmente, mais de 65% da população vive abaixo da linha da pobreza.
O alto custo das passagens aéreas é outro fator que impede grande parte da população de deixar o país. Um bilhete de ida e volta entre Cabul e Nova Délhi pode ultrapassar US$ 700, valor equivalente a R$ 3,6 mil, inacessível para a maioria dos afegãos. Poucas companhias oferecem voos internacionais a partir da capital, entre elas Kam Air, Flydubai, Air Arabia, Turkish Airlines e Ariana Afghan Airlines.
A tentativa extrema do garoto reflete o desespero de milhares de afegãos que buscam sair do país desde a volta dos talibãs ao poder. O grupo governou o Afeganistão sob forte repressão até 2001, retomou o controle em 2021 e manteve por décadas confronto contra forças da Otan lideradas pelos Estados Unidos, em uma guerra que deixou milhares de mortos entre soldados e civis.
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