Poucos países têm uma história tão densa, dramática e determinante quanto a Inglaterra. Situada em uma ilha chuvosa ao norte da Europa, essa nação insular construiu um dos maiores impérios da história, gerou revoluções que mudaram os rumos da política mundial, sobreviveu a invasões, peste negra, guerras civis e tornou-se o berço de ideias, invenções e figuras que ainda hoje impactam o mundo. A Inglaterra não é apenas castelos, chás e rainhas: é também lutas sangrentas por liberdade, glórias navais, revoluções industriais e uma rica tapeçaria de culturas, línguas e tradições que se sobrepuseram ao longo dos séculos.
Compreender a história da Inglaterra é também compreender uma parte fundamental da história do Ocidente, já que muitos dos valores modernos — como parlamentarismo, liberdade de expressão e economia de mercado — encontram suas raízes nos becos sombrios e salões dourados desta velha ilha. Prepare-se para uma viagem por séculos de transformações surpreendentes, disputas acirradas e momentos que marcaram a humanidade.
Dos primeiros assentamentos à romanização da Britânia
A história da Inglaterra começa bem antes da palavra “Inglaterra” existir. Arqueólogos apontam que a região era habitada desde o período Paleolítico, mas foi com os celtas que a ilha começou a ganhar contornos culturais mais definidos. Por volta do século I a.C., a ilha era dominada por diversas tribos celtas, que formavam comunidades organizadas e guerreiras. Em 43 d.C., o Império Romano invadiu e estabeleceu a província da Britânia, construindo cidades, estradas e aquedutos, e introduzindo o latim e o cristianismo. Durante quase quatro séculos, a região viveu sob domínio romano, até que as legiões se retiraram no início do século V, deixando os britânicos à mercê de invasões germânicas.
Foi nesse vácuo de poder que os anglos, saxões e jutos — povos germânicos vindos da atual Alemanha e Dinamarca — começaram a colonizar a ilha. Eles fundaram diversos reinos que dariam origem ao que viria a ser conhecido como a Heptarquia Anglossaxônica, um mosaico de pequenos reinos como Wessex, Mercia, e Northumbria.
A formação da Inglaterra e os normandos
No século IX, surge a figura de Alfredo, o Grande, rei de Wessex, que conseguiu resistir aos ataques dos vikings e lançou as bases da unificação. A luta contra os nórdicos, especialmente os dinamarqueses, foi brutal, mas estratégica. Com o tempo, os reinos anglo-saxões foram sendo unificados sob um único trono, culminando com a formação do Reino da Inglaterra em 927, sob o rei Æthelstan.
Mas a estabilidade durou pouco. Em 1066, a Inglaterra sofreu sua última grande invasão: os normandos, liderados por Guilherme, o Conquistador, venceram a Batalha de Hastings e iniciaram uma nova era. A conquista normanda não apenas mudou a nobreza inglesa, substituindo os anglo-saxões por senhores normandos, como também influenciou profundamente a língua, a cultura e as instituições da Inglaterra. O domínio normando impôs um novo sistema feudal, consolidou o poder real e estabeleceu um rigoroso controle sobre os domínios eclesiásticos e civis.
Da Carta Magna ao Parlamento: as sementes da democracia
No século XIII, diante de um rei impopular e autoritário, João Sem Terra, os nobres forçaram a assinatura da Carta Magna (1215), um documento que limitava o poder real e estabelecia direitos básicos aos barões. Embora inicialmente ignorado, o documento se tornaria símbolo da luta por liberdade e da limitação do poder estatal.
Nos séculos seguintes, a Inglaterra viu nascer as primeiras formas de parlamento. A Guerra dos Cem Anos contra a França (1337-1453), a Peste Negra e a Guerra das Rosas (1455-1485) entre as casas de York e Lancaster mergulharam o país em crises, mas também deram origem à poderosa dinastia dos Tudor, que traria estabilidade por um tempo.
Henrique VIII e a ruptura com Roma
Entre os Tudores, ninguém foi tão impactante quanto Henrique VIII. Desejando anular seu casamento e frustrado com a resistência do Papa, Henrique rompeu com a Igreja Católica e fundou a Igreja Anglicana, estabelecendo o rei como chefe supremo da religião na Inglaterra. Esse ato teve consequências profundas: consolidou o poder monárquico, causou perseguições religiosas e pavimentou o caminho para décadas de conflitos entre católicos e protestantes.
Sua filha, Isabel I, consolidaria o anglicanismo, derrotaria a Armada Invencível da Espanha (1588) e viveria um período de florescimento cultural que incluiria nomes como William Shakespeare e Francis Bacon.
Revolução, república e restauração
O século XVII foi o mais turbulento da história inglesa. A tensão entre o Parlamento e o rei Carlos I levou à Guerra Civil Inglesa. O conflito terminou com a execução do rei em 1649 e o surgimento de uma república liderada por Oliver Cromwell — um dos eventos mais dramáticos e únicos da história europeia.
Contudo, após a morte de Cromwell, a monarquia foi restaurada com Carlos II. Décadas depois, uma nova crise resultaria na chamada Revolução Gloriosa (1688), quando Guilherme de Orange tomou o trono sem derramamento de sangue. Essa revolução consolidou a monarquia constitucional e a supremacia do Parlamento, sendo considerada por muitos o berço do parlamentarismo moderno.
A era vitoriana e o império que nunca dormia
Durante o século XIX, sob o longo reinado da rainha Vitória (1837-1901), a Inglaterra (agora parte do Reino Unido) viveu sua era dourada. A Revolução Industrial transformou a economia, surgiram grandes centros urbanos, ferrovias, fábricas e novas classes sociais. A Inglaterra se tornou “a oficina do mundo” e o Império Britânico se expandiu a tal ponto que se dizia que o sol nunca se punha sobre ele.
Mas o custo disso foi alto. A colonização envolveu exploração, guerras e opressão de povos nativos. Ao mesmo tempo, o país foi palco de avanços sociais, como a abolição da escravidão e os primeiros movimentos pelos direitos das mulheres.
Guerras mundiais, descolonização e reinvenção
No século XX, a Inglaterra participou ativamente das duas guerras mundiais. Ao fim da Segunda Guerra, embora vitoriosa, emergiu empobrecida e viu o império se dissolver com a independência de diversas colônias. A Inglaterra precisou se reinventar: passou por transformações sociais, reformas no estado de bem-estar e enfrentou desafios econômicos e migratórios.
O pós-guerra também viu o fortalecimento da cultura pop inglesa com os Beatles, Rolling Stones, o punk rock, a moda londrina e o cinema. Tudo isso posicionou o país como referência cultural global.
Brexit, desafios contemporâneos e a nova monarquia
Nas últimas décadas, a Inglaterra viu sua posição no mundo novamente entrar em debate. Em 2016, os britânicos votaram pelo Brexit, a saída da União Europeia, em um processo que expôs divisões internas profundas.
A morte da rainha Elizabeth II, em 2022, encerrou uma era de estabilidade simbólica. Seu sucessor, o rei Charles III, herdou um país mais cético quanto à monarquia, porém ainda ligado à tradição. A Inglaterra atual é multicultural, tecnologicamente avançada, mas também marcada por debates sobre identidade, imigração, saúde pública e sua posição no cenário global.
A história da Inglaterra é uma odisseia rica, marcada por reinos e revoluções, impérios e ideias, inovações e resistências. Em cada capítulo, a ilha desafiou seus próprios limites — enfrentando invasões externas, enfrentando seus próprios reis, rompendo com Roma, navegando por mares desconhecidos e liderando revoluções políticas e industriais. Ainda que pequena em território, a Inglaterra se agigantou pela força de sua cultura, da sua língua, do seu espírito contestador e resiliente. Hoje, entender sua trajetória não é apenas um exercício de erudição histórica, mas uma chave para decifrar o mundo moderno. Ao olhar para trás, o passado inglês continua iluminando os debates do presente — e, com toda certeza, continuará moldando o futuro.
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Formada em técnico em administração, Nicolle Prado de Camargo Leão Correia é especialista na produção de conteúdo relacionado a assuntos variados, curiosidades, gastronomia, natureza e qualidade de vida.