4 mil fragmentos de murais romanos são descobertos na Espanha

A arqueologia tem o poder único de nos reconectar com civilizações que pareciam sepultadas pelo tempo. E foi exatamente isso que aconteceu em Villajoyosa, na Espanha, onde uma equipe de pesquisadores revelou mais de 4.000 fragmentos de murais do século 2 d.C., oferecendo um vislumbre raro do cotidiano e da estética das elites romanas durante o reinado do imperador Trajano.

O que os murais romanos encontrados nos contam

Os fragmentos recuperados revelam muito mais do que simples decoração — são peças de um quebra-cabeça cultural que retrata o status social, os hábitos e o refinamento dos habitantes da região há quase dois mil anos. A escavação cobriu uma área de 842 metros quadrados, revelando que o local não era apenas um centro de atividades industriais, mas também continha um sofisticado complexo residencial. O espaço incluía um pátio amplo, jardins ornamentados, colunas e diversos cômodos organizados em torno da vida doméstica de uma família romana de alta classe.

As cores e formas que resistiram ao tempo

Entre as ruínas, os arqueólogos identificaram centenas de paredes de argila que desabaram e, no colapso, protegeram fragmentos valiosos de pinturas murais. Esses pedaços foram numerados, fotografados e catalogados pela equipe de conservação, que agora trabalha minuciosamente na reconstrução das imagens originais. Até o momento, 22 seções já foram parcialmente remontadas a partir de 866 fragmentos encontrados em uma mesma área do colapso.

Os painéis revelam um repertório visual característico do segundo século: guirlandas de folhas e flores entrelaçadas com pássaros, molduras ornamentais bem definidas e técnicas refinadas de pintura mural. A precisão dos detalhes impressiona até mesmo os mais experientes restauradores, sugerindo que artistas especializados foram contratados para decorar os ambientes internos da vila.

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4 mil fragmentos de murais romanos são descobertos na Espanha
Foto: Vilamuseu

O esplendor arquitetônico da vila romana em Villajoyosa

Além dos murais, os pesquisadores encontraram restos de estuques curvos utilizados na imitação de colunas caneladas, uma técnica comum na arquitetura romana que imitava colunas esculpidas com ondulações verticais. Essa estrutura estava presente principalmente ao redor dos jardins internos, sustentando pórticos e coberturas que formavam uma área de convivência sombreada — típico de construções da elite romana.

A disposição dos ambientes e os detalhes decorativos apontam para um projeto arquitetônico sofisticado e influenciado pelo gosto estético da época de Trajano, um dos imperadores mais admirados de Roma, conhecido por sua gestão expansionista e por promover grandes obras públicas.

Vilamuseu e a divulgação desse achado monumental

A divulgação oficial do achado foi feita pelo Vilamuseu, o museu arqueológico da cidade de Villajoyosa, que acompanha e preserva os vestígios da ocupação romana na região. A instituição também planeja exibir os fragmentos restaurados em exposições futuras, com o objetivo de compartilhar com o público esse tesouro histórico que, até pouco tempo, estava completamente oculto sob o solo.

Com esse esforço, o museu reforça seu papel como elo entre passado e presente, mostrando como o trabalho arqueológico contribui para resgatar narrativas apagadas pelo tempo e valorizando o patrimônio histórico espanhol — que, neste caso, guarda uma herança romana de valor inestimável.

O Império Romano como nunca vimos

Esse achado em Villajoyosa nos lembra de que, por trás dos grandes feitos militares e políticos do Império Romano, havia uma vida cotidiana rica em beleza e significado. As decorações não eram apenas estéticas — elas expressavam poder, identidade e cultura. Observar esses murais, mesmo em fragmentos, é como ler um capítulo perdido da história, onde cada cor, forma e traço narra uma história de luxo, domínio artístico e sofisticação.

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Conclusão

A descoberta dos murais em Barberes Sud é uma dessas raras oportunidades de reencontro com o passado. Cada fragmento é uma pequena cápsula do tempo, carregando pigmentos, formas e símbolos que falam com clareza sobre uma sociedade que valorizava a beleza e a arquitetura como parte essencial da vida. Com a ajuda de arqueólogos dedicados, esses vestígios voltam à luz e nos permitem ver, com novos olhos, o esplendor silencioso da Roma antiga, preservado em cada pedaço de argila decorada.