Em 1º de fevereiro de 1974, São Paulo testemunhou uma das maiores tragédias de sua história, quando o Edifício Joelma, localizado no centro da cidade, pegou fogo. Neste artigo, vamos relembrar esse dia fatídico através dos relatos de sobreviventes que vivenciaram o incêndio que marcou profundamente São Paulo.
Quase cinco décadas após o evento, as lembranças permanecem vivas e as cicatrizes emocionais continuam a afetar aqueles que sobreviveram.O fogo teve início no 12º andar, onde o Banco Crefisul ocupava espaço. Um curto-circuito no sistema de refrigeração foi o gatilho para a tragédia que se desenrolaria.
Naquele dia, ventos fortes contribuíram para a rápida propagação das chamas, resultando na morte de 181 pessoas e deixando mais de 300 feridas. Esses números, embora contestados ao longo dos anos, são documentados por registros oficiais, incluindo laudos necroscópicos.
A Arquitetura Singular do Edifício Joelma
Inaugurado em 1971 e atualmente conhecido como Edifício Praça da Bandeira, a construção do arquiteto Salvador Candia apresenta características arquitetônicas notáveis. Composto por duas torres de 25 andares, o edifício possui uma única escada central. Sua peculiaridade é evidenciada pelos sete andares de estacionamento que, devido à altura, equivalem a cerca de dez andares convencionais.
Do 11º ao 25º andar, o prédio abrigava escritórios, muitos deles ocupados pelo Crefisul na época do incêndio. As salas eram separadas por divisórias, possuíam carpetes, móveis de madeira e cortinas de tecido, elementos que contribuíram para a rápida propagação do fogo.
Sobreviventes Compartilham Seus Relatos
Hiroshi Shimuta, que na época tinha 80 anos, estava no 22º andar quando o incêndio começou. Ele relembra o momento em que recebeu a notícia do fogo e a angústia de não poder estar com seus gêmeos recém-nascidos, que haviam nascido prematuros. Shimuta sobreviveu ao incêndio, enfrentando momentos de aflição e esperança enquanto aguardava o resgate.
Empresário Hiroshi Shimuta sobrevivente do incêndio do Edifício Joelma.
Mauro Ligere Filho, que trabalhava no Citibank, também estava no prédio naquele dia fatídico. Ele compartilha como ele e outros sobreviventes se viram cercados pelas chamas e como tiveram que pular para o parapeito para sobreviver. As memórias daquele dia continuam a assombrá-lo, deixando cicatrizes emocionais que se manifestaram em uma síndrome do pânico anos depois.
Mauro Ligere esperou com um grupo mais de cinco horas pelo resgate.
Responsabilização e Impacto Duradouro
Após o incêndio, uma batalha pelo reconhecimento da responsabilidade do Crefisul na tragédia começou. O banco inicialmente indenizou alguns sobreviventes, alegando que era suficiente. No entanto, as famílias das vítimas enfrentaram uma luta de cinco anos, que chegou ao Supremo Tribunal Federal, antes de finalmente receberem indenizações após uma década de idas e vindas legais.
Pelo lado criminal, cinco pessoas foram responsabilizadas pelo incêndio, mas não cumpriram pena de prisão efetiva.
As memórias do incêndio no Edifício Joelma permanecem vívidas na mente dos sobreviventes. As cicatrizes físicas e emocionais continuam a afetar aqueles que testemunharam essa tragédia que marcou profundamente São Paulo. Embora o país nunca tenha prestado homenagens adequadas às vítimas, as lembranças daquele dia trágico são eternas para aqueles que sobreviveram.