Circula nas redes um vídeo que contrapõe duas cenas na Faixa de Gaza: ruas movimentadas e prédios intactos em julho de 2023; o mesmo ponto em 1º de setembro de 2025, destruído após quase dois anos de guerra.
A peça, publicada por perfis de jornalistas locais, ajuda a dimensionar o impacto humano e material do conflito — mas o contexto precisa vir de fontes independentes. A seguir, um guia em 10 tópicos, com dados da ONU e de agências internacionais, para entender a situação atual.
O que mostram os “antes e depois”
As comparações de julho de 2023 x setembro de 2025 circulam no Instagram e no YouTube, destacando avenidas inteiras agora cobertas por entulho. Embora vídeos isolados não provem proporções de dano, imagens de satélite confirmam destruição em larga escala em bairros de Gaza City desde 2023/2024 e em avaliações contínuas de 2025.
Operações militares e ordens de evacuação
Nos últimos dias, Israel intensificou bombardeios em Gaza City, com novas ordens de saída e demolição de edifícios altos, alegando uso militar por parte do Hamas — acusação que o grupo nega. Moradores relatam não haver rotas seguras, mesmo para zonas designadas como “humanitárias”.


Imagens de vídeos do Instagram
Quadro humanitário: “inferno em terra”
A ONU descreve Gaza como cenário de impunidade e colapso de serviços básicos. O escritório humanitário (OCHA) e a UNRWA relatam expansão de áreas militarizadas e sucessivas ordens de deslocamento, interrompendo aulas, tendas de aprendizagem e assistência.
Fome: a primeira declaração formal em Gaza
Em 22 de agosto de 2025, o sistema IPC (referência global em segurança alimentar), com apoio de FAO, UNICEF, PMA e OMS, confirmou fome no Governorado de Gaza, com risco de expansão para Deir al-Balah e Khan Younis nas semanas seguintes. As agências pediram cessar-fogo imediato e acesso sem restrições.
Crianças em risco agudo
A UNICEF reporta uma escalada abrupta: mais de 7 mil crianças menores de cinco admitidas em programas de recuperação de desnutrição em duas semanas de agosto, com o mês podendo superar 15 mil casos; porta-vozes descrevem a situação em Gaza City como “o impensável”.


Ataques e mortes recentes
Coberturas em tempo real relatam novas ofensivas e dezenas de mortos em Gaza City, inclusive em áreas de distribuição de ajuda. Israel afirma mirar alvos do Hamas; organizações humanitárias denunciam riscos a civis e obstruções a comboios.
Saúde em colapso
A OMS aponta ataques a instalações, ambulâncias e equipes, além de hospitais operando com capacidade mínima e falta de suprimentos. Relatos médicos acumulam casos de desnutrição grave e doenças infecciosas ligadas à água e saneamento precários.
Destruição de infraestrutura e meios de vida
Além de residências e serviços, análises independentes mostram perda extensa de terras agrícolas e estufas, corroendo a autossuficiência alimentar e alongando o caminho da reconstrução.


Imagens de vídeos do Youtube
Diplomacia em turbulência
No plano externo, há tensões entre aliados sobre reconhecimento do Estado palestino e sobre como encerrar a guerra. As divergências afetam negociações de cessar-fogo e trocas de reféns, mantendo alta a incerteza política.
Mediadores regionais e a controvérsia do “êxodo”
O Egito, mediador central, rejeitou a ideia de “saída voluntária” de palestinos, chamando o termo de “nonsense” diante de fome e bombardeios. A posição ilustra o impasse: fronteiras pressionadas, pouco acesso de ajuda e deslocamentos forçados dentro da própria Gaza.
O antes e depois dramatiza uma realidade que os dados confirmam: Gaza passa por uma crise humanitária extrema, com fome declarada, serviços em ruínas e civis sob sucessivos deslocamentos.
Enquanto a campanha militar prossegue e a diplomacia patina, multiplicam-se as evidências de que acesso humanitário pleno e cessar-fogo verificável são condições mínimas para deter mortes evitáveis — sobretudo de crianças — e iniciar qualquer reconstrução digna.
Gaza: antes e depois da guerra
Qual era a população da Faixa de Gaza antes da guerra e qual é hoje?
Antes da guerra (final de 2022/início de 2023): aproximadamente 2,2 milhões de pessoas viviam na região. Em 2025, essa população caiu para cerca de 2,1 milhões — uma redução de cerca de 6%, com cerca de 160 mil pessoas a menos.
Quantos tiveram que deixar suas casas desde o início do conflito?
Cerca de 1,9 milhão de pessoas foram deslocadas internamente — isso corresponde a aproximadamente 90% da população.
Qual é o número de mortes confirmadas nessa guerra?
Estimativas apontam para mais de 60.000 mortes entre os palestinos desde outubro de 2023.
Quantas pessoas ficaram feridas?
Estima-se que mais de 145.000 pessoas tenham se ferido em decorrência dos confrontos.
Quantas crianças ficaram com deficiência após o conflito?
Um comitê das Nações Unidas indicou que pelo menos 21.000 crianças foram deixadas com deficiências, e mais de 40.500 ficaram feridas.
Qual foi o impacto na infraestrutura e nas culturas físicas de Gaza?
Até dezembro de 2024, cerca de 170.000 edifícios (69%) haviam sido destruídos ou danificados. Mais de 60.000 construções foram totalmente arrasadas, com estimativa de 50 milhões de toneladas de detritos gerados.
E quanto ao patrimônio cultural?
Cerca de 200 edifícios históricos, 12 museus e centros culturais foram destruídos ou severamente danificados.
Como está a segurança alimentar?
A ONU, OMS, FAO e outras agências confirmaram fome na região de Gaza e em expansão. Em duas semanas de agosto de 2025, mais de 7.000 crianças com menos de cinco anos entraram em programas de recuperação por desnutrição aguda, com até 15.000 casos previstos no mês.
Como está a escassez de água potável?
Gaza enfrenta uma grave crise de água, com infraestrutura crítica destruída. Muitas famílias precisam andar longas distâncias para coletar água, e doenças transmitidas pela água estão em alta.
Quanto o PIB e os postos de trabalho foram afetados?
Gaza teve uma queda acentuada na economia: pobreza aumentou, o desemprego chegou a 57%, e estima-se que US$ 50 bilhões em investimentos foram destruídos.