A maior descoberta arqueológica do México em 2024

Em 2024, arqueólogos realizaram uma descoberta impressionante no estado de Campeche, no sul do México. Sob a densa vegetação da selva, repousava Valeriana, uma vasta cidade maia que permaneceu oculta por mais de um milênio.

Utilizando a avançada tecnologia de sensoriamento remoto Lidar (Light Detection and Ranging), os pesquisadores mapearam 6.674 estruturas, incluindo pirâmides, praças, anfiteatros e uma complexa rede de vias que conectavam áreas urbanas. Essa descoberta está mudando a percepção sobre a densidade e sofisticação dos antigos assentamentos maias.

O Lidar foi a chave para revelar a existência de Valeriana. Essa tecnologia emite pulsos de laser que atravessam a vegetação e retornam informações detalhadas sobre o terreno abaixo, permitindo a criação de imagens tridimensionais. Embora amplamente utilizada para estudos ambientais, sua aplicação na arqueologia revolucionou a investigação de regiões densamente florestadas, como as selvas mexicanas.

No caso de Valeriana, o Lidar revelou um nível de densidade populacional e urbanização anteriormente desconhecido. Estruturas semelhantes às pirâmides de Chichén Itzá e Tikal foram mapeadas, assim como praças cerimoniais e vias que sugerem um planejamento urbano complexo.

No auge de sua ocupação, entre os anos 750 e 850 d.C., Valeriana abrigava entre 30.000 e 50.000 habitantes. Esse número impressiona não apenas pela escala, mas também porque excede a população atual da região. A cidade exibe características de um grande centro urbano, como residências complexas, infraestrutura agrícola avançada e locais cerimoniais dedicados a rituais religiosos e políticos.

Os achados também apontam para uma organização social sofisticada, com hierarquias políticas e uma economia diversificada. Reservatórios de água, indicativos de gestão hídrica eficiente, reforçam a ideia de que os maias eram mestres em aproveitar os recursos naturais disponíveis, garantindo a sustentabilidade de grandes populações.

A descoberta de Valeriana representa um marco para a arqueologia. Mais do que identificar uma nova cidade, ela desafia conceitos estabelecidos sobre os maias. Historicamente, acreditava-se que as cidades maias eram menos densamente povoadas e menos organizadas do que outras grandes civilizações antigas. Valeriana, no entanto, apresenta evidências de uma civilização altamente urbanizada e adaptada ao ambiente tropical.

Além disso, Valeriana demonstra como o uso de tecnologias modernas, como o Lidar, está redefinindo o campo da arqueologia. O professor Marcello Canuto, coautor do estudo, ressalta que essas ferramentas permitem mapear grandes áreas em um curto período, algo que antes demandava décadas de trabalho manual.

Valeriana não foi o único destaque arqueológico do México em 2024. No sítio maia de Cobá, na Península de Yucatán, arqueólogos descobriram uma tábua com 123 placas hieroglíficas. Esses registros oferecem novos insights sobre a organização política e cultural da civilização Cobá, que floresceu há mais de mil anos.

Outro achado importante ocorreu em Quintana Roo, na zona arqueológica de Dzibanché, onde foram desenterradas três fachadas com relevos maias ligados à dinastia Kaanu’l. Essas obras detalham cenas mitológicas e ancestrais, revelando aspectos do poderio e da influência dessa dinastia sobre a região.

Apesar de seu esplendor, Valeriana, como outras cidades maias, não foi capaz de resistir às adversidades climáticas e sociais. Estudos sugerem que o colapso da civilização maia, por volta de 800 d.C., foi agravado por mudanças climáticas severas, como longos períodos de seca.

A densidade populacional de cidades como Valeriana teria tornado difícil sustentar grandes grupos durante essas crises, levando ao abandono gradual dos centros urbanos. A chegada de colonizadores espanhóis no século 16 completou o processo de declínio, erradicando muitas das estruturas políticas e sociais que sustentavam as cidades-Estado maias.

A aplicação do Lidar na arqueologia ainda está em seus estágios iniciais, mas já transformou profundamente o campo. Enquanto técnicas tradicionais exigiam inspeções lentas e detalhadas, o Lidar permite que pesquisadores mapeiem vastas áreas rapidamente, revelando segredos que antes estavam fora de alcance.

No entanto, como destaca Luke Auld-Thomas, um dos pesquisadores envolvidos na descoberta de Valeriana, o volume de novas cidades identificadas supera a capacidade atual de estudo. “Descobrimos mais do que conseguimos investigar”, observa ele, ressaltando que a arqueologia enfrenta o desafio de equilibrar novas descobertas com a necessidade de preservação e análise detalhada.