Pesquisadores alemães realizaram uma descoberta surpreendente no sítio arqueológico de Fregellae, antiga cidade romana localizada nas proximidades da moderna comuna de Arce, na Itália. Evidências encontradas no local revelam que, após a destruição deliberada pelos romanos em 125 a.C., a cidade se transformou em um depósito de lixo, marcando o fim de um próspero centro urbano. Os achados fornecem uma visão detalhada de como a região foi impactada pela ação militar de Roma e como a área sofreu um declínio econômico e social irreversível.
O estudo foi conduzido por especialistas do Centro Leibniz de Arqueologia (LEIZA) e da Universidade de Tréveris, na Alemanha, que se dedicaram a examinar tanto os restos da cidade quanto um acampamento militar romano construído durante o cerco. A destruição de Fregellae, uma colônia romana que prosperou por cerca de 80 anos, é atribuída a um ato de represália do Império Romano após uma revolta da população local. Essa revolta ocorreu porque os habitantes, que buscavam o reconhecimento como cidadãos romanos, tiveram seus pedidos negados. A decisão de Roma de devastar a cidade trouxe não apenas consequências políticas, mas também econômicas, afetando toda a região.
A ascensão e queda de Fregellae
Fundada no século IV a.C., Fregellae era uma cidade próspera e estrategicamente localizada, situada ao longo do rio Liri e próxima à Via Latina, uma das principais rotas comerciais e militares que ligavam Roma ao sul da Itália. A localização privilegiada e o desenvolvimento urbano transformaram Fregellae em um importante centro de produção agrícola e comércio, especializado em produtos como vinho, grãos e frutas.
A prosperidade da cidade, no entanto, começou a declinar em 125 a.C., quando Roma decidiu tomar medidas drásticas contra os cidadãos de Fregellae após a revolta. Comandados pelo pretor Lucius Opimius, os romanos sitiaram e destruíram a cidade, removendo grande parte de seu material de construção e deixando apenas vestígios de sua antiga grandiosidade. O ataque foi motivado pela insatisfação dos habitantes locais com a política romana de negação da cidadania, um problema recorrente em várias colônias do Império.
Provas de destruição deliberada
Durante as escavações, os arqueólogos encontraram indícios de que a destruição foi planejada e sistemática. Restos de murais, átrios e mosaicos indicam que os edifícios foram arrasados deliberadamente e os materiais de construção, como pedras e colunas, removidos quase que completamente para serem reaproveitados em outras construções romanas. Os santuários e balneários públicos, que eram marcos importantes da cidade, foram destruídos, deixando apenas fragmentos espalhados pelo terreno.
A equipe também localizou o acampamento militar romano usado durante o cerco, que abrangia uma área de quase 13 mil metros quadrados. Composto por uma muralha defensiva e um fosso, o acampamento foi planejado para ser um ponto estratégico para as operações militares contra Fregellae. A descoberta do acampamento ajudou a corroborar registros históricos sobre as táticas de cerco usadas por Roma na época, além de evidenciar a magnitude e organização do exército romano.
A transformação de Fregellae em um depósito de lixo
Após a destruição, a cidade não foi reconstruída e, ao contrário de outros locais que floresceram após ocupações romanas, Fregellae permaneceu desabitada por aproximadamente 170 anos. Foi somente em 50 d.C., durante o período do Império Romano, que o local passou a ser utilizado novamente, mas de uma forma bastante distinta. Evidências arqueológicas indicam que a área foi transformada em um grande depósito de lixo, onde os romanos descartavam resíduos variados, como fragmentos de cerâmica, utensílios domésticos e ossos de animais.
“Apesar dos vestígios de incêndio e do material de construção quase totalmente removido, os achados oferecem informações valiosas sobre a vida rural e as atividades econômicas dos residentes da época”, explica Dominik Maschek, gerente de projeto do LEIZA. A equipe de arqueólogos identificou que, antes de ser destruída, Fregellae mantinha uma economia robusta, baseada na produção e comercialização de produtos agrícolas. No entanto, após o ataque, a cidade perdeu sua relevância, e a região permaneceu economicamente inativa por mais de um século.
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A vida antes da destruição: produção e comércio
As investigações revelaram que a cidade de Fregellae possuía uma infraestrutura agrícola bem estabelecida, com vilas dedicadas à produção de vinho, frutas e grãos. As frutas e os grãos produzidos eram destinados ao comércio local e para abastecimento das cidades vizinhas. Já o vinho, segundo os pesquisadores, era produzido em larga escala e comercializado em redes de troca que incluíam outros centros do Mediterrâneo, como a Espanha e a França.
Fragmentos de ânforas e outros recipientes usados para o transporte de vinho foram encontrados nas proximidades, sugerindo que Fregellae possuía um papel ativo nas rotas comerciais da época. A produção de vinho, em particular, era uma atividade economicamente importante e altamente valorizada. Mesmo com a destruição da cidade, as evidências dessa atividade ainda podem ser observadas nos restos de antigos armazéns e nas estruturas de armazenamento subterrâneo que sobreviveram ao tempo.
Implicações políticas e militares da destruição de Fregellae
A destruição de Fregellae foi mais do que uma simples represália. Representou uma mensagem clara de Roma a outras colônias e cidades aliadas que pretendiam desafiar o poder do Império. O cerco comandado por Lucius Opimius demonstrou a força e a disciplina militar romana, usando táticas de cerco avançadas e uma organização logística impecável. A decisão de não reconstruir a cidade após o ataque visava enfraquecer qualquer sentimento de rebelião entre outras colônias.
Ao deixar a área abandonada e, posteriormente, utilizá-la como depósito de lixo, Roma enfatizou o caráter de punição e desdém para com a antiga cidade. Os arqueólogos sugerem que a falta de investimento na reconstrução de Fregellae também pode ter sido influenciada por questões políticas internas, com Roma preferindo concentrar recursos em outras colônias mais leais e produtivas.
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Planos futuros de investigação e preservação
Os especialistas do LEIZA e da Universidade de Tréveris já estão planejando novas escavações para o próximo ano, com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre o sítio arqueológico. As futuras pesquisas devem se concentrar em áreas ainda inexploradas, buscando compreender melhor como as práticas agrícolas e comerciais da cidade funcionavam antes de sua destruição. Além disso, há interesse em investigar mais a fundo o acampamento militar romano, para detalhar as táticas e o cotidiano dos soldados romanos durante o cerco.
A equipe também pretende analisar o material encontrado no depósito de lixo, buscando identificar padrões de descarte e entender melhor como a área foi utilizada nos séculos seguintes. A expectativa é que essas novas descobertas possam ajudar a reconstituir a história de Fregellae e lançar luz sobre as políticas romanas de ocupação e controle nas regiões conquistadas.
Conclusão
A descoberta dos vestígios de Fregellae é um marco importante para a compreensão das práticas políticas e militares de Roma e seus efeitos duradouros nas colônias conquistadas. A transformação da próspera cidade em um depósito de lixo ilustra não apenas a capacidade destrutiva do Império Romano, mas também a complexa relação entre governantes e governados na antiguidade.
As ruínas de Fregellae, agora objeto de estudo intenso, continuam a revelar segredos de uma época em que a força militar e a política de dominação de Roma moldaram a paisagem do Mediterrâneo. Com as novas escavações, espera-se que mais informações venham à tona, ajudando a completar o quadro histórico dessa fascinante cidade antiga.