Adaga minoica de 3.600 anos encontrada em naufrágio mais antigo do mundo

No fundo do Mar Mediterrâneo, na costa de Kumluca, em Antalya, Turquia, uma das mais emocionantes descobertas arqueológicas dos últimos anos está revelando segredos que ficaram escondidos por milênios.

Trata-se de uma adaga de bronze com rebites de prata, datada de aproximadamente 3.600 anos, encontrada em um naufrágio que remonta à época da misteriosa civilização cretense-minoica. Escondida no fundo do mar desde o século XVI a.C., essa peça rara lança nova luz sobre o passado marítimo e comercial de uma das civilizações mais fascinantes da história.

A descoberta foi anunciada pelo Ministro da Cultura e Turismo da Turquia, Mehmet Nuri Ersoy, em uma publicação nas redes sociais, destacando a importância dessa peça única na compreensão da era minoica. A adaga foi encontrada durante as escavações subaquáticas lideradas por Hakan Öniz, da Universidade de Akdeniz, que iniciou os trabalhos em julho e agosto de 2019.

Com a autorização do Ministério da Cultura e Turismo, a equipe de arqueólogos mergulhou nas profundezas do Mediterrâneo, desenterrando relíquias que contam uma história de comércio, poder e tragédia no mundo antigo.

Um naufrágio que desafia o tempo e a história

O naufrágio, localizado a 50 metros de profundidade, é um dos mais antigos já encontrados no mundo e acredita-se que seja o mais antigo da Idade do Bronze. A embarcação, com cerca de 14 metros de comprimento, transportava uma carga valiosa de lingotes de cobre, pesando aproximadamente 1,5 toneladas, provenientes das minas de Troodos, em Chipre.

Os pesquisadores acreditam que o navio estava navegando em direção a Creta quando encontrou seu destino trágico, afundando próximo à costa da antiga Lícia.

Além da adaga, os arqueólogos descobriram pesos de chumbo que não se assemelham a nenhum outro encontrado entre os 350 naufrágios já identificados no Mediterrâneo.

Utilizando tecnologia de ponta, como pesquisas de sonar e mosaicos fotográficos, a equipe documentou cada detalhe do naufrágio, criando varreduras tridimensionais que ajudam a reconstruir a história do navio e de sua carga.

A importância da adaga minoica e seus segredos ocultos

A adaga minoica é mais do que um simples artefato, é uma peça chave para entender as práticas comerciais e as redes de influência da civilização cretense.

Os minoicos eram navegadores habilidosos e seus navios facilitavam o transporte de mercadorias por grandes distâncias, estabelecendo Creta como um centro comercial crucial no Mediterrâneo oriental. Esta civilização floresceu graças às suas extensas redes de comércio que se estendiam até o Egito, Levante, Anatólia, Chipre e o continente grego.

Os minoicos eram especialmente conhecidos por sua habilidade em trabalhar metais, e o cobre, crucial para a fabricação de bronze, era uma das commodities mais valiosas de seu comércio.

A adaga encontrada em Antalya, com seus rebites de prata, é um testemunho do nível de sofisticação alcançado pela metalurgia minoica, e indica que possivelmente era um item de luxo ou tinha um uso cerimonial.

Tecnologia e métodos modernos nas escavações subaquáticas

A escavação do naufrágio em Kumluca é um exemplo de como a arqueologia subaquática está evoluindo com o uso de tecnologias modernas.

Para minimizar erros e danos aos artefatos, a equipe de Hakan Öniz utilizou pesquisas de sonar e varreduras fotográficas para criar imagens tridimensionais precisas dos objetos encontrados. Essas técnicas permitiram documentar com precisão a posição dos lingotes de cobre e da adaga, além de outros itens recuperados.

Essas imagens tridimensionais revelaram que o cobre transportado pelo navio era moldado em Chipre, um dos principais centros de extração e produção desse metal na Idade do Bronze.

Os lingotes eram então comercializados com outras civilizações, como os minoicos, que dependiam do cobre para produzir ferramentas, armas e outros artefatos de bronze.

O papel dos minoicos no comércio do Mediterrâneo

Há cerca de 3.600 anos, a civilização minoica dominava as rotas comerciais do Mediterrâneo oriental. Os minoicos exportavam azeite, vinho, cerâmica e manufaturavam artefatos de bronze, trocando essas mercadorias por metais preciosos, marfim, ouro e outros bens de luxo.

A descoberta do naufrágio próximo à costa da antiga Lícia sugere que a embarcação fazia parte de uma dessas rotas comerciais vitais, transportando cobre de Chipre para Creta.

Os minoicos também desempenhavam um papel importante na conexão entre as civilizações do Mediterrâneo. Acredita-se que mantinham relações comerciais com o Egito, e possivelmente até pagavam tributos em cobre para garantir o acesso a rotas seguras e mercadorias valiosas.

Essa interconexão entre culturas é evidente nos artefatos encontrados no naufrágio, que refletem a mistura de influências e a vasta rede de comércio da qual os minoicos faziam parte.

A descoberta da adaga minoica na costa de Antalya não é apenas uma revelação fascinante do passado, mas também um marco na arqueologia subaquática moderna. Ela nos lembra da importância das rotas comerciais antigas e da influência que a civilização minoica exerceu no desenvolvimento cultural e econômico do Mediterrâneo.

Com os avanços tecnológicos, como varreduras tridimensionais e técnicas de preservação subaquática, os arqueólogos agora têm a capacidade de explorar e entender esses naufrágios de maneiras antes inimagináveis.

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