A fascinante saga do sarcófago contrabandeado por um casal vitoriano

(Fonte: Banhos Indi/Reprodução)

Quem passa pela exposição de antiguidades egípcias do Museu Macclesfield pode achar que não há nada de errado com a cartonagem — material que involucrava os caixões do Antigo Egito — do sarcófago ali presente. Porém, quem se aproxima para dar uma olhada com maior cuidado poderá notar que esta cartonagem possui algumas anomalias.

Isso são evidências de reparos que tiveram que ser feitos após a caixa ser cortada em pedaços, ter sua múmia removida e ser contrabandeada para fora do Egito em uma história completamente inacreditável envolvendo duas senhoras vitorianas em 1874. Conheça mais sobre o caso!

Embora a cartonagem do sarcófago remonte para cerca de 800 a.C., ela foi retirada do Egito em 1874. O artefato só foi recuperado por conta de Marianne Brocklehurst, filha de um rico proprietário de uma fábrica de seda, e de seu interesse pela arqueologia. Em 1873, Marianne partiu para o Egito com sua companheira, Mary Booth.

Juntas, elas realizaram cinco expedições egípcias, das quais retornaram com artefatos que hoje estão no Museu Macclesfield. Brocklehurst documentou suas viagens em notas manuscritas, esboços e aquarelas em seu diário, que também estão guardados no museu. Em Alexandria, ela conheceu um artista que conhecia moradores locais que possuíam antiguidades.

Para a sorte do casal, o mesmo artista as guiou pelas ruínas de Tebas, na Grécia, onde foram “presenteadas” com um sarcófago. Brocklehurst recursou a aceitar o artefato inteiro pelo tamanho, mas em vez disso negociou apenas a cartonagem interna. A caixa da múmia acabou sendo contrabandeada pelo rio Nilo, serrada para conseguir ser transportada e teve sua múmia descartada.

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(Fonte: Banhos Indi/Reprodução)

Em seu diário, Brocklehurst escreveu pouco sobre os acontecimentos da época e apenas registrou o destino da múmia em códigos — provavelmente com medo de ser descoberto. Retirar antiguidades grandes e valiosas do Egito sem licença era algo ilegal e, caso ele tivesse levado o produto às autoridades egípcias, Brocklehurst provavelmente poderia ter obtido uma licença de exportação e pago qualquer quantia para obtê-lo.

“Gostamos da ideia de contrabandear em grande escala sob o nariz dos guardas do Paxá que, como as escavações estavam acontecendo ali perto, eram bastante densas no solo e em alerta. É nesta seção que também aprendemos o verdadeiro destino da múmia: [Ela] foi enterrada à noite com grande sigilo e deixada em sua terra natal”, escreveu Brocklehurst.

De acordo com pesquisadores, Marianne e Mary tentavam desafiar as expectativas e fazer coisas que as pessoas pensavam que “não deveriam fazer por serem mulheres”. Anos mais tarde, Brocklehurst tornou-se apoiadora do Fundo de Exploração do Egito, criado para preservar monumentos da região, e passou a promover projetos de pesquisa do patrimônio cultural egípcio até os dias atuais.

Por muito tempo, os egípcios estavam desmontando e serrando caixões e vendendo-os aos turistas. Logo, algo precisavam ser feito para preservar a história local. Até o momento, ainda não está claro se o objeto furtado algum dia será devolvido ao Egito, mas certamente a coleção criada pelas duas audaciosas mulheres vitorianas é “bastante incomum” e possui uma história um tanto quanto controversa.

O que podemos aprender com essa saga é que, por trás de cada peça de artefato histórico, há uma história complexa que merece ser investigada e compreendida. A história do sarcófago contrabandeado revela não apenas as façanhas audaciosas de duas mulheres corajosas, mas também questiona as práticas de aquisição de artefatos antigos e o papel da preservação da herança cultural. Afinal, cada artefato carrega consigo não apenas seu valor histórico, mas também a história de como chegou às mãos da humanidade.

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