Rio Laguna, comunidade São José, em Melgaço, na Ilha de Marajó — Foto: Foto: Marcelo Lelis/Agência Pará/2018
A Ilha de Marajó, um paraíso natural no estado do Pará, enfrenta há décadas um lado sombrio que contrasta com sua beleza: a exploração sexual infantil. Recentemente, esse tema voltou a ser discutido com fervor na internet e na mídia, após a cantora gospel paraense Aymeê trazer à tona, durante sua participação no reality show “Dom Reality”, as dolorosas realidades vividas pelas crianças da região. A denúncia não só reacendeu o debate sobre a situação na Ilha de Marajó mas também destacou a persistência de práticas abomináveis contra menores em áreas marcadas pela pobreza e abandono.
Na última sexta-feira, 16 de fevereiro, a performance de Aymeê no “Dom Reality” não apenas emocionou os jurados mas também chocou o público com sua mensagem. Interpretando uma canção que falava sobre o desaparecimento de crianças na Ilha de Marajó, a cantora descreveu cenas de tráfico de órgãos, pedofilia extrema e prostituição infantil, praticadas por turistas e locais em meio à vulnerabilidade social da região.
Veja a apresentação da jovem pelo “X”
A situação descrita por Aymeê, infelizmente, não é novidade. Desde 2006, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados vem tentando investigar e combater a exploração sexual de crianças na ilha. Documentos da época apontavam o envolvimento de políticos locais e aliciadores que transportavam menores para fins sexuais até mesmo para fora do país, evidenciando a complexidade e gravidade do problema.
As declarações recentes trouxeram novamente à tona a necessidade de ações concretas para proteger as crianças de Marajó. Em 2022, a então ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, fez denúncias semelhantes, que resultaram em pedidos por parte do Ministério Público do Pará e de procuradores da República para que provas fossem apresentadas, evidenciando a dificuldade em combater essas violações sem a devida documentação e testemunhos concretos.
O caso de Damares Alves, que chegou a ser processado por disseminar informações consideradas falsas, ilustra os desafios enfrentados por ativistas e autoridades na luta contra a exploração infantil: a necessidade de equilibrar denúncias com evidências sólidas, a fim de evitar desinformação e garantir que os verdadeiros culpados sejam responsabilizados.
A situação na Ilha de Marajó é um lembrete doloroso de que, por trás das belezas naturais do Brasil, existem realidades de exploração e violência que exigem atenção urgente. A coragem de pessoas como Aymeê ao denunciar esses crimes é um passo crucial para trazer essas questões à luz e mobilizar a sociedade e as autoridades para a ação. A luta contra a exploração sexual infantil em Marajó, e em outras partes do mundo, requer um esforço contínuo, colaboração entre diferentes setores da sociedade e, acima de tudo, a vontade política para implementar medidas efetivas de proteção às vítimas e punição aos agressores. Que as vozes das crianças de Marajó sejam ouvidas e que suas vidas possam, finalmente, refletir a paz e a beleza que sua terra natal naturalmente ostenta.
Fonte: O Tempo