Muito antes dos vídeos curtos, das notificações em tempo real e dos trending topics, a informação circulava de mão em mão, escrita à tinta, impressa em tipos móveis, e distribuída com esforço quase artesanal. A história do jornalismo é, acima de tudo, a história da nossa necessidade de saber, de entender o mundo, de registrar o presente e revisitar o passado.
De gazetas do século XVII a podcasts contemporâneos, cada época encontrou seu jeito de contar o que estava acontecendo. Cada revolução tecnológica deixou marcas profundas na profissão, e cada crise de credibilidade trouxe novas reflexões. O jornalismo, ao longo dos séculos, não apenas reportou os grandes eventos – ele foi protagonista em muitos deles. Este artigo propõe um passeio envolvente por essa trajetória fascinante, revelando como a imprensa moldou sociedades, formou democracias e sobreviveu, com garra e ética, às intempéries do tempo e da informação.
As origens do jornalismo e os primeiros informativos impressos
O desejo de registrar os fatos cotidianos não é exclusivo da modernidade. Na Roma Antiga, por exemplo, as Acta Diurna eram tablados expostos nas ruas com anúncios de interesse público. Mas o jornalismo, como o entendemos hoje, começa a tomar forma com a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg, em 1440. A partir dessa invenção revolucionária, a informação deixou de ser privilégio dos mosteiros e da nobreza e começou a circular entre os cidadãos comuns.
No século XVII, surgiram os primeiros jornais impressos com periodicidade definida, como a Gazette de France, criada em 1631, considerada uma das pioneiras da imprensa moderna. A publicação de notícias de maneira regular passou a permitir o acompanhamento dos fatos e o desenvolvimento de uma opinião pública. Esses jornais primitivos eram instrumentos de poder político, usados muitas vezes para defender interesses de reis e governos. No entanto, essa estrutura inicial lançaria as bases para o embate que marcaria o jornalismo nas décadas e séculos seguintes: o equilíbrio entre independência e poder.
O jornalismo como instrumento da liberdade e da revolução
Com o Iluminismo e os ventos revolucionários soprando pela Europa no século XVIII, o jornalismo assumiu um papel transformador. Durante a Revolução Francesa, por exemplo, os panfletos e jornais impressos nas gráficas de Paris tornaram-se armas ideológicas potentes. Figuras como Marat e Danton utilizaram a imprensa para mobilizar massas e radicalizar discursos.
Nos Estados Unidos, a Primeira Emenda da Constituição, de 1791, garantiu explicitamente a liberdade de imprensa — um marco que influenciaria constituições em todo o mundo. O jornalismo passou a ser entendido como um pilar da democracia, essencial para a fiscalização do poder e para o exercício da cidadania. A independência editorial ganhou força, e a função de “cão de guarda” do jornalismo se consolidou ao longo dos séculos XIX e XX.
É também nessa época que surgem jornais de grande circulação, como o The Times (1785) em Londres e, depois, o New York Times (1851), já nos Estados Unidos. A profissão de jornalista começa a se profissionalizar, com redações, rotinas de apuração, fontes e ética.
O jornalismo no Brasil: da corte ao rádio
No Brasil, o jornalismo começou com o surgimento da imprensa régia em 1808, quando a família real portuguesa fugiu das invasões napoleônicas e se instalou no Rio de Janeiro. O primeiro jornal impresso em solo brasileiro foi a Gazeta do Rio de Janeiro, veículo oficial da coroa. Pouco depois, surgiria o Correio Braziliense, editado por Hipólito da Costa em Londres, mas voltado para os leitores brasileiros — com viés crítico e liberal.
Com a independência do país, jornais passaram a desempenhar papel fundamental na formação do Estado brasileiro. Ao longo do Império e da República Velha, a imprensa acompanhou crises políticas, mudanças institucionais e até golpes de Estado. Na década de 1930, com a chegada do rádio, o jornalismo passaria por mais uma transformação profunda. O veículo sonoro levou a informação em tempo real para os lares brasileiros, sendo usado tanto para informar quanto para fazer propaganda política, como ocorreu durante o Estado Novo de Getúlio Vargas.
A era de ouro dos jornais impressos e a chegada da televisão
O século XX foi marcado por um apogeu da imprensa escrita. Grandes grupos editoriais se consolidaram, como o Grupo Estado, a Folha, o Globo e a Abril, no Brasil. O jornal impresso virou sinônimo de prestígio, poder e influência. As bancas de jornal se tornaram centros de informação e formação de opinião.
Na década de 1950, com a chegada da televisão, o jornalismo audiovisual ganhou espaço. As notícias começaram a ser transmitidas com imagens em movimento e apresentadores carismáticos. Os telejornais transformaram a forma como as pessoas se relacionavam com os fatos. No Brasil, nomes como Cid Moreira, Sergio Chapelin e Lillian Witte Fibe se tornaram vozes reconhecidas em todo o país. A cobertura de guerras, eleições, olimpíadas e tragédias em tempo real consolidou o modelo de jornalismo como espetáculo e serviço.
Entretanto, a TV também trouxe desafios éticos. A rapidez da transmissão exigia precisão sem margem de erro, o que nem sempre era respeitado. A edição, o enquadramento e até o tom de voz passaram a influenciar na percepção do público, criando novas discussões sobre imparcialidade e manipulação da informação.
Internet, redes sociais e a reinvenção do jornalismo
Nos anos 1990, com a popularização da internet, o jornalismo enfrentou sua maior reviravolta desde Gutenberg. O modelo tradicional de distribuição foi subitamente desafiado por um fluxo contínuo, descentralizado e gratuito de informações. Surgiram os portais de notícia, os blogs, os fóruns e, posteriormente, as redes sociais. A lógica de produção e consumo de informação se fragmentou.
A ascensão do jornalismo digital trouxe ganhos: agilidade, interatividade, maior alcance e possibilidade de cobertura colaborativa. Mas também gerou crises: perda de receita publicitária, declínio das vendas impressas, demissões em massa e uma avalanche de desinformação. Termos como “fake news” e “pós-verdade” entraram no vocabulário cotidiano, exigindo das redações uma reinvenção urgente.
Atualmente, os jornalistas precisam dominar múltiplas plataformas, escrever para mecanismos de busca, usar redes sociais para engajar leitores e, muitas vezes, competir com influenciadores e criadores de conteúdo. A credibilidade voltou a ser o ativo mais valioso do jornalismo, mas o modelo de financiamento ainda busca caminhos sustentáveis. Assinaturas digitais, paywalls e doações recorrentes têm sido experimentadas por veículos de todo o mundo.
A história do jornalismo é uma narrativa de adaptação constante. De panfletos impressos em porões a transmissões em alta definição; de reportagens escritas à mão a podcasts distribuídos em nuvem — a essência permanece: informar, investigar, dar voz, questionar. O jornalista continua sendo o guardião da palavra pública, mesmo em tempos de algoritmos e inteligência artificial.
Em meio à velocidade do século XXI, o jornalismo resiste com propósito, reconfigura sua linguagem, mas não abandona sua missão. Em cada clique, manchete ou apuração, ecoa o trabalho silencioso de quem escolheu transformar o caos do mundo em notícia — e fazer disso um serviço à sociedade.
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Formada em técnico em administração, Nicolle Prado de Camargo Leão Correia é especialista na produção de conteúdo relacionado a assuntos variados, curiosidades, gastronomia, natureza e qualidade de vida.