Quando se pensa no Peru e em suas icônicas maravilhas arqueológicas, é natural que a mente viaje instantaneamente para Machu Picchu, o monumento inca mais conhecido e visitado do país. Anualmente, centenas de milhares de turistas de todo o mundo desembarcam em terras peruanas para contemplar as majestosas ruínas dessa antiga cidadela incas. No entanto, existe um tesouro arqueológico igualmente impressionante, mas menos explorado: Choquequirao, muitas vezes chamada de “a outra Machu Picchu”. Neste artigo, exploraremos a história, a beleza e os desafios de visitar esse fascinante local escondido nas alturas dos Andes peruanos.
O Desafio de Chegar a Choquequirao
A primeira coisa que os visitantes de Choquequirao devem entender é que a jornada até esse local isolado da cordilheira dos Andes exige tempo e esforço consideráveis. O acesso é um verdadeiro desafio, já que não existem estradas que levem diretamente a Choquequirao. Aqueles que desejam explorar suas ruínas geralmente começam sua jornada voando para Cusco, a cidade mais próxima, e depois dirigindo várias horas até a cidade de Capuliyoc, onde a aventura começa.
Choquequirao está situada a uma altitude de mais de 3.000 metros acima do nível do mar, e as temperaturas podem ser bastante frias em determinadas épocas do ano. Além disso, os efeitos da altitude, conhecidos como soroche, podem afetar os viajantes, tornando a preparação física e mental essencial para enfrentar a jornada.
O terreno acidentado, que inclui obstáculos como o rio Apurímac e o pico nevado Padreyoc, faz com que a caminhada seja desafiadora, mas ao mesmo tempo incrivelmente recompensadora para os amantes das trilhas. Alguns moradores locais oferecem serviços de guia para orientar os viajantes e mulas para carregar equipamentos durante a subida, facilitando a experiência.
Choquequirao: Um Tesouro Escondido
Aqueles que têm a coragem de enfrentar essa jornada épica são recompensados com uma experiência única. Guillaume Flor, um turista francês que visitou Choquequirao com sua família, descreveu a experiência como “extraordinária” e destacou a sensação de estar em um local menos lotado do que Machu Picchu. Segundo ele, “Choquequirao é um lugar mágico onde se pode admirar a arquitetura dos incas. É menor que Machu Picchu, mas a presença de tantos turistas por lá mata um pouco a magia. Quando fomos, não havia mais de dez pessoas em Choquequirao”.
Os arqueólogos acreditam que o complexo de Choquequirao foi construído por volta do ano 1450, durante o auge do poder inca. Pieter Van Dalen, especialista em cultura inca da Universidad Nacional Mayor de San Marcos, afirma que “Choquequirao foi construído quando os incas tentavam replicar seu domínio em todo o império, subjugando outras cidades e estabelecendo assentamentos semelhantes a Cusco, a capital dos incas e o centro de seu mundo.”
Embora não se saiba com certeza qual era a função exata de Choquequirao, especula-se que tinha uma dimensão religiosa e servia como um ponto de conexão entre Machu Picchu e outros locais estratégicos dos incas na região amazônica. Sua localização remota também alimentou a teoria de que Choquequirao pode ter sido um dos últimos redutos da resistência inca contra os conquistadores espanhóis nas primeiras décadas do século XVI.
O Resgate de Choquequirao
Depois da conquista espanhola e do subsequente colapso do império inca, Choquequirao foi abandonada e esquecida por séculos. Foi somente em 1993 que as escavações arqueológicas começaram a revelar seus segredos e a resgatar essa joia histórica da obscuridade. De acordo com o Ministério da Cultura do Peru, cerca de 60% dos vestígios arquitetônicos encontrados foram destacados.
Hoje, Choquequirao é dividida em doze setores, onde as estruturas e edifícios deixados pelos incas estão relativamente bem preservados. Destacam-se as Moradias dos Padres, as Casas Principais com acesso à praça, e os Terraços das Lhamas, com suas representações dos camelídeos andinos.
A poucos quilômetros do parque arqueológico encontra-se a aldeia de Marampata, o centro habitado mais próximo, onde cerca de 40 famílias vivem da agricultura e do turismo, recebendo cerca de 9.800 visitantes por ano, de acordo com dados oficiais. Ao contrário de Machu Picchu, onde a pressão do turismo se tornou uma preocupação para sua conservação, o turismo em torno de Choquequirao permanece em pequena escala e é administrado principalmente pelos habitantes locais.
O Futuro de Choquequirao
O governo peruano, sob a liderança de Dina Boluarte, tem planos ambiciosos para facilitar o acesso de turistas a esse lugar remoto. A proposta inclui a construção de um teleférico que permitiria aos visitantes chegar a Choquequirao em cerca de 30 minutos, uma redução drástica em relação aos vários dias de caminhada atualmente necessários.
No entanto, esse projeto enfrenta desafios significativos, uma vez que abrangeria territórios dos Departamentos de Cusco e Apurímac, e é alvo de disputas entre diferentes populações que desejam se beneficiar do desenvolvimento e do fluxo de visitantes. No Peru, os conflitos sociais relacionados à exploração de recursos e construção de infraestrutura são comuns, o que torna a aprovação do projeto uma tarefa difícil.
Para os amantes de aventura que buscam explorar destinos menos conhecidos, a incerteza em torno do teleférico pode ser vista como uma boa notícia. Enquanto o debate continua, Choquequirao mantém seu charme e romantismo originais, proporcionando uma experiência única para aqueles dispostos a enfrentar seus desafios e descobrir sua beleza escondida. E, à medida que o interesse pelo local cresce, a preservação de Choquequirao como uma jóia histórica e cultural permanece uma prioridade essencial.