O Nono Domingos é um homem de muitas histórias, de vida, de sobrevivência e de superação. Enfrentou de tudo até chegar aos 96 anos! Acompanhe sua surpreendente história
Na manhã fria e encoberta pela neblina, de uma sexta-feira, 12 de julho, o diretor do Jornal da Fronteira, Luiz Veroneze esteve em Campo Erê, onde sentou-se ao lado de um fogão-de-lenha, para um bate-papo “raiz” com um pioneiro de Dionísio Cerqueira, Nono Domingos Tressoldi.
O pioneiro cerqueirense chama-se, na verdade, Dominio Germano Tressoldi. Com quase 96 anos de vida, a serem completados no dia 5 de agosto, Nono Domingos é uma verdadeira lenda viva da família Tressoldi.
Nascido em 1928 no município de Arroio do Meio, Rio Grande do Sul, Nono Domingos compartilhou sua trajetória desde a juventude até a vida difícil em Dionísio Cerqueira, nos anos 1950/60, quando desbravou uma terra de mata fechada e animais selvagens, na linha Pinheirinho, onde se instalou.
“Eu saí de Arroio do Meio, morei lá por quase 20 anos. Depois, passamos 12 anos em Iraí, próximo a Frederico Westphalen, antes de nos mudarmos para Dionísio Cerqueira, onde vivi por mais de 50 anos”, relembra.
Ao se instalar na comunidade Linha Pinheirinho, a vida foi difícil no começo.
“Não tinha estrada, nem luz elétrica, não tinha nada. Só mato e bichos. Fizemos um rancho pequeno, com a família de 16 pessoas na casa, dois quais 12 filhos”, conta.
Domingos recordou que a família vivia do que plantava e caçava. Quando matava porco, a carne era conservada na própria lata de banha. A esposa de Domingos (falecida há mais de 30 anos), era quem cuidava da horta.
A falta de infraestrutura não impediu o Nono Domingos de lutar por melhorias. Ele lembra do encontro com o prefeito da época, que ele chamou de Coronel. Após uma conversa, tiveram outro bate-papo em uma festa na comunidade da linha Araras.
“Naquela época, não tínhamos nada. Depois desta conversa com o prefeito, na semana seguinte ele mandou várias máquinas e abriram as estradas por toda a comunidade, aos poucos as coisas foram melhorando”, comentou o pioneiro.
Nono Domingos foi responsável pela construção da primeira escola na área de onde morava. Em uma época em que as facilidades eram escassas e as condições de vida desafiadoras, ele ergueu com suas próprias mãos uma escolinha improvisada, que se tornou um verdadeiro marco para a educação das crianças da região. O primeiro professor se chamava Helio Rodrigues Salves, que saiu fugido do lugar. As crianças da casa, incluindo seus 12 filhos, estudaram nessa escolinha que ele ajudou a construir.
Apesar das dificuldades, a vida na roça tinha seus momentos de alegria. Naquela época, ele e sua esposa compravam mantimentos na Argentina, que tinha ótimos preços, assim como tem hoje, em alguns itens. Ele nunca teve cavalo, e se deslocavam a pé, da linha Pinheirinho até a Argentina, caminhando quase 30 quilômetros. Compravam farinha, arroz, açúcar e azeite.
“Maria sempre tinha uma horta com muitas saladas. Criávamos porcos, plantávamos milho e feijão, e eu até criei um macaquinho, que era parte da família”, lembrou com um sorriso.
Sobre o episódio de como criou um macaquinho, o Nono Domingos contou que, numa manhã de domingo, saiu para caçar. Ouviu um barulho nas árvores, e atirou. Momento que percebeu que caiu uma macaca ferida, tendo no colo um macaquinho. A macaca morreu, mas ele adotou o macaquinho, que viveu por muitos anos junto de sua família. Morreu após um inverno rigoroso.
Nono Domingos contou que a única diversão do lugar era caçar. Lembra de que, por ser uma região de mata nativa, tinha muitos animais de “boa carne”, como cutia, paca e veado. Contou do dia que se deparou com uma onça, e ficou estagnado, sem fazer qualquer movimento, até o felino selvagem ir embora.
Nesse tempo, de trabalho árduo e caçadas emocionantes, Nono Domingos enfrentou muitos dissabores, como as mordidas de cobras que sofreu. Foi mordido, numa vez, por uma jararaca, e numa outra, por cascavel. Duas espécies bem venenosas. Mas ele sobreviveu com “segredos antigos” de cura.
Também, pisou em espinho de cobra, que lhe deixou 6 meses sem poder caminhar, e sofreu um acidente que lhe fez perder um olho. Já idoso, depois dos 90 anos, pegou três vezes o Coronavírus, foi internado e sobreviveu a tudo isto.
Questionado sobre o segredo da longevidade, ele pareceu não entender. Mas disse, que come bem, come de tudo, inclusive janta toda noite, mesmo com 96 anos. É um homem simples, que vive pela oração. Desde jovem, sempre foi um homem de oração diária.
Viúvo há 30 anos, Nono Domingos não quis se casar novamente, mantendo o respeito e a memória de sua esposa, Maria. Hoje, ele vive em Campo Erê, onde mora com uma filha, mas sempre cercado pelo carinho dos filhos e netos, que moram espalhados por diversas cidades.
A história de Nono Domingos é um testemunho de fé e dedicação. Ele não apenas sobreviveu às adversidades, mas também deixou um legado de coragem e amor para seus filhos e netos.
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