A história do Oriente Médio

O Oriente Médio é, sem dúvida, um dos berços mais ricos e enigmáticos da história humana. Território onde surgiram algumas das primeiras cidades do mundo, as grandes religiões monoteístas e importantes impérios da Antiguidade, essa região transcende os mapas e invade o imaginário global com suas paisagens áridas, suas rotas comerciais milenares e sua centralidade nos grandes embates da geopolítica contemporânea.

Da Mesopotâmia à Jerusalém moderna, do califado islâmico à Guerra do Golfo, entender a história do Oriente Médio é compreender parte fundamental da história da humanidade. Neste artigo, traçamos uma linha do tempo envolvente, que conecta as origens das civilizações aos desdobramentos atuais, explorando não apenas os fatos, mas também as nuances culturais, religiosas e políticas que moldaram — e continuam a moldar — essa região fascinante.

Do nascimento das civilizações às primeiras cidades-Estado

Foi entre os rios Tigre e Eufrates, na planície da Mesopotâmia, que surgiram as primeiras formas organizadas de sociedade, por volta de 3500 a.C. Os sumérios são frequentemente citados como os responsáveis pelas primeiras cidades-Estado, como Ur, Uruk e Eridu. Com eles vieram a escrita cuneiforme, os zigurates, a contabilidade, a organização agrícola e o embrião do que entendemos hoje como Estado e sistema jurídico.

Essa região, que hoje corresponde ao sul do Iraque, passou ao longo dos séculos pelas mãos de diversos impérios: acádios, babilônios, assírios e persas, cada um contribuindo com novos sistemas de governo, avanços astronômicos, códigos legais (como o famoso Código de Hamurábi) e obras monumentais. A cidade da Babilônia, sob o reinado de Nabucodonosor II, por exemplo, foi símbolo de poder e sofisticação urbana.

Simultaneamente, outras regiões do Oriente Médio também floresciam: no Egito, às margens do Nilo, os faraós erguiam pirâmides e templos; ao norte, os hititas disputavam territórios com os egípcios e mesopotâmicos, enquanto os fenícios, no litoral do atual Líbano, desenvolviam um sistema comercial marítimo e uma das primeiras formas de escrita alfabética.

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Oriente Médio

Religiões monoteístas e a transformação cultural da região

Se o Oriente Médio foi o berço da civilização urbana, também foi o útero das três principais religiões monoteístas do mundo: judaísmo, cristianismo e islamismo. A cidade de Jerusalém é, por si só, símbolo dessa confluência religiosa, sendo sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos.

O judaísmo surgiu por volta de 1200 a.C., com raízes nas tribos hebraicas lideradas por figuras como Abraão, Moisés e Davi. Já o cristianismo, nascido no século I d.C. a partir da figura de Jesus de Nazaré, espalhou-se pelo Império Romano e posteriormente pelo mundo europeu. O islamismo, por sua vez, surge no século VII com o profeta Maomé, unificando diversas tribos árabes sob uma nova fé e estabelecendo o início de uma era de expansão cultural, científica e militar sem precedentes.

Com o advento do califado islâmico, centros como Bagdá, Damasco e Córdova se tornaram núcleos de conhecimento e inovação. Matemática, astronomia, medicina e filosofia floresceram sob influência de pensadores como Avicena e Averróis. A “Era de Ouro do Islã”, entre os séculos VIII e XIII, foi crucial para preservar e expandir conhecimentos da Antiguidade clássica, que mais tarde influenciariam a Renascença europeia.

Impérios, invasões e a fragmentação do território

Ao longo da Idade Média, o Oriente Médio foi palco de conflitos intensos, como as Cruzadas, expedições militares cristãs para retomar Jerusalém do domínio muçulmano. Essas guerras, que duraram cerca de dois séculos, marcaram profundamente a relação entre o Ocidente e o mundo islâmico.

No século XIII, os mongóis invadiram a região, destruindo Bagdá em 1258 e encerrando o califado abássida. Mais tarde, entre os séculos XVI e XX, o Império Otomano dominaria grande parte do Oriente Médio, unificando sob seu controle vastas regiões do atual Iraque, Síria, Palestina, Arábia Saudita, Egito e outros. A capital otomana, Istambul (antiga Constantinopla), foi por séculos um elo entre Oriente e Ocidente, cristianismo e islamismo, tradição e modernidade.

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Com a queda do Império Otomano após a Primeira Guerra Mundial, a região foi dividida entre potências europeias por meio de acordos como o Sykes-Picot, estabelecendo fronteiras artificiais e plantando as sementes de diversos conflitos futuros. França e Reino Unido ocuparam territórios estratégicos sob o pretexto de mandatos da Liga das Nações, ignorando muitas vezes as complexidades étnicas, tribais e religiosas locais.

O Oriente Médio moderno: petróleo, guerras e disputas territoriais

A descoberta de grandes reservas de petróleo no início do século XX transformou o Oriente Médio em um epicentro de interesses internacionais. Países como Irã, Iraque, Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes se tornaram peças-chave na geopolítica global, especialmente após a criação da OPEP em 1960.

Esse protagonismo, contudo, veio acompanhado de instabilidade. O século XX foi marcado por uma sequência de guerras e conflitos armados, como a guerra árabe-israelense (1948), a Guerra dos Seis Dias (1967), a Revolução Islâmica do Irã (1979), a Guerra Irã-Iraque (1980-1988), a invasão do Kuwait pelo Iraque e a subsequente Guerra do Golfo (1991), além das duas guerras americanas no Iraque (2003 e 2011).

Outro ponto central de tensão é a questão palestina: a criação do Estado de Israel em 1948, com o apoio das Nações Unidas, foi acompanhada por deslocamentos em massa de palestinos e por sucessivas disputas territoriais. Até hoje, o conflito israelo-palestino continua sendo um dos mais difíceis de resolver, marcado por ciclos de violência, fracassos diplomáticos e uma profunda divisão internacional sobre o direito à terra e à soberania.

Oriente Médio

As primaveras árabes e os desafios do século XXI

A partir de 2010, uma onda de protestos conhecidos como Primaveras Árabes varreu países do Norte da África e do Oriente Médio. Em lugares como Tunísia, Egito, Líbia, Síria e Bahrein, populações saíram às ruas exigindo democracia, fim da corrupção e melhores condições de vida. Em alguns casos, como na Tunísia, houve avanços institucionais. Em outros, como na Síria, o resultado foi uma guerra civil devastadora que atraiu potências estrangeiras, grupos extremistas como o Estado Islâmico e um êxodo de refugiados sem precedentes.

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No cenário atual, o Oriente Médio permanece como uma região geopolítica altamente sensível. Disputas entre Arábia Saudita e Irã moldam o equilíbrio de forças no Golfo Pérsico. O avanço da Turquia como potência regional, o retorno de regimes autoritários e os impactos da crise climática e energética são apenas algumas das variáveis que desenham o futuro da região.

Ao mesmo tempo, países como Emirados Árabes Unidos e Catar tentam se posicionar como centros de inovação, tecnologia e diplomacia, apostando em soft power e turismo de luxo. A região, portanto, permanece paradoxal: entre o antigo e o novo, entre a tradição e a modernidade, entre o sagrado e o estratégico.

A história do Oriente Médio é, por excelência, a história da complexidade. Desde a aurora das primeiras cidades até os conflitos mais recentes, essa região se mostrou como um mosaico vibrante de culturas, línguas, religiões, impérios e disputas. Entendê-la não é tarefa simples, mas é absolutamente essencial para quem deseja compreender o mundo atual — e as raízes das tensões que ainda ressoam em todos os continentes.

O Oriente Médio não é apenas palco de conflitos: é também fonte de saberes milenares, de literatura, ciência, fé e resistência. Seus desertos guardam mais do que petróleo: abrigam memórias, esperanças e identidades em disputa. E cada camada de sua história revela não apenas o passado de uma região, mas os desafios e possibilidades que ainda moldarão o futuro global.

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