O chinelo de dedo, um dos calçados mais simples já inventados, ganhou destaque mundial graças a uma marca brasileira icônica: as Havaianas. O que começou como um produto modesto e econômico se transformou em um império global, vendido por US$ 1 bilhão em 2017. A história das Havaianas teve início em 1962, quando o primeiro par de chinelos “Tradi” foi desenvolvido no Brasil. Inspirados pelas sandálias japonesas “Zori”, os primeiros modelos eram simples, feitos de borracha e possuíam a textura de grãos de arroz na palmilha. Ainda que carecessem de atrativos visuais, esses chinelos ganharam notoriedade rapidamente devido ao seu baixo custo.
Dois anos depois, em 1964, a empresa patenteou seus chinelos de dedo de borracha, consolidando sua posição como os “legítimos” no mercado. Nesse período, vendedores ambulantes percorriam o Brasil em Kombis, estacionando em frente ao comércio local, atraindo a atenção dos transeuntes que desejavam não apenas adquirir chinelos, mas também ouvir notícias da cidade grande.
Uma das curiosidades mais marcantes da história das Havaianas é que esses chinelos se tornaram um item essencial para a população brasileira. Nos anos 1980, o Ministério da Fazenda incluiu os chinelos na lista de produtos com preços tabelados pelo governo, permitindo que as pessoas os comprassem mesmo com os ajustes inflacionários.
Nesse período, as Havaianas tornaram-se acessíveis tanto para os mais ricos quanto para os mais pobres. A empresa diversificou sua linha de produtos e estabeleceu parcerias com outras marcas, o que resultou em uma ampla gama de preços. Dessa forma, os brasileiros de diferentes classes sociais podiam adquirir os chinelos, desde os modelos mais simples até os mais sofisticados, impulsionando ainda mais a popularidade da marca.
A virada internacional das Havaianas começou em 1999, quando o estilista Jean Paul Gaultier incorporou os chinelos em seus desfiles de moda. Isso marcou o ingresso da marca brasileira no universo da moda, abrindo portas para colaborações com renomados designers internacionais.
Ano após ano, as Havaianas continuaram inovando, lançando modelos cada vez mais modernos, incluindo edições especiais com pedrarias e bordados customizados à mão. A marca foi se consolidando como um ícone de estilo e conforto em todo o mundo.
Apesar de ser um ícone brasileiro, a Havaianas não está isenta de polêmicas. A empresa Alpargatas, que fabrica os chinelos, pertencia ao grupo J&F, envolvido em um dos maiores escândalos de corrupção do Brasil em 2017. As acusações de suborno por parte de Joesley Batista, presidente do frigorífico do grupo, abalaram a empresa, que posteriormente foi multada em mais de R$ 10 bilhões.
No entanto, a resiliência da marca é notável. A Havaianas parece ter sido poupada desse processo, demonstrando a profunda conexão emocional que ela estabeleceu com os brasileiros. Hoje, sob a nova propriedade de três grupos bancários nacionais, as Havaianas continuam a ser um símbolo do Brasil, cativando corações não apenas no país, mas também em todo o mundo.
A história das Havaianas é uma prova do poder da simplicidade e da capacidade de uma marca se reinventar ao longo do tempo. O chinelo de dedo que começou como um produto econômico no Brasil conquistou o mundo, tornando-se um ícone da cultura e do estilo brasileiro. Mesmo enfrentando desafios e polêmicas, as Havaianas continuam a prosperar, mantendo sua posição especial no coração dos brasileiros e de admiradores ao redor do globo.