Viajar pela Itália é como percorrer um museu a céu aberto, onde cada ruela, praça ou fachada carrega séculos de história, beleza e significado. Mas seria um erro pensar que a essência do país se resume às capitais do turismo europeu. Há uma Itália plural, surpreendente e muitas vezes pouco explorada por quem busca mais do que selfies em pontos turísticos famosos. Uma Itália onde o tempo desacelera, o olhar se encanta, e os sentidos agradecem.
Neste artigo, selecionamos cinco cidades que, cada uma a seu modo, representam o melhor da experiência italiana. Elas oferecem muito mais do que monumentos: oferecem atmosfera. São destinos que combinam charme histórico, vitalidade contemporânea e aquele toque inconfundível de arte de viver. Prepare sua taça de vinho imaginária, ajuste os sentidos e embarque nesta viagem jornalística por cinco destinos italianos que merecem estar na sua lista — e no seu coração.
1. Florença: o berço do Renascimento e da estética que moldou o Ocidente
Florença não é apenas uma cidade — é uma aula viva de arte, arquitetura e humanismo. Situada na região da Toscana, ela foi o berço do Renascimento, período que revolucionou o pensamento ocidental. Caminhar por suas ruas é pisar sobre as mesmas pedras que um dia receberam Michelangelo, Dante, Leonardo da Vinci e Galileu. No centro histórico, tombado pela Unesco, a cada esquina há uma obra-prima em forma de palácio, ponte ou igreja.
A Catedral de Santa Maria del Fiore, com sua icônica cúpula de Brunelleschi, domina a paisagem urbana. A Galleria degli Uffizi abriga obras de Botticelli, Caravaggio e Rafael. E a Ponte Vecchio, com suas joalherias centenárias, é um cartão-postal que ganha vida ao entardecer. Mas Florença também pulsa no presente: cafés literários, trattorias aconchegantes e livrarias antigas resistem entre boutiques de alta moda.
O charme florentino é sentir-se parte de algo atemporal. É observar o pôr do sol às margens do Rio Arno, ouvir um concerto de música clássica numa igreja barroca ou provar um Chianti artesanal num vilarejo vizinho. Florença é para quem sabe que beleza é mais do que aparência — é construção cultural.
2. Veneza: o labirinto líquido onde o tempo caminha sobre a água
Veneza é única, impossível de ser comparada. Construída sobre um arquipélago de 118 ilhas conectadas por canais e pontes, é uma cidade que desafia a lógica urbana — e talvez por isso seja tão mágica. Não há tráfego de carros, e os sons das gôndolas, dos passos e da água tocando as pedras criam uma trilha sonora onírica.
Seu passado como república marítima poderosa se revela nas suntuosas construções ao redor da Piazza San Marco, como a Basílica de San Marco e o imponente Palácio Ducal. Os museus e palácios narram a glória de séculos de comércio, arte e diplomacia. E o Gran Canal, com seu movimento elegante de vaporettos e gôndolas, é a espinha dorsal de uma cidade feita para ser admirada lentamente.
Mas o que realmente fascina em Veneza são os detalhes. Os reflexos coloridos nas águas, os becos que terminam em silêncio, as máscaras venezianas que contam histórias de bailes proibidos. E, claro, os sabores: o risoto de frutos do mar, o prosecco local e o tradicional cicchetti — pequenas porções servidas com vinho — fazem da experiência algo sensorial e profundamente autêntico.
3. Bologna: onde a comida fala e o saber ecoa
Se Florença é a cidade da arte, Bolonha é a cidade do conhecimento e do sabor. Sede da universidade mais antiga do mundo ocidental (fundada em 1088), ela respira intelecto, mas também exala aromas irresistíveis de massas frescas, embutidos e queijos. É impossível andar por suas arcadas — são mais de 40 km de pórticos — sem esbarrar em uma livraria, uma delicatessen ou uma trattoria tradicional.
Bologna é chamada de “La Dotta, La Grassa e La Rossa” — a sábia (pela universidade), a gorda (pela culinária) e a vermelha (pela arquitetura e história política). Visitar o Mercato di Mezzo é mergulhar numa profusão de cores e sabores, com produtos locais como o tortellini, a mortadela e o ragu alla bolognese — o verdadeiro molho bolonhesa.
Mas há também torres medievais que desafiam o horizonte, igrejas de tijolos escuros com afrescos escondidos e uma vida noturna animada por estudantes do mundo todo. Bologna encanta quem gosta de cultura viva, comida honesta e conversas profundas em mesas fartas.
4. Verona: onde o amor ainda ressoa nas pedras
Imortalizada por Shakespeare em “Romeu e Julieta”, Verona vai além do mito literário. Sim, a famosa Casa de Julieta, com sua varanda e o muro repleto de bilhetes apaixonados, é ponto obrigatório — mas Verona é muito mais. É uma cidade onde ruínas romanas, palácios renascentistas e ruas medievais convivem com harmonia impressionante.
Seu anfiteatro romano, a Arena de Verona, ainda hoje recebe óperas a céu aberto com uma acústica arrebatadora. A Piazza delle Erbe, com sua feira vibrante e arquitetura veneziana, é o coração pulsante da cidade. E as margens do Rio Ádige oferecem passeios românticos com vistas inesquecíveis.
Verona é uma cidade que convida a desacelerar. Seja em um café ao ar livre, numa loja de antiguidades escondida ou durante uma caminhada pelas muralhas, tudo nela parece envolver o visitante em uma atmosfera suave, quase cinematográfica. É o destino ideal para quem acredita que o amor, mesmo em tempos modernos, ainda pode ser vivido com poesia.
5. Matera: o passado esculpido em pedra viva
Pouco conhecida até recentemente, Matera, no sul da Itália, é um dos lugares mais impressionantes e surpreendentes do país. Eleita Capital Europeia da Cultura em 2019, ela abriga os Sassi, um conjunto de casas escavadas em rochas calcárias, habitadas desde o período paleolítico. Caminhar por suas ruelas escavadas é como entrar num filme bíblico — não à toa, Matera foi cenário de diversas produções cinematográficas.
Até meados do século XX, os Sassi eram considerados símbolo de miséria e abandono. Hoje, transformados em hotéis-boutique, restaurantes e museus, tornaram-se um exemplo de revalorização do patrimônio. A cidade respira autenticidade, com vistas deslumbrantes para cânions e igrejas rupestres decoradas com afrescos medievais.
Matera é para quem busca o diferente, o ancestral, o inesquecível. É uma cidade que desafia noções de tempo e espaço, onde passado e presente se fundem com rara beleza.
Itália além do óbvio, com alma e profundidade
A Itália é muito mais do que um destino turístico — é uma experiência estética, histórica e emocional. E embora cidades como Roma, Milão e Nápoles continuem encantando multidões, há uma riqueza imensa em explorar outros lugares que carregam histórias densas, culturas vibrantes e atmosferas únicas. Florença, Veneza, Bologna, Verona e Matera são apenas cinco exemplos de como a viagem pode se tornar mergulho — e não apenas passeio.
Nessas cidades, o tempo não é uma linha reta. Ele dobra, ecoa, reaparece nas fachadas, nas receitas, nas lendas. Viajar por elas é permitir-se ser atravessado por séculos de arte, fé, sabor e beleza. E ao voltar para casa, talvez o viajante perceba que algo mudou. Porque a Itália, quando vivida com atenção e curiosidade, não se esquece jamais.
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Formada em técnico em administração, Nicolle Prado de Camargo Leão Correia é especialista na produção de conteúdo relacionado a assuntos variados, curiosidades, gastronomia, natureza e qualidade de vida.