Poucos lugares no planeta evocam tanta curiosidade e inquietação quanto as zonas de desaparecimento misterioso no mar. Ao lado do lendário Triângulo das Bermudas, há um outro ponto do mapa que intriga navegadores, estudiosos e amantes de enigmas: o Triângulo do Diabo, também chamado de Triângulo do Dragão. Localizado no Oceano Pacífico, ao sul do Japão, esse território marítimo acumula uma série de relatos sobre embarcações desaparecidas, aeronaves sem rastros, anomalias magnéticas e estranhos fenômenos naturais.
Mas afinal, qual é a origem dessa fama sombria? O que é mito, o que é exagero e o que a ciência tem a dizer sobre os eventos registrados nesta região? Neste artigo, mergulhamos na história do Triângulo do Dragão, explorando relatos históricos, hipóteses modernas e o papel das narrativas culturais na perpetuação de um dos maiores mistérios do Pacífico.
O que é o Triângulo do Dragão: localização e primeiros registros
O Triângulo do Dragão é uma área do Oceano Pacífico que forma um triângulo imaginário entre o arquipélago japonês, a ilha de Guam e o arquipélago das Ilhas Mariana. Ele é frequentemente chamado de Ma no Umi — “Mar do Diabo” — pelos japoneses, nome que remonta a registros antigos sobre desaparecimentos inexplicáveis de navios de pesca e embarcações comerciais.
A comparação com o Triângulo das Bermudas não é à toa. Assim como sua contraparte atlântica, essa região ganhou fama por ser palco de eventos incomuns: desde sumiços de embarcações inteiras até relatos de luzes misteriosas e falhas inexplicáveis em equipamentos de navegação. Em especial, a área próxima à ilha de Iwo Jima e à Fossa das Marianas concentra o maior número de casos.
Alguns estudiosos relacionam os primeiros relatos ao século XIII, quando o imperador Kublai Khan, da Mongólia, teria tentado invadir o Japão com uma frota de centenas de navios — quase todos engolidos por uma tempestade súbita e devastadora. Os japoneses acreditaram, à época, que foram salvos pelos deuses, e batizaram o fenômeno de kamikaze, o “vento divino”.
A lenda ganha força: navios-fantasmas e fenômenos inexplicáveis
A notoriedade do Triângulo do Diabo se intensificou a partir da década de 1950, especialmente após o desaparecimento de cinco embarcações militares japonesas entre 1952 e 1954. Estima-se que mais de 700 pessoas foram dadas como mortas ou desaparecidas em eventos ligados à região nesse período. O governo japonês chegou a organizar uma expedição de pesquisa com um navio científico, o Kaio Maru No. 5, que também desapareceu misteriosamente, alimentando ainda mais as teorias sobre a “maldição do Pacífico”.
Ao longo dos anos, acumulou-se uma série de relatos, como:
- Luzes não identificadas sobre o mar
- Variações anômalas no campo magnético
- Pontos de interferência em radares e bússolas
- Sons submarinos inexplicáveis registrados por hidrofonia
- Embarcações à deriva sem tripulação (os chamados “navios-fantasmas”)
Esses elementos reforçaram a ideia de que algo fora do comum se esconde sob as águas profundas e insondáveis dessa parte do Pacífico.
Entre dragões e geociências: as teorias para o Triângulo do Diabo
Como em todo grande mistério marítimo, não faltam teorias para tentar explicar os acontecimentos do Triângulo do Dragão. Algumas são mais lendárias, outras embasadas em ciência. Abaixo, destacamos as principais:
- Teoria dos gases metano-hidratos: Assim como no Triângulo das Bermudas, cientistas sugerem que grandes bolhas de metano, liberadas por instabilidade no fundo oceânico, poderiam desestabilizar embarcações, fazendo-as afundar abruptamente e sem vestígios. A Fossa das Marianas é uma zona geologicamente ativa, com potencial para liberar essas substâncias.
- Atividade vulcânica e sísmica: A região é parte do “Anel de Fogo do Pacífico”, um cinturão com alta atividade tectônica. Isso implica terremotos submarinos, tsunamis, erupções e movimentos de placas que podem criar correntes traiçoeiras e confundir equipamentos de navegação.
- Anomalias magnéticas naturais: A presença de formações rochosas com alta concentração de magnetita pode interferir nos campos magnéticos da Terra, desorientando instrumentos e causando falhas de navegação.
- Fenômenos meteorológicos extremos: Ciclones, tufões e tempestades tropicais ocorrem com frequência nessa zona marítima, podendo afetar a visibilidade, o equilíbrio das embarcações e os sistemas de comunicação.
- Explicações míticas e espirituais: Algumas culturas da Ásia atribuem os desaparecimentos à presença de dragões marinhos ou espíritos guardiões do oceano. O nome “Triângulo do Dragão” é uma herança direta dessas crenças. Para muitos pescadores tradicionais, trata-se de um território sagrado e perigoso, a ser respeitado.
Ceticismo e explicações científicas: o que dizem os especialistas
Apesar da aura de mistério, pesquisadores contemporâneos sustentam que o número de desaparecimentos no Triângulo do Dragão não excede o esperado para uma zona marítima de tráfego intenso e geologia ativa. As estatísticas de acidentes marítimos, segundo a Guarda Costeira do Japão, são compatíveis com outras regiões semelhantes em extensão e complexidade.
Além disso, muitos dos “casos misteriosos” foram revisados com o tempo e explicados por fenômenos naturais ou falhas humanas — como má manutenção de embarcações, falta de preparação para mudanças climáticas abruptas ou negligência na leitura de mapas náuticos.
A ideia de que a Marinha japonesa abandonou expedições por medo sobrenatural também é contestada. O desaparecimento do Kaio Maru No. 5, por exemplo, teria ocorrido em meio a uma violenta erupção submarina, o que justificaria o naufrágio.
Contudo, o fascínio permanece — e talvez não se deva apenas aos eventos em si, mas ao poder das histórias que o mar insiste em guardar.
O Triângulo do Dragão na cultura pop e na imaginação coletiva
Assim como o Triângulo das Bermudas, o Triângulo do Dragão inspirou livros, documentários, mangás e filmes. Desde séries de investigação paranormais até ficções científicas, ele aparece como cenário de segredos insondáveis.
Em algumas versões, é associado a bases submarinas secretas, civilizações perdidas ou até portais interdimensionais. Outras obras o colocam como “irmão” do Triângulo das Bermudas, formando uma espécie de “eixo sobrenatural” no planeta.
Essa presença constante no imaginário popular reforça o mistério e perpetua as narrativas, ainda que desprovidas de comprovação. Afinal, o desconhecido sempre será combustível para a criatividade humana — e o mar, com sua vastidão silenciosa, é o palco perfeito para isso.
A história do Triângulo do Diabo — ou do Dragão — é um entrelaçamento fascinante de fatos, medos, cultura e ciência. Sua fama se construiu não apenas pelos desaparecimentos registrados, mas pelo que representam: a persistência do desconhecido em uma era que acredita saber tudo. Enquanto as explicações técnicas tentam racionalizar os eventos, a imaginação popular continua alimentando um território onde o místico e o lógico se encontram.
Talvez seja esse o maior poder do Triângulo do Dragão: lembrar-nos de que, por mais que avancemos em conhecimento, sempre existirão lugares — e mistérios — que desafiarão nossa compreensão e nos farão voltar os olhos ao horizonte com o mesmo espanto dos navegadores antigos.
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Formada em técnico em administração, Nicolle Prado de Camargo Leão Correia é especialista na produção de conteúdo relacionado a assuntos variados, curiosidades, gastronomia, natureza e qualidade de vida.